Começo o texto com a pergunta que faço sempre quando penso em, leio ou escrevo sobre Philip Roth: Srs. Membros da Academia Sueca, para quando o Nobel?
Roth, escritor judeu norte-americano, nascido em Newark, Nova Jérsia a 19 de Março 1933, cumpre hoje 74 anos. No passado dia 26 de Fevereiro venceu pela terceira vez um dos mais prestigiados prémios literários em língua inglesa: o PEN/Faulkner Award for Fiction, desta feita com Everyman (ainda não editado em Portugal).
Desde 1981, ano em que o prémio começou a ser distribuído, Roth foi o único a vencê-lo por três vezes. Em conjunto com John Edgar Wideman, (vencedor em 1984 e 1991) só em 2005 o escritor chinês Ha Jin, tal como em 2006 E. L. Doctorow o igualaram com duas atribuições; este ano Roth descolou do grupo, devendo as restantes atribuições aos romances Operation Shylock (em 1994) e The Human Stain (em 2001)
Todos os adjectivos elevados a qualquer forma de superlativo são poucos para qualificar a obra de um dos meus escritores favoritos. Quem não se encantou com a destreza narrativa contrafactual de Conspiração Contra a América, com o magistral, atormentado e edipiano Complexo de Portnoy e a soberba narração da beleza e da crueldade da condição humana no assombroso – para mim o melhor romance de Roth e um dos melhores de todos os tempos – Pastoral Americana.
Parabéns, Philip!
Aqui fica um pequeno excerto de um das suas mais extraordinárias obras de ficção. O homem que sabe que a morte, pela lei da natureza, está próxima e, sem rendições, no enleia nessa teia de desesperos, cumplicidades, júbilos, ostentações e alegrias que matiza a vida, essa puta:
«Há que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem de ser arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única coisa que compreendemos acerca dos velhos quando não somos velhos é que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada. Para aqueles que ainda não são velhos ser velho significa que já fomos. Mas ser velho também significa que apesar de, além de e para lá do nosso estado de ser, ainda somos. O nosso estado de ser está muito vivo. Ainda somos e sentimo-nos tão atormentados pelo ainda-ser e pela sua plenitude como pelo já-ter-sido e pela sua qualidade de passado. Pensem na velhice do seguinte modo: o facto de a nossa vida estar em risco é apenas um facto quotidiano. Não podemos esquivar-nos ao conhecimento daquilo que em breve nos espera. O silêncio que nos envolverá para sempre. Tirando isso, é tudo a mesma coisa. Tirando isso, somos imortais enquanto vivermos.»
Philip Roth, O Animal Moribundo. Lisboa: Dom Quixote, 1.ª edição, Setembro de 2006, pág. 38 (131 pp.), (tradução de Fernanda Pinto Rodrigues; obra original: The Dying Animal, 2001)
Lista completa dos vencedores do PEN/Faulkner Award for Fiction (títulos em português e respectiva editora se for o caso):
1981 – Walter Abish, How German Is It?
1982 – David Bradley, The Chaneysville Incident
1983 – Toby Olson, Seaview
1984 – John Edgar Wideman, Sent for You Yesterday
1985 – Tobias Wolff, The Barracks Thief
1986 – Peter Taylor, The Old Forest
1987 – Richard Wiley, Soldiers in Hiding
1988 – T. Coraghessan Boyle, World’s End
1989 – James Salter, Dusk
1990 – E. L. Doctorow, Billy Bathgate (Temas da Actualidade)
1991 – John Edgar Wideman, Philadelphia Fire
1992 – Don DeLillo, Mao II (Relógio D’Água)
1993 – E. Annie Proulx, Postcards
1994 – Philip Roth, Operation Shylock
1995 – David Guterson, A neve caindo sobre os cedros (Relógio D’Água)
1996 – Richard Ford, Dia da Independência (Presença)
1997 – Gina Berriault, Women in their Beds
1998 – Rafi Zabor, The Bear Comes Home
1999 – Michael Cunningham, As Horas (Gradiva)
2000 – Ha Jin, À Espera (Gradiva)
2001 – Philip Roth, A Mancha Humana (Dom Quixote)
2002 – Ann Patchett, Bel Canto (Gradiva)
2003 – Sabina Murray, The Caprices
2004 – John Updike, The Early Stories 1953-1975
2005 – Ha Jin, War Trash
2006 – E. L. Doctorow, March
2007 – Philip Roth, Everyman
Roth, escritor judeu norte-americano, nascido em Newark, Nova Jérsia a 19 de Março 1933, cumpre hoje 74 anos. No passado dia 26 de Fevereiro venceu pela terceira vez um dos mais prestigiados prémios literários em língua inglesa: o PEN/Faulkner Award for Fiction, desta feita com Everyman (ainda não editado em Portugal).
