Lisboetizando-me, trata-se daquelas carregadas de cevada, a cheirar a fermentação e a um insistente processo de levedação, alcoolicamente proibitivas, denunciadas pelo cheiro a benzina, pela dor de cabeça latejante e o inevitável vómito biliar que se nos apresenta de forma eruptiva no dia seguinte.
É assim o último romance do chavalo BEE da cidade dos anjos que resolveu repescar o seu sucesso de há 25 anos e escrever no mesmo estilo incipiente e cadavérico, perdoável, e até honorável, num jovem de vinte anos que se atirou de cabeça no mundo literário para contar as suas vacuidades burgueso-criminosas sob a forma de pseudónimos e sexos trocados, todavia inadmissível num jovem de 46 anos que não aprendeu a lidar com os seus traumas.
Mas se a história é deploravelmente enjoativa, a sua tradução para a nossa língua é repulsiva. Não há página, entre as 177, com letra de tamanho 12 e espaço e meio entre linhas, que não tenha o seu erro de palmatória em língua portuguesa. É o advérbio “demais” usado e abusado quando se pretende referir o excesso de alguma coisa; é o verbo “haver”, impessoal na sua acepção de “existir”, apresentando nesta situação formas verbais em todas as pessoas do singular ao plural; é a inconsistência no uso do “porque” e do “por que”, já de si uma fonte de polémica entre linguistas nacionais; é a terceira pessoa do presente do indicativo do verbo “vir” – “vêm” – substituída, quiçá por problema oftalmológico do tradutor, por “vêem”; são às dezenas as passagens de discurso directo ao indirecto que estão por assinalar devidamente pelo escolhido travessão, ou então, são incontáveis as vezes em que os diálogos são todos processados num só parágrafo, numa orgia gráfica entre “vírgulas”, “pontos finais” e “travessões” que fariam corar o José Castelo Branco, até pela terceira via de “género”; e, parafraseando este último, até é fino que apareça “New York” ao invés da forma portuguesa da Grande Maçã, “Nova Iorque”; mas depois vem o “112” em vez do “911”, o que é admissível, no entanto incoerente, e mesmo aviltante, quando se traduz a referência do narrador na página 114 que esteve “à porta do ER em Cedars-Sinai” (pág. 114) – o “ER” são as “urgências” e o “Cedars-Sinai” o famosíssimo hospital-universidade de Los Angeles, e não uma sala VIP de um clube nocturno exclusivo de Hollywood.
Um Nausef. E pronto. Acabei de tomar um antiemético muito conhecido sem nada receber por isso, nem uma viagem a um importante congresso à República Dominicana.
Referência bibliográfica
Bret Easton Ellis, Quartos Imperiais. Lisboa: Teorema, Agosto de 2010, 177 pp. Tradução de José Luís Luna, com revisão de José Costa; obra original: Imperial Bedrooms, 2010.
Bret Easton Ellis, Quartos Imperiais. Lisboa: Teorema, Agosto de 2010, 177 pp. Tradução de José Luís Luna, com revisão de José Costa; obra original: Imperial Bedrooms, 2010.