sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Memórias de um Nazi

Enquanto uns vão descascando cebolas e outros apequenando as memórias, alguns, como Littell, vão discorrendo sobre as eventuais memórias dos cooperadores do III Reich. Todavia, ao passo que o romance daquele, As Benevolentes, já viu confirmada a sua edição em Portugal, o recentíssimo The Castle in the Forest de Norman Mailer – com estreia mundial marcada para a próxima terça-feira nos Estados Unidos – irá, decerto, penar nas teias economicistas e avarentas das editoras nacionais.

Para a posteridade, eis a abertura do novo romance de Mailer:

«Podem tratar-me por D. T. Este é o acrónimo para Dieter, um nome alemão, e D. T. ajusta-se perfeitamente, agora que vivo na América, a esta nação peculiar. Se eu aqui recorro às reservas de paciência, é porque aqui o tempo passa sem que isso signifique algo para mim, e esse é um estado susceptível de levar alguém a rebelar-se. Será esta a razão por que escrevo um livro? Eu e os meus antigos parceiros tínhamos de jurar que nunca nos serviríamos de tal expediente. Em suma, eu fui membro de um incomparável grupo de Serviços de Informação. A sua designação era SS, Secção Especial IV-2a, e encontrávamo-nos directamente sob a supervisão de Heinrich Himmler. Hoje, o homem é visto como um monstro e, de qualquer forma, não estou disposto a defendê-lo – verdadeiramente, ele revelou-se um monstro. No entanto, Himmler dispunha de uma mente original e uma das suas teses está na origem das minhas pretensões literárias, que, prometo, não serão nada vulgares.»
[tradução livre, AMC]
Norman Mailer, The Castle in the Forest. New York: Random House, January, 2007, 496 pp.

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