Desde 1981, ano em que o prémio começou a ser distribuído, Roth foi o único a vencê-lo por três vezes. Em conjunto com John Edgar Wideman, (vencedor em 1984 e 1991) só em 2005 o escritor chinês Ha Jin, tal como em 2006 E. L. Doctorow o igualaram com duas atribuições; este ano Roth descolou do grupo, devendo as restantes atribuições aos romances Operation Shylock (em 1994) e The Human Stain (em 2001)
Todos os adjectivos elevados a qualquer forma de superlativo são poucos para qualificar a obra de um dos meus escritores favoritos. Quem não se encantou com a destreza narrativa contrafactual de Conspiração Contra a América, com o magistral, atormentado e edipiano Complexo de Portnoy e a soberba narração da beleza e da crueldade da condição humana no assombroso – para mim o melhor romance de Roth e um dos melhores de todos os tempos – Pastoral Americana.
Parabéns, Philip!
Aqui fica um pequeno excerto de um das suas mais extraordinárias obras de ficção. O homem que sabe que a morte, pela lei da natureza, está próxima e, sem rendições, no enleia nessa teia de desesperos, cumplicidades, júbilos, ostentações e alegrias que matiza a vida, essa puta:
«Há que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem de ser arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única coisa que compreendemos acerca dos velhos quando não somos velhos é que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada. Para aqueles que ainda não são velhos ser velho significa que já fomos. Mas ser velho também significa que apesar de, além de e para lá do nosso estado de ser, ainda somos. O nosso estado de ser está muito vivo. Ainda somos e sentimo-nos tão atormentados pelo ainda-ser e pela sua plenitude como pelo já-ter-sido e pela sua qualidade de passado. Pensem na velhice do seguinte modo: o facto de a nossa vida estar em risco é apenas um facto quotidiano. Não podemos esquivar-nos ao conhecimento daquilo que em breve nos espera. O silêncio que nos envolverá para sempre. Tirando isso, é tudo a mesma coisa. Tirando isso, somos imortais enquanto vivermos.»
Philip Roth, O Animal Moribundo. Lisboa: Dom Quixote, 1.ª edição, Setembro de 2006, pág. 38 (131 pp.), (tradução de Fernanda Pinto Rodrigues; obra original: The Dying Animal, 2001)
Lista completa dos vencedores do PEN/Faulkner Award for Fiction (títulos em português e respectiva editora se for o caso):
1981 – Walter Abish, How German Is It?
1982 – David Bradley, The Chaneysville Incident
1983 – Toby Olson, Seaview
1984 – John Edgar Wideman, Sent for You Yesterday
1985 – Tobias Wolff, The Barracks Thief
1986 – Peter Taylor, The Old Forest
1987 – Richard Wiley, Soldiers in Hiding
1988 – T. Coraghessan Boyle, World’s End
1989 – James Salter, Dusk
1990 – E. L. Doctorow, Billy Bathgate (Temas da Actualidade)
1991 – John Edgar Wideman, Philadelphia Fire
1992 – Don DeLillo, Mao II (Relógio D’Água)
1993 – E. Annie Proulx, Postcards
1994 – Philip Roth, Operation Shylock
1995 – David Guterson, A neve caindo sobre os cedros (Relógio D’Água)
1996 – Richard Ford, Dia da Independência (Presença)
1997 – Gina Berriault, Women in their Beds
1998 – Rafi Zabor, The Bear Comes Home
1999 – Michael Cunningham, As Horas (Gradiva)
2000 – Ha Jin, À Espera (Gradiva)
2001 – Philip Roth, A Mancha Humana (Dom Quixote)
2002 – Ann Patchett, Bel Canto (Gradiva)
2003 – Sabina Murray, The Caprices
2004 – John Updike, The Early Stories 1953-1975
2005 – Ha Jin, War Trash
2006 – E. L. Doctorow, March
2007 – Philip Roth, Everyman
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