Era ainda muito novo… mas, até ao último fôlego do meu ser, ninguém me poderá roubar a imagem do fim do jejum de 19 anos e da alegria esfusiante de milhares de portistas nas ruas da cidade terminado o desafio da última jornada com o Braga (4-0), que culminou, na época seguinte, com o inesquecível jogo com o Barreirense (4-1), numa tarde tórrida de um domingo de fim de Primavera no desaparecido Estádio da Antas, onde, com apenas 6 anos, assisti da arquibancada, na companhia da minha família (pais, avós, tios e primos direitos) e de diversos casais amigos de meus pais, à conquista do bicampeonato: 1977/78 e 1978/79 (que, segundo rezam as crónicas, um tal de Manaca não deixou que fosse “tri”).
Na alegria e na tristeza… com apenas 12 anos, numa tarde fria e cinzenta de Janeiro, postei-me no passeio da praça Teixeira de Pascoaes e assisti ao cortejo fúnebre que partiu da Igreja de Santo António das Antas (local onde fui baptizado, junto ao antigo Estádio) e que por mim passou, num silêncio carregado produzido por dezenas de milhares de pessoas cuja atmosfera jamais esquecerei. Uma torrente de pesar provinda da rua de S. Crispim descia a Carlos Malheiro Dias, encetando a subida pela Constituição até ao Marquês, e que se dirigia ao cemitério de Agramonte na Boavista (a cerca de 5 quilómetros do ponto de partida). Já o carro que transportava o eterno “Zé do Boné” desaparecia no horizonte sob os plátanos do Marquês e a multidão que o seguia a pé parecia inextinguível, ainda não havia cessado em S. Crispim. Uma massa compacta de cabeças parecia formar um rio pardacento que, de forma lúgubre, inundara a Constituição. Uma imagem angustiante pela causa que a motivou, porém memorável pela homenagem sentida que milhares de pessoas vindas de todo o país quiseram prestar ao “Mestre” prematuramente desaparecido: o tal que, em democracia, mudou para sempre o rumo do futebol português e a dimensão do meu clube do coração, o Futebol Clube do Porto.