segunda-feira, 16 de julho de 2007

Alívio

Nove milhões de portugueses sentem que se aproxima, enfim, o momento da libertação do miasma centralista – infelizmente em tese ou, pelo menos, naquilo que os olhos vêem.
Foram meses em que se não era a Ota, era a Câmara, e se não era a Câmara, era Berardo e o Benfica, o Berardo e o Museu Berardo e depois o Mega… chega!
Todavia, enquanto essa libertação, puramente ilusória, não puder ser gozada em toda a sua plenitude, os telejornais e os canais de televisão ditos generalistas vão-nos matraqueando com inúmeros rescaldos. As máquinas partidárias tiram as suas ilações para o todo nacional: vão rolar cabeças... Por aqui vai-se aguardando, em ansiosa esperança, por uma exportação laranja em 2009. A bem da Nação. O Porto perderá o seu filho dilecto, conjuntamente o mais amado pelos lisboetas que, em seis anos de exortações laudatórias, o poriam em cada esquina da Capital.
Os nove milhões continuarão, apesar de tudo, a viver as suas vidas. Desses, três milhões ainda respiram saúde pelo sorvedouro de recursos luso-centralista. Os restantes lutam por manter um nível de vida apenas equiparado ao das regiões mais pobres da Europa a 27.
Cá em cima, o Querido Líder promove uma competição automobilística na zona mais rica da cidade, bem longe do São João de Deus (à Areosa) onde ainda se trafica droga às claras. Quis o destino que as ruas da Alegria, D. João IV, Santa Catarina, do Bonjardim ou toda a zona do Bonfim e de Campanhã se houvessem assestado no extremo oposto da cidade: degradado e degradante; o local com maior incidência de casos de tuberculose do país, doença que, como se sabe, vem sempre associada à miséria extrema.
O Querido Líder faz uma declaração única ao seu blogue… à página da
Web da Câmara que escapou ao país: «uma das marcas mais fortes da cidade do Porto». As corridas de automóveis, a sua grande paixão, para promover a marca Porto. O desporto promove a cidade! É caso para dizer: o que eu lutei para aqui chegar...
«O Porto possui esta marca muito forte, que temos de prestigiar cada vez mais, evitando, na medida do possível, cometer também cada vez menos erros e falhas.»

Mas:
Estamos todos felizes. De anestesia em anestesia, o país rejubila. Sócrates saiu incólume. Lisboa tem Presidente!

5 comentários:

Anónimo disse...

Alívio, sem dúvida. A palavra certa.
Mesmo para mim, que há um (pouco) tempo vivo em Lisboa. Já não há pachorra para isto.

Um abraço. E boa sorte para o vosso "querido líder"! Mas não o mandem para Lisboa, que já há aqui loucos que cheguem.

Anónimo disse...

Traíste o Norte! Eu percebo, a necessidade de migração… fora de Lisboa o terreno cultural vai-se desertificando. O tal eucalipto...
Um abraço,
André

Anónimo disse...

Nunca estive no Norte (divido o país em 3, por isso Coimbra para mim é Centro), não sei se a não-escolha também pode ser considerada traição.

Mas como cresci em Beja acho que estou à vontade para falar da tal desertificação e da necessidade de migração. ;)

Abraço

Anónimo disse...

O nunca estive no Norte é, obviamente, nunca morei no Norte!

Anónimo disse...

Meu caro João,
Peço-te imensas desculpas. Já confundo tudo. Mas aquilo que referi em relação ao Norte e do eucalipto centralista, aplica-se facilmente ao Alentejo e ao interior do Algarve. É gritante a disparidade na distribuição do rendimento.
Ademais, também conheço os problemas dos trasmontanos, cujos custos da interioridade são ainda mais insuportáveis (por exemplo, Bragança é o único distrito do país sem 1 único Km de auto-estrada).
Neste país para se conseguir ser alguém, a migração para a região de LVT é quase um imperativo.
Um grande abraço,
André