«– Mas eu queria dizer – sou um homem em pedaços, mutilado.
– Facilmente exasperado.
– Sabes bem como é. Sou oprimido, empurrado, atormentado, maçado, importunado, incomodado…
– Por quê? Pela consciência?
– Bom, por uma espécie de consciência. Não lhe tenho o respeito que tenho à minha consciência. É a parte pública de mim próprio. Vai até lá muito dentro. É o mundo interiorizado, em resumo é isso.»
Saul Bellow, Na Corda Bamba, pág.166
[Lisboa: Círculo de Leitores, 1.ª edição, Junho de 1977, 193 pp. (tradução de Maria Adélia Silva Melo; obra original: Dangling Man, 1944]
Não me convence. Nem nunca me convenceu, porque nunca o senti como um período de verdadeiro descanso. Não estou suficientemente longe de mim para apaziguar um espírito que se mortifica pela sua impiedosa imagem pública. Não preciso de férias. Necessito apenas que a liberdade que fui construindo para o meu eu me deixe, pelo menos, desfrutar da sensação de imponderabilidade, de anarquia – e que bem se emparelha este último com o termo “servidão”.
O isolamento, como ensaia DeLillo através da alusão de Bernhard a Glenn Gould (vide epígrafe deste blogue), cria instantaneamente essa ilusão de liberdade; efémera, desfaz-se como uma traça em pó depois de sovada, que, de forma cega e obstinada, vai dilacerando a nossa roupagem.
Assalta-me o terrível dilema bellowniano da liberdade individual frente às exigências do contrato social. Sou senhor de mim e sinto-me pouco grato por isso.
Reflectindo sobre os méritos alcançados (autodeterminação) pela minha forma de vida.
«Hurray for regular hours!
And for the supervision of the spirit!
Long live regimentation!»
Saul Bellow, Dangling Man
(New York: Penguin Books, October, 1996, p. 183)
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