quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Começou com o Porque, continuou com o In Absentia e em princípio acabará com o inabalável Nunca Mais. Todos se inspiraram em Sophia, ostentando diferentes epígrafes, que revelaram os meus estados de alma no momento inaugural de cada espaço de divagação.
Evolução temporal e alguns dados estatísticos (fonte: Sitemeter):
  • Porque, criado a 17 de Dezembro de 2005, encerrado a 23 de Setembro de 2006. Foram publicados 535 textos e contou com 33.862 visitantes (45.123 de páginas visitadas). Poema de Sophia: “Porque”; epígrafe de Bernardo Soares (Pessoa), Livro do Desassossego: «Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez.»
  • In Absentia, criado a 2 de Dezembro de 2006, encerrado a 6 de Abril de 2008. Foram publicados 457 textos e contou com 43.649 visitantes (57.817 de páginas visitadas). Poema de Sophia: “Ausência”; epígrafe de Raymond Carver, do conto “Jerry, Molly e Sam”: «Ele ficou ali sentado. Pensou que, bem vistas as coisas, não se sentia muito mal com a sua consciência. O mundo estava cheio de cães. Havia cães e havia cães. Com alguns cães não havia nada a fazer.» (Sob a fina camada do título do blogue, pairou um alto-relevo dos primeiros versos do poema “The Fascination of What’s Difficult”, de William Butler Yeats.)
  • Nunca Mais, criado a 30 de Abril de 2008, sempre na iminência de encerrar. Foram publicados 302 textos, incluindo este, e contou com 30.386 visitantes (38.608 de páginas visitadas) até às 13 horas de hoje. Poema de Sophia: “Nunca Mais”; Epígrafe de Don DeLillo (verificou-se uma pausa para reflexão entre 24 de Fevereiro e 23 de Setembro deste ano)
  • Somatório dos hiatos temporais entre a criação e a extinção de blogues, e pausa para reflexão: 305 dias (70+24+211), em 1461 dias possíveis.
  • Dias de actividade: 1156
  • Número total de visitantes: 107.897 (141.548 de páginas visitadas)
E, assim, quis assinalar a passagem do quarto ano, recorrendo a uma espécie de tuning blogosférico para ilustrar a efeméride. E, porventura, através dos ensinamentos que logrei obter por esta experiência que se estendeu pelo último quadriénio, o tuning, pese embora o germanismo, seja a expressão efectiva para alguma da blogosfera dita de referência: muito espaventosa, munida de atavios de um deslumbramento ofuscante e que pungem o ouvido mais delicado por uma barulheira ensurdecedora, mas que apenas cobrem, dissimulam, a pobreza de espírito, a fraqueza intelectual e o arrivismo impetuoso dos escribas.
Não tenho dúvidas de que as generalizações são perigosas, porquanto atingem todos sem excepção, mas no lado direito deste texto suponho que existe uma lista bastante extensa daqueles que não incluo no grupo de tuning da blogosfera lusa – a esmagadora maioria ficou de fora dada a limitação humana do número de blogues que conheço.
Os restantes são aqueles que medem a blogosfera pelos amiguismos potencialmente ascensores ao Olimpo opinativo bem pago, e que se distinguem dos restantes porque ritualmente praticam o “deslincamento” – a arma de arremesso, o qualificativo de menosprezo em acção.
Era um prazer deslincar… A frase não é nova, foi devidamente profanada para servir o fim deste texto pirómano. A que temperatura ardem os blogues? Talvez à temperatura do sobreaquecimento neuronal perante algo que não se entende, ou que se julga entender como agente promotor do enfraquecimento da média qualitativa dos poucos blogues que surgem no arrolamento: tida como a fina-flor da blogosfera, carregada de uma erudição ímpar, que dá vontade de ostentar pelo aplauso que forçosamente advirá da criteriosa selecção que captou o sublime da opinião publicada em hipertexto.
No princípio fui banido do arrolamento de um blogue, cujo promotor se convenceu da sua eminência literária, guindado pela bajulação nauseante dos “delta menos”. Esse acto foi a faísca que fez disparar o lança-chamas do deslincamento: «I love the smell of napalm in the morning.» já dizia o Duvall. Enfim, o horror. O horror.
«You can either surf, or you can fight!»
Fight, fight, fight… Ladeiras, vales de lágrimas, lugares antinómicos e quejandos. Não se pode agradar a todos. E logo agora que o Technorati resolveu entrar de férias… por inabilidade dos seus programadores. «In a war there are many moments for compassion and tender action.» Mesmo seguindo o conrado-coppoliano “Kurtz”, aproveitando a alegoria para o “unlink back”my tender moment of joy between bloggers – há sempre um gosto amargo de fel, como cantava a Bethânia, em jeito de grito de alerta.
Enfim, avancemos. É tempo de comemoração, e acresce que atravessamos a quadra da paz e da harmonia fraterna entre os homens. O anúncio foi feito – 4 anos. Agradeço, antecipadamente, as centenas de mensagens de felicitações recebidas.
PS – obrigado ao construtor bávaro de Ingolstadt, pela utilização abusiva do emblema que há uns tempos simbolizou uma importante revolução tecnológica, aproveitada hoje para passear e ostentar as máquinas no asfalto liso das ruas das nossas cidades.