quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Anotações e Transcrições – 4

É a isto que se chama amor entre homens, in litteris? Não me interpretem mal. Embora, mesmo que o façam, não deixarei de ser quem sou: um lisonjeador quando a lisonja se me afigura justa e propositada. Desembaraço-me bem dos vitupérios rotuladores.

Este texto do Pedro Correia, sobre o imortal filme de Curtiz – o qual sito no pináculo da excelência da sétima arte – merece ser lido e relido. O Pedro termina assim citando Sophia – mais uma razão para a sua referência – sobre a dolorosa e aparente desistência de Rick Blaine:

«Rick assim faz. Entre o amor sem sombra de liberdade e a liberdade sem garantia de amor, optou por esta. Como se conhecesse os belíssimos versos de Sophia: “Terror de te amar num sítio tão frágil como o Mundo. / Mal de te amar neste lugar de imperfeição / Onde tudo nos quebra e emudece / Onde tudo nos mente e separa.
Esta é talvez a maior lição que aprendemos em Casablanca: o verdadeiro amor é sinónimo absoluto de verdadeira liberdade.
»



O que me inquieta em Casablanca – e talvez não devesse inquietar – é o futuro: a dor da separação e/ou do remorso.

Se ao dilema – ia dizer trade-off, mas o meu “id” diletante não deixou, a presa passou a caçador – amor/liberdade juntarmos a morte, Rick e Ilse optariam por esta, pressupondo a imortalidade da alma? Ou esta aparente opção pela coexistência fisicamente distante transformar-se-á, num futuro muito próximo, no implacável patíbulo pelas suas existências torturadas?

Sobre o amor e a morte, ler o brilhante ensaio de Patrick Süskind com o mesmo nome – publicado pela primeira vez em Portugal pela Editorial Presença em Novembro deste ano.
Süskind dá rédea solta às suas genialidade e fina ironia: Eros e Tanatos; Kleist e Goethe e o seu Werther; Tristão e Isolda, de Wagner; e a mais deliciosa das confrontações – entrará certa e directamente para o ideário das parelhas impossíveis: Jesus Cristo e Orfeu.

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