Este é o título de um conto ilustrado para crianças, escrito e desenhado por Ted Cole, personagem de ficção idealizada pelo escritor norte-americano (n. 1942) John Irving no seu excepcional romance de 1998, Viúva por Um Ano (A Widow for One Year).
Aclamado internacionalmente pelos romances O Estranho Mundo de Garp (The World According to Garp, 1978), o grande impulsor da sua carreira e, entre outros, As Regras da Casa (The Cider House Rules, 1985) – por este último Irving venceu o Óscar para Melhor Argumento Adaptado em 2000, filme realizado pelo sueco Lasse Hallström –, John Irving merece que lhe dedique este texto porque neste preciso momento a TVI transmite o filme de 2004, A Porta no Chão, realizado por Tod Williams e protagonizado por Jeff Bridges e Kim Basinger, inspirado num romance que me deixou saudades depois de o haver lido.
O filme apenas retrata a primeira de três partes que constituem o romance de Irving, Viúva por Um ano.
A Porta no Chão não se trata de um excelente filme, longe disso, todavia não se poderão dar como perdidas as suas quase duas horas de duração, principalmente para quem leu o livro.
Como já referi, um bom livro – na minha muito subjectiva opinião – é aquele que, apesar de repousar num qualquer canto da casa, enquanto nos encontramos a meio da sua leitura exerce sobre nós um fascínio de tal ordem que, no desempenho das nossas tarefas diárias, todo o tempo a que a ele não dedicamos parece criar-nos uma ânsia inaudita e no limite uma sensação de infelicidade. Se a isso juntarmos a envolvente do momento, um estado de espírito que, maioritariamente, por questões que extravasam a nossa vontade, se caracteriza por uma vulnerabilidade de ordem afectiva ou sentimental, a leitura transforma-se num alimento indispensável da alma, um refúgio da realidade que no-la dilacera, como um corte na carne produzido por facas afiadas na melhor pedra de moleiro.
Foi essa a experiência por que passei durante a minha leitura de Viúva por Um ano.
Em 2002 materializou-se, pela lei da vida – que, paradoxalmente, se consubstancia na morte –, a época mais difícil da minha, porventura, ainda curta existência. A profunda plangência advinda de uma dor lancinante por uma perda jamais compensável, inesperada, cruel na sua plenitude. E o romance trata disso mesmo, da dificuldade do ser humano em suportar a dor, das camuflagens que erigimos, da derrota e da desistência da vida, do sofrimento que, sem darmos por isso, infligimos àqueles que nos rodeiam no momento em que só nos apetece gritar, desfazermo-nos em lágrimas, soltar a amargura agrilhoada, anunciar ao mundo a devastação provocada por essa perda insanável.
John Irving não é reconhecido pela crítica talvez porque, tal como Grisham, consegue vender livros em barda. Não fosse um dos raros momentos de cedência do meu superego literário – construído pelo preconceito na leitura dos supostamente doutos da Literatura – ficaria a desconhecer, tal como As regras da Casa, esta obra-prima da literatura contemporânea.
Aclamado internacionalmente pelos romances O Estranho Mundo de Garp (The World According to Garp, 1978), o grande impulsor da sua carreira e, entre outros, As Regras da Casa (The Cider House Rules, 1985) – por este último Irving venceu o Óscar para Melhor Argumento Adaptado em 2000, filme realizado pelo sueco Lasse Hallström –, John Irving merece que lhe dedique este texto porque neste preciso momento a TVI transmite o filme de 2004, A Porta no Chão, realizado por Tod Williams e protagonizado por Jeff Bridges e Kim Basinger, inspirado num romance que me deixou saudades depois de o haver lido.
O filme apenas retrata a primeira de três partes que constituem o romance de Irving, Viúva por Um ano.
A Porta no Chão não se trata de um excelente filme, longe disso, todavia não se poderão dar como perdidas as suas quase duas horas de duração, principalmente para quem leu o livro.
Como já referi, um bom livro – na minha muito subjectiva opinião – é aquele que, apesar de repousar num qualquer canto da casa, enquanto nos encontramos a meio da sua leitura exerce sobre nós um fascínio de tal ordem que, no desempenho das nossas tarefas diárias, todo o tempo a que a ele não dedicamos parece criar-nos uma ânsia inaudita e no limite uma sensação de infelicidade. Se a isso juntarmos a envolvente do momento, um estado de espírito que, maioritariamente, por questões que extravasam a nossa vontade, se caracteriza por uma vulnerabilidade de ordem afectiva ou sentimental, a leitura transforma-se num alimento indispensável da alma, um refúgio da realidade que no-la dilacera, como um corte na carne produzido por facas afiadas na melhor pedra de moleiro.
Foi essa a experiência por que passei durante a minha leitura de Viúva por Um ano.
Em 2002 materializou-se, pela lei da vida – que, paradoxalmente, se consubstancia na morte –, a época mais difícil da minha, porventura, ainda curta existência. A profunda plangência advinda de uma dor lancinante por uma perda jamais compensável, inesperada, cruel na sua plenitude. E o romance trata disso mesmo, da dificuldade do ser humano em suportar a dor, das camuflagens que erigimos, da derrota e da desistência da vida, do sofrimento que, sem darmos por isso, infligimos àqueles que nos rodeiam no momento em que só nos apetece gritar, desfazermo-nos em lágrimas, soltar a amargura agrilhoada, anunciar ao mundo a devastação provocada por essa perda insanável.
John Irving não é reconhecido pela crítica talvez porque, tal como Grisham, consegue vender livros em barda. Não fosse um dos raros momentos de cedência do meu superego literário – construído pelo preconceito na leitura dos supostamente doutos da Literatura – ficaria a desconhecer, tal como As regras da Casa, esta obra-prima da literatura contemporânea.
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