De qualquer modo, apesar deste ligeiro protesto em tom de exultação na qualidade de admirador da obra, é bom que se diga em prol do rigor, que Ishiguro nunca foi um escritor prolífico. Desde 1982 com a publicação do seu primeiro romance As Colinas de Nagasáqui (A Pale View of Hills) apenas se lhe sucederam mais cinco até ao ano de 2005 (o último, Nunca Me Deixes), o que perfaz um período médio “entre publicações” de 4 anos, 7 meses e 6 dias. Assim, fazendo fé nos dados obtidos pela estatística descritiva, haverá novo romance lá para o final de 2009, início de 2010 – e isto, se as derivas de argumentista para o grande ecrã não atrasarem ainda mais a publicação de nova obra de ficção…
Da entrevista, a edição da Paris Review dá destaque a um excerto:
«Nunca senti que dispusesse de um talento particular para escrever uma prosa apelativa. Eu escrevo prosa quase mundana. Julgo que sou bom entre os rascunhos. Posso olhar para um rascunho e dispor de um sem-número de boas ideias para o que irei fazer com o próximo.» [tradução livre: AMC]
Há quem diga que a humildade é a pior forma de manifestação de orgulho. Sinceramente, não creio ser esse o caso, embora essa quase certeza não se baseie num conhecimento rigoroso, no espaço e no tempo, do grau de auto-estima do escritor anglo-nipónico, que até pode dar a ler os seus manuscritos ao canalizador Fortunato (peço desculpa, pela transição abrupta para outra dimensão da divagação literária; ou cinematográfica?) antes de os entregar ao seu editor. Admiro a simplicidade da sua prosa: Ishiguro tem o dom raro de expor as grandes ideias da sua obra através de um estilo de narrativa não artificioso, cuja desafectação linguística é a sua principal característica (entenda-se, por exemplo, em nada circunloquial, contemplativa, devaneante e exageradamente descritiva), sem jamais abdicar de algum esteticismo ou cair num minimalismo grosseiro, ou até numa leveza de linguagem de romance de venda directa, com promoção, em supermercado – convém recordar que Ishiguro teve em Angela Carter (1940-1992) a sua mentora e principal guia literária, assim como em Malcolm Bradbury (1932-2000) o mestre de iniciação aos estudos pós-graduados em Literatura na Universidade de East Anglia.
Notas:
* A série de entrevistas The Art of Fiction (adiante, por mera comodidade, designada pela sigla taof) iniciou-se com a fundação da revista em 1953, cabendo o privilégio inaugural, na qualidade de entrevistado a E.M. Forster (taof n.º 1), seguindo-se o autor francês, Nobel da Literatura em 1952, François Mauriac (taof n.º 2, Summer 1953) e o britânico Graham Greene (taof n.º 3, Autumn 1953). José Saramago foi o único português que teve honras de entrevista no referido periódico (taof n.º 155, n.º 149, Winter 1998), no ano em que venceu o Nobel da Literatura.
** Se houver uma alma caridosa que, na sua qualidade de assinante da dita revista, possua a versão integral digitalizada da entrevista… o meu endereço de e-mail está mesmo ali ao lado, no meu perfil – as bases de dados não a dispõem em texto completo desde o ano 2000.
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