terça-feira, 10 de novembro de 2009

O inelutável caminho para a servidão

«Dêem-nos, por exemplo, mais independência, desamarrem-nos as mãos a todos, alarguem o campo das nossas actividades, abrandem a vigilância e nós… garanto-vos: a primeira coisa que faríamos seria voltar a pedir que nos vigiassem.»
Fiodor Dostoievski, Cadernos do Subterrâneo, p. 188
[Lisboa: Assírio & Alvim, Dezembro de 2000, 191 pp; tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra; obra original: Zapíski iz podpólia, 1864.]
Como Camus havia constatado, nunca se negando ao combate – palavras revividas na notável obra de Daniel –, referindo-se à abdicação dos homens perante a violência e o despotismo, evidenciada pelos que se comportam como espectadores bebendo as palavras sábias dos ilustres intelectuais. A tal inelutabilidade que uma vez postulada pelos segundos, conquista pelo comodismo a felicidade dos primeiros, deixando caminho aberto para a servidão que, no fim, pelo curso da história, é encarada como justa.
«Quaisquer que sejam as nossas imperfeições pessoais, a nobreza da nossa profissão radicará sempre em dois compromissos difíceis de manter: a recusa de mentir sobre o que se sabe e a resistência à opressão.»
Albert Camus, “Discursos da Suécia” (Prelecção Nobel, 10 de Dezembro de 1957), O Avesso e o Direito seguido de Discurso da Suécia, p. 85
[Lisboa: Livros do Brasil, Junho 2007, 119 pp; Tradução de Sousa Victorino; obras originais incluídas nesta compilação: L’Envers et l’endroit (1937); Discours de Suède (1958)]