segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Cruzamentos

No sábado adquiri finalmente o último calhamaço de Haruki Murakami editado em Portugal pela Casa das Letras. São 632 páginas de letra miudinha que compõem o mais internacionalmente aclamado romance do autor japonês. Falo, é claro, de Crónica do Pássaro de Corda (1994).
O livro, com firme potencial para de súbito se transformar em arma branca, traz a inevitável cinta de propaganda na qual se lê uma única asserção curta e contundente atribuída ao periódico
The Observer:
«Um fantástico cruzamento entre Woody Allen e Franz Kafka».
Bem, só de pensar até arrepia. Já para nem falar na latente imagética necrófila que sobreveio à minha mente tortuosa.
O que significa cruzar Woody Allen com Kafka? Sairá uma vietnamita entomórfica – mais da estirpe de escaravelho e não de barata, profere assertivamente um lepidóptero reputado de apelido Nabokov –, gaga e psicótica que sofre de tísica?
Um dia trago o meu pai ao blogue – correndo, embora, o risco de lhe poder causar uma síncope cardíaca pela constatação das barbaridades que o filho escreve – e peço-lhe para explicar a cepa que eventualmente poderia sair numa boa enxertia de casta nova-iorquina com casta checa germanófila e qual o néctar daí resultante.
Cruzamento!? Ele há cada um...!

Quanto ao momento de início de leitura, prevejo que ocorra lá para o final do mês. Ainda não me recompus da decepção de Kafka à Beira-Mar (2002; ed. port. Casa das Letras, 2006) – apesar de recomendar a sua leitura – a anos-luz do excepcional Norwegian Wood (1987; ed. port. Civilização, 2004) e uns furos atrás do excelente Sputnik Meu Amor (1999; ed. port. Casa das Letras, 2005).

Até lá, à laia de passatempo, dedicar-me-ei a fazer mais uns cruzamentos, como por exemplo: o que daria William S. Burroughs com John Milton? Ou Virginia Woolf com Michel Houellebecq?

4 comentários:

Anónimo disse...

Estou a terminar a leitura deste Crónicas do Pássaro de Corda. Talvez por ter lido o Kafka à Beira-Mar em primeiro lugar destes quatro, tenha sido esse o livro que mais me agradou. Achei curioso teres dito decepção.

Anónimo disse...

Lá está, Fernando. Acho mesmo que se deve à cronologia da leitura. Quando li Kafka à Beira-Mar já havia lido os outros dois e talvez o meu nivel de expectativa estivesse de certa forma insuflado.
Não quero com isto dizer que não tenha gostado de Kafka à Beira-Mar.

Anónimo disse...

Murakami tem sido uma incrível descoberta. Li em primeiro lugar o Kafka à Beira-Mar e deixou-me fascinada, apesar de alguns incómodos com determinadas cenas de um universo mais fantástico. Norwegian Wood revelou outra face do autor, que me tinha levado a supor (erradamente) como seria o seu estilo de escrita. Cativou-me desta vez pela aparente simplicidade; enquanto Kafka à Beira-Mar me obrigava a estar nos meus bicos de pés em atenção, Norwegian Wood permitiu uma leitura mais descansada mas não por isso menos interessante.
Já comprei outros deles sem, no entanto, ainda não ter oportunidade de lhes dar uma vista de olhos. Vontade não falta.
Seja como for, tornei-me uma confessa admiradora da sua escrita.

:)

Boa leitura de Crónica do Pássaro de Corda! ;)

Beijo

Anónimo disse...

* sem ainda ter oportunidade (...)

peço desculpa pelo erro.