Tinha apenas 17 anos. Assistia pela televisão, dominado por um fascínio, quase hipnótico, difícil de explicar, ao júbilo de milhões de alemães e de tantas outras pessoas vindas de todas as partes do mundo perante o derrube de um dos muros mais simbólicos da História mundial. Revi-me nas famosas palavras de JFK, proferidas apenas cinco meses e quatro dias antes de ser assassinado em Dallas, numa cidade cercada por um dos regimes políticos mais ignóbeis que o Homem conheceu.
Naquele frio dia de Novembro chorei pelo grito de liberdade de um povo oprimido e tiranizado que se exprimia em lágrimas de felicidade por cada batida que abria uma fenda no muro da vergonha. Tal como eles, também «Ich bin ein Berliner».
Naquele frio dia de Novembro chorei pelo grito de liberdade de um povo oprimido e tiranizado que se exprimia em lágrimas de felicidade por cada batida que abria uma fenda no muro da vergonha. Tal como eles, também «Ich bin ein Berliner».
Aquele beijo apaixonado entre dois tiranos do mundo moderno, representantes directos da ortodoxia estalinista, os filhos do monstro, é ainda admirado com uma nostalgia que não se consegue compreender, nem à luz da liberdade de expressão – esbarra com qualquer conceito de justiça, igualdade, humanismo, liberdade, integridade, dignidade da condição humana. E se agora me envergonho, não é pela falácia da comparação sobre a derrogação daqueles valores entre dois sistemas que em tempos se digladiaram, como meio de justificar o regresso do status quo pré-“9 de Novembro”. Se a minha cara se cobre de vergonha é em razão dos 446.994 portugueses, representados por 15 deputados (em 230) na Assembleia da República, que no passado dia 27 de Setembro ao exercer livremente o seu direito de voto – coisa impensável se a sua doutrina tivesse vingado no nosso país – se revêem nas palavras espúrias dos seus dirigentes sobres este acontecimento histórico.
Não me interessa o relativismo, as comparações e o revisionismo. Não interessa a história e o passo em frente. Mas o momento presente, vivido por milhões de pessoas como um valor absoluto de libertação.
Não me interessa o relativismo, as comparações e o revisionismo. Não interessa a história e o passo em frente. Mas o momento presente, vivido por milhões de pessoas como um valor absoluto de libertação.
«Há muita gente no mundo que realmente não compreende, ou dizem não compreender, qual é a grande divergência entre o mundo livre e o mundo comunista.
Deixem-nos vir a Berlim.
Há alguns que dizem que o comunismo é a vaga do futuro.
Deixem-nos vir a Berlim.
E há outros que dizem, na Europa ou noutro sítio qualquer, que nós podemos trabalhar com os comunistas.
Deixem-nos vir a Berlim.
E há ainda uns poucos que dizem que é verdade que o comunismo é um sistema perverso, mas permite-nos alcançar progresso económico.
Lasst sie nach Berlin kommen.
Deixem-nos vir a Berlim.»
Parte do discurso proferido por John Fitzgerald Kennedy, a 26 de Junho de 1963, em Berlim Ocidental [tradução livre: AMC, 2009]