terça-feira, 18 de dezembro de 2007

On not winning the Nobel Prize

Doris LessingPor motivos de saúde Doris Lessing não compareceu à sessão solene de entrega dos Prémios Nobel de 2007, realizada em Estocolmo na passada segunda-feira, dia 10 de Dezembro. No entanto, a escritora britânica, nascida em 1919 na antiga Pérsia, enviou a prelecção (ou oração de sapiência) Nobel, parte integrante e indispensável do ritual dos galardões desde a sua fundação em 1901.
A prelecção de Lessing intitula-se “On not winning the Nobel Prize”, disponibilizada a 7 de Dezembro.
Sou franco, nunca li um livro de Doris Lessing, apesar de, a priori, lhe conhecer alguns dos seus traços biográficos mais marcantes – facto que, essencialmente, ficou a dever-se ao seu rutilante activismo literário –, conhecimento que aprofundei após a entrega do galardão no passado dia 11 de Outubro.
Li o texto, e lembrei-me da prelecção de Auster proferida a 23 de Outubro do ano passado na sessão de atribuição do Prémio Príncipe das Astúrias para as Letras de 2006, quando refere «Que sentido tem a arte, em particular a arte de contar histórias, no tal mundo real? Nenhum que me ocorra agora – pelo menos num sentido prático da coisa. Um livro nunca encheu o estômago de uma criança faminta.» (texto na íntegra,
traduzido por mim e publicado neste blogue em jeito de comemoração no dia em que Paul Benjamin Auster completou 60 anos).
Lessing pega no mesmo tema, introduz-lhe o sabor das histórias que povoaram o seu imaginário em terras africanas*, e, no seu final, narra a fabulosa história ficcionada de uma rapariga negra que, no meio da miséria provocada por um longo período de seca em África, enquanto aguarda numa fila de espera, ao pó e com os seus dois filhos pendurados nas suas vestes, para que um indiano lhe encha de água a vasilha que transporta, lê extasiada um fragmento de Anna Karénina de Tolstói... E de onde veio esse fragmento? Um simples pedaço de uma obra-prima da literatura universal poderá mudar uma vida?

Ler
aqui (em inglês) a excepcional e comovente prelecção de Lessing. A ela, à autora, prometo que irei voltar sob a forma da narrativa longa (vencida a barreira...)

Nota: *Lessing, no decurso do texto, aconselha os jovens escritores a não desistir perante a voracidade mediática do mercado literário nos tempos que correm, e diz:

«E nós, os velhos, apetece-nos sussurrar nesses ouvidos inocentes. “Ainda manténs o teu espaço? O teu solo, o teu lugar único e essencial onde as tuas próprias vozes te poderão falar, a ti sozinho, onde poderás sonhar. Oh, agarra-te a isso, não o deixes escapar.”» Doris Lessing, On not winning the Nobel Prize. Stockholm: Nobel Lecture, December 7, 2007. [tradução livre: AMC]

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