segunda-feira, 19 de março de 2007

Literatura e o Mundo

Três pequenos apontamentos das relações, vulgarmente apontadas como perigosas, entre a arte literária e a política, ou a cultura como meio privilegiado para se reconquistar uma hegemonia que se perdeu.

Não é difícil de adivinhar com quem Gabriel García Márquez, o escritor colombiano semper fidelis,
resolveu comemorar o seu 80.º cumple años, fugindo dos que lhe deram a prerrogativa, através da merecida deificação da sua escrita, para cometer de forma livre estes desvarios, com um ligeiro aroma (não da goiaba, mas) da democracia professada mas não praticada. Democracia, esse conceito tão difuso e conformável às necessidades. Mas, não houve Ezra Pound, por um lado, e George Bernard Shaw, por outro? E tantos outros...

Formou-se um grupo de 44 escritores francófonos para a elaboração de um manifesto que exige uma mudança do centro geodésico da língua francesa, até hoje concentrada na Metrópole, para outros cantos do mundo onde se fala francês, como África e Caraíbas. No entanto, a chamada de atenção para os escritores francófonos fora do pentágono gaulês redunda, de forma cómica, em exemplos dessa descentralização na literatura de língua… inglesa! São apontados como exemplo a seguir nomes como Rushdie (nascido na Índia e naturalizado inglês), Ishiguro (nascido no Japão e naturalizado inglês) ou Ondaatje (nascido no Sri Lanka e naturalizado canadiano) e esquecem-se de referir quais os francófonos que poderiam ser a voz dessa mudança. Talvez eu, um lusófono não pertencente ao mundo das letras, proponha Houellebecq que nasceu na ilha de Reunião, escreve em francês e vive em Espanha; ou então a jovem esperança Jonathan Littell que, apesar de americano, vive em Espanha, casou com uma belga e publica em francês.

Finalmente, o escritor peruano Mario Vargas Llosa (meu colega de doutoramento… em matérias e épocas diferentes, porém no mesmo local) emite a sua opinião sobre a libertação de Ignacio de Juana e para o perigo de desmoronamento daquilo que o país conquistou com a denominada Transição Pacífica – que, acrescento, foi o factor que esteve na génese do contínuo afastamento do nosso país do vigor económico, social, tecnológico e cultural espanhol.

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