Filha de Ícaro, rei de Esparta, e de uma náiade, Penélope é literalmente conquistada pelo herói das pernas curtas, Ulisses, tinha a tenra idade de quinze anos, com quem chega a casar.
Vivia atormentada pela presença de sua prima Helena – sim, isso mesmo, a de Tróia –, produto de um encontro fortuito, a roçar o estupro, de Zeus – disfarçado de cisne – com a sua mãe Leda, cuja beleza estonteava quem dela se aproximasse, ofuscando assim os potenciais dotes da prima menos bela, porém mais cerebral e detentora, por excelência, das distintivas sagacidade e ousadia femininas. Helena, casada com Menelau, foi a grande protagonista na eclosão da famosa guerra de Tróia, já que Páris, filho de Príamo – rei de Tróia –, a raptou, levando à invasão do território pelos gregos sedentos de vingança. Depois Aquiles… Bom, entraríamos na Ilíada e aqui interessa-nos a Odisseia, que, como se sabe, são ambas obras de Homero.
Após o casamento, Penélope parte para Ítaca, território governado por Laertes casado com Anticleia, pais de Ulisses, embora se dissesse à boca pequena que o verdadeiro pai de Ulisses era o ardiloso Sísifo após um encontro resvaladiço entre este e a horrenda Anticleia – no entanto, dados os atributos da senhora, seria pouco provável fazer fé em tão estranho dito, como afiança a nora. Assim, Penélope fixada em Ítaca, esperará vinte anos pelo regresso do seu amado Ulisses, não sem antes dar à luz o filho de ambos, chamado Telémaco, que viu o pai partir ao primeiro ano de idade.
Vivia atormentada pela presença de sua prima Helena – sim, isso mesmo, a de Tróia –, produto de um encontro fortuito, a roçar o estupro, de Zeus – disfarçado de cisne – com a sua mãe Leda, cuja beleza estonteava quem dela se aproximasse, ofuscando assim os potenciais dotes da prima menos bela, porém mais cerebral e detentora, por excelência, das distintivas sagacidade e ousadia femininas. Helena, casada com Menelau, foi a grande protagonista na eclosão da famosa guerra de Tróia, já que Páris, filho de Príamo – rei de Tróia –, a raptou, levando à invasão do território pelos gregos sedentos de vingança. Depois Aquiles… Bom, entraríamos na Ilíada e aqui interessa-nos a Odisseia, que, como se sabe, são ambas obras de Homero.
Após o casamento, Penélope parte para Ítaca, território governado por Laertes casado com Anticleia, pais de Ulisses, embora se dissesse à boca pequena que o verdadeiro pai de Ulisses era o ardiloso Sísifo após um encontro resvaladiço entre este e a horrenda Anticleia – no entanto, dados os atributos da senhora, seria pouco provável fazer fé em tão estranho dito, como afiança a nora. Assim, Penélope fixada em Ítaca, esperará vinte anos pelo regresso do seu amado Ulisses, não sem antes dar à luz o filho de ambos, chamado Telémaco, que viu o pai partir ao primeiro ano de idade.
Entrementes, Penélope tecerá a mortalha com que ludibriará os denominados Pretendentes e atiçará os dotes de lubricidade das suas doze servas contra essa horda de aspirantes a consorte que se ia avolumando à medida que parecia certo o não regresso do marido guerreiro. No final desses vintes anos, com a sogra morta e o sogro doido errando pelos campos, ainda suportará a altivez de Euricleia – a outrora ama de Ulisses – e, com o passar dos anos, os crescentes machismo, arrogância e desmandos do seu próprio filho, Telémaco. E todo este sofrimento pelos tais desvarios de uma prima leviana que preferiu quedar-se com o raptor Páris a regressar aos seus Reino, família e marido.
No ocaso da narrativa, a mortandade é por de mais conhecida do público: ocorre um verdadeiro massacre em Ítaca perpetrado pela dupla Ulisses e Telémaco, sob o pretexto da vingança pela desonra reiterada da mulher e mãe, respectivamente.
Serve o presente texto para evidenciar a efabulação de uma canadiana – que não muleta – de nome Margaret, cuja veia inspirará certamente o mitómano mais ou menos empedernido, ou como se sói dizer, o amante da Arcádia, espécie que por terras de Portugal prolifera neste início de século.
Apelando eventualmente a poderes que, decerto, não pertencem ao mundo dos vivos, ou talvez ao espírito fraco dos não iniciados, Ms. Atwood – o apelido da dita Margaret – resolveu interpretar mediunicamente os pensamentos, milenarmente consolidados, da mais estóica das damas da antiguidade clássica em terrenos helénicos.
Se a história resultou da estruturada memória lírica da reputada escritora ou se esta se constituiu com um mero veículo de transmissão daquela nas profundezas do Hades, não cabe ao leitor especular. A obra existe, foi publicada e foi-nos apresentada com esta configuração, independentemente da irreprimível voracidade probatória do leitor perante os factos relatados.
A obra é simples, honesta, de contornos feéricos – não fosse a mitologia grega a sua matéria-prima –, apesar de ostentar um carácter eminentemente especulativo.
Serve agora isto para felicitar a Editorial Teorema [ainda sem página na Internet, tal como a fidalga editora que se diz a maior de terras lusas] pela qualidade das obras que publica. Por outro lado, demonstra-se à saciedade que uma mulher ferida por vinte anos de ausência do seu marido, não só o manteve como o único objecto do seu amor, como também não cedeu à cupidez mercantilista que se traduz em satisfazer a avidez voyeurista de uma chusma de pelintras, escassamente letrados.
Esta felicitação seria certamente despicienda e verdadeiramente inútil, acaso não preponderassem a estultícia e a descoroçoante frivolidade na sociedade portuguesa de hoje, que, em razão de um sentimento revanchista e de uma completa ignorância do comportamento a adoptar enquanto actores de uma sociedade que se diz democrática – vale, ao menos, o argumentário dos 48 anos de ditadura, seguidos de ano e meio de desvario revolucionário como desculpa – exigem uma justiça sem critério e a condenação pura e simples dos seus pares que, sem direito ao contraditório, caem de encontro à maré que os fazedores de rebanhos vão alteando, qual tsunami esmagando o inimigo público contra as rochas da culpa aprioristicamente formada.
A ler.
Referência bibliográfica
Margaret Atwood, A Odisseia de Penélope. Lisboa: Teorema, 1.ª edição, Setembro de 2006, 202 pp. (tradução de Paula Reis; obra original: The Penelopiad, 2005).
Serve o presente texto para evidenciar a efabulação de uma canadiana – que não muleta – de nome Margaret, cuja veia inspirará certamente o mitómano mais ou menos empedernido, ou como se sói dizer, o amante da Arcádia, espécie que por terras de Portugal prolifera neste início de século.
Apelando eventualmente a poderes que, decerto, não pertencem ao mundo dos vivos, ou talvez ao espírito fraco dos não iniciados, Ms. Atwood – o apelido da dita Margaret – resolveu interpretar mediunicamente os pensamentos, milenarmente consolidados, da mais estóica das damas da antiguidade clássica em terrenos helénicos.
Se a história resultou da estruturada memória lírica da reputada escritora ou se esta se constituiu com um mero veículo de transmissão daquela nas profundezas do Hades, não cabe ao leitor especular. A obra existe, foi publicada e foi-nos apresentada com esta configuração, independentemente da irreprimível voracidade probatória do leitor perante os factos relatados.
A obra é simples, honesta, de contornos feéricos – não fosse a mitologia grega a sua matéria-prima –, apesar de ostentar um carácter eminentemente especulativo.
Serve agora isto para felicitar a Editorial Teorema [ainda sem página na Internet, tal como a fidalga editora que se diz a maior de terras lusas] pela qualidade das obras que publica. Por outro lado, demonstra-se à saciedade que uma mulher ferida por vinte anos de ausência do seu marido, não só o manteve como o único objecto do seu amor, como também não cedeu à cupidez mercantilista que se traduz em satisfazer a avidez voyeurista de uma chusma de pelintras, escassamente letrados.
Esta felicitação seria certamente despicienda e verdadeiramente inútil, acaso não preponderassem a estultícia e a descoroçoante frivolidade na sociedade portuguesa de hoje, que, em razão de um sentimento revanchista e de uma completa ignorância do comportamento a adoptar enquanto actores de uma sociedade que se diz democrática – vale, ao menos, o argumentário dos 48 anos de ditadura, seguidos de ano e meio de desvario revolucionário como desculpa – exigem uma justiça sem critério e a condenação pura e simples dos seus pares que, sem direito ao contraditório, caem de encontro à maré que os fazedores de rebanhos vão alteando, qual tsunami esmagando o inimigo público contra as rochas da culpa aprioristicamente formada.
A ler.
Referência bibliográfica
Margaret Atwood, A Odisseia de Penélope. Lisboa: Teorema, 1.ª edição, Setembro de 2006, 202 pp. (tradução de Paula Reis; obra original: The Penelopiad, 2005).
Sem comentários:
Enviar um comentário