sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Do portuguesito

A Pianista - Isabelle HuppertArrivista, chineludo, fato-de-treinista militante. Adora chopingues aos domingos e de altas transgressões testosterónico-suicidárias na estrada. Detém a marcha, com uma pressão brusca do pé direito no pedal do meio, quando enxerga um acidente, de preferência com estropiados e miolos de fora. Usufrui de telemóvel topo de gama – a prestações em regime de usura creditícia – e adorna-o com uma estrídula polifonia noveleira. Frequentador de borlas à laia feijoadística, idolatra vipes dengosos, chungosos e borlistas de enésima categoria. Treslê jornais escandaleiros e atém-se, com zelo, dos prognósticos astrológicos e da secção de cartas ao consultório sexual – sentei-me na retrete, será que estou grávida? É assim…emprenha pelos ouvidos e lê no Verão MRP®. Comprou ou fotocopiou de um comparsa o livro Eu, Carolina ufanamente convencido da sua gigantesca superioridade literária em relação a Eu, Cláudio de Graves porque detesta a coreografia gesticular efeminada do Cláudio Ramos. É um sórdido não confessional e emprenha pelos ouvidos… já disse?

«2. Relax. Mensagens.
MÃE+FILHA. Em dose dupla, eu faço oral última gotinha! Ela dá-te o rabinho! Show lésbico 100% real. Prç Espanha.» (pág. 159)

«MÃE + FILHA voltaram à carga. Desta vez oferecem show de babar
.
De
babar
? Mas isto está a regredir para aonde?
Verdade seja que não há sexo sem regressão, mas
babar
diante do incesto lésbico?
Até o horror e o escândalo se tornam suspeitos. Para a mente porca, sempre à caça de detritos, tudo pode ser o seu contrário.
» (pp. 200-201) [destaque e sublinhado meus]
Maria Velho da Costa, O Livro do Meio

Como eu a compreendo, MVC.

Referência bibliográfica
Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa, O Livro do Meio. Lisboa: Caminho, 1.ª edição, Novembro de 2006, 412 pp.

2 comentários:

Anónimo disse...

Diria mesmo, André: somos isso tudo e muito menos. Mas se assim não fosse, a vida seria menos divertida, ou não?

Anónimo disse...

Em boa verdade o dizes (asserção de laivos evangélicos), meu caro Sérgio.
Ai de nós, se todos gostássemos do azul...!