quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Regresso

Uma derivação é, em português moderno – coloquialmente usado até à exasperação –, a passagem da causa ao efeito sempre que se tenta explicar um comportamento nefasto perversamente atribuído a uma origem invencível, elevada à condição de dogma. Por outras palavras, derivação é um eufemismo de desresponsabilização que desmonta qualquer tentativa de outrem na atribuição da culpa, afastando-se liminarmente a explanação da primitiva. É a tal visão monocular: precisas mudar de vida.

Finalmente, retornei a este mundo de derivação. Julguei-me definitivamente regressado à Terra, provindo do Tlön borgiano (de borges), onde o sonho, concretizado na expectativa de um futuro auspicioso, predomina sobre a realidade, o ideal sobre o verdadeiro; todavia fiquei agora com a sensação de a ele haver voltado: a recidiva da descrença.
Após a tal materialização das minhas esperanças, que decerto contribuiu para a agudização da ameaça da sobrepopulação mundial, vejo que, como dizia o outro, a cada dia que passa a certeza da minha lucidez se vai desvanecendo. A incredulidade agiganta-se à medida que vou percebendo que aquilo que vejo poderá não ser mais do que uma elucubração da minha mente sem o sustentáculo da realidade. O instantâneo sobrepõe-se ao passado, que a existir nada mais é do que uma pura ilusão.

Ontem vi e ouvi, com a atenção que a família me permitiu, o primeiro debate sobre a despenalização da IVG. Fiquei a perceber que o que uns defendem como direito inalienável à vida se poderá revestir na perpetuação da miséria, numa interrupção involuntária da condição humana: a destruição (ou desarranjo