Vivo no presente, e os inexoráveis saltos e sobressaltos que o futuro traz a esta actualidade – que não é a mesma desde que comecei a escrever este texto vacilante, tal como a vontade de o acabar – obrigam-me a corrigir determinadas excitações incisivas perpetradas num passado recente, embora, muitas vezes – como é o caso –, não se revistam dessa qualidade de um paroxismo efervescente, mas de uma mais tranquila irritada constatação – a antinomia, tal como a idiotia, tem os seus malefícios; pelo sucedido peço perdão.
Bertrand, loja das Antas, por volta das 17 horas do dia de ontem. Corri os olhos pelo espectáculo multicor de capas, lombadas, brindes e cartazes sobredimensionados de autores ufanosos por ostentarem a sua prima do mestre-de-obras, com uma voracidade inaudita, sentindo o fôlego entrecortado, o coração em arritmia, a adrenalina a esvair-se como o pó pelas narinas sôfregas de Keith Richards, e detive-me na secção das “novidades” – acho que deverá estar próximo o futuro, que se fará anunciar por uma apocalíptica trombeta joanina, em que irei ver uma livraria com 500 metros quadrados de área útil cujas estantes apenas estarão forradas de novidades… saídas do prelo ontem, tal é a vertigem editorial nos dias que correm em Portugal. Encontrei-o. De capa azul celeste de fim de tarde outonal, eis o objecto para confirmação das minhas apreensões literárias. Abri a badana da contracapa e li:
Bertrand, loja das Antas, por volta das 17 horas do dia de ontem. Corri os olhos pelo espectáculo multicor de capas, lombadas, brindes e cartazes sobredimensionados de autores ufanosos por ostentarem a sua prima do mestre-de-obras, com uma voracidade inaudita, sentindo o fôlego entrecortado, o coração em arritmia, a adrenalina a esvair-se como o pó pelas narinas sôfregas de Keith Richards, e detive-me na secção das “novidades” – acho que deverá estar próximo o futuro, que se fará anunciar por uma apocalíptica trombeta joanina, em que irei ver uma livraria com 500 metros quadrados de área útil cujas estantes apenas estarão forradas de novidades… saídas do prelo ontem, tal é a vertigem editorial nos dias que correm em Portugal. Encontrei-o. De capa azul celeste de fim de tarde outonal, eis o objecto para confirmação das minhas apreensões literárias. Abri a badana da contracapa e li:
«A publicar: Submundo.» (Sextante Editora)
Mas não fiquei por aí. Também li a ficha técnica e verifiquei que a revisão literária mudou de género – impossibilidade física (esqueçam as cirurgias de reconversão) de coincidir com a de antanho.
Fechei os olhos. Suspirei. Voltei a abri-los. Necessitava, como de pão para a boca de um acto puramente masoquista, pungente como o cilício nas pernas roliças e peludas dos fiéis de São Josemaría Escrivá. Foi então que agarrei no último livro de Nicholas Sparks (exposto aos magotes, como se não houvesse amanhã) e li as primeiras frases… uma tontura, seguida de uma forte náusea deixaram-me à beira do precipício do achaque estético em público, soltando gritos à Castelo Branco – não o da Plácido e da Cadeia da Relação – o outro(a), o José… Tomei uma resolução, e à João Vieira Pinto, dei um passo em frente.
Fechei os olhos. Suspirei. Voltei a abri-los. Necessitava, como de pão para a boca de um acto puramente masoquista, pungente como o cilício nas pernas roliças e peludas dos fiéis de São Josemaría Escrivá. Foi então que agarrei no último livro de Nicholas Sparks (exposto aos magotes, como se não houvesse amanhã) e li as primeiras frases… uma tontura, seguida de uma forte náusea deixaram-me à beira do precipício do achaque estético em público, soltando gritos à Castelo Branco – não o da Plácido e da Cadeia da Relação – o outro(a), o José… Tomei uma resolução, e à João Vieira Pinto, dei um passo em frente.
Ponto final.