quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Morreu o pai de “Holden Caulfield”


[Nova Iorque, 1 de Janeiro de 1919 – Cornish, NH, 27 de Janeiro de 2010]
Em vida deixou-nos dois romances (À Espera no Centeio/Uma Agulha no Palheiro – The Catcher in the Rye, 1951; Franny e ZooeyFranny and Zooey, 1961), uma colectânea de contos (Nove Contos – Nine Stories, 1953) e duas novelas, publicadas inicialmente em 1955 e 1959, respectivamente, na revista The New Yorker, condensadas mais tarde num só livro, (Carpinteiros, Levantai Alto o Pau de Fileira e Seymour: Uma Introdução – Raise High the Roof Beam, Carpenters and Seymour: An Introduction, 1963). Segundo se dizia, após a fuga definitiva às luzes da ribalta em 1953, nunca parou de escrever, tendo prometido que iria deixar os imensos manuscritos como legado para publicação póstuma – esperando que tenha abandonado a prodigiosamente enfadonha “família Glass”.
Um pequeno mimo do alter ego:
«Os actores com a sua simples presença convencem-me sempre, para meu horror, de que a maior parte do que até agora escrevi sobre eles é falso. É falso porque escrevo sobre eles com um amor inalterável (mesmo agora, ao escrevê-lo, também isto se torna falso), mas com variável talento, e este talento variável não retrata os actores reais de modo vivo e correcto, perdendo-se antes apagadamente neste amor que nunca se satisfará com tal talento e que por isso pensa que está a proteger os actores ao impedir este talento de se exprimir.
»É como se (para o descrevermos figurativamente) um autor se tivesse enganado ao escrever uma palavra e esse erro de escrita tomasse consciência de si mesmo. Talvez não fosse um erro, mas, num sentido muito mais elevado, uma parte essencial de todo o texto. É como se, então, este erro de escrita se revoltasse contra o autor, movido pela animosidade que lhe dedica, como se o proibisse de o corrigir e como se dissesse: “Não, não permito que me apagues, quero manter-me como um testemunho contra ti, de que não passas de um bem fraco escritor”.»
J.D. Salinger, “Seymour: Uma Introdução”, in Carpinteiros, Levantai… op. cit., p. 79
[Algés: Difel, Outubro de 2006, 168 pp; tradução de José Lima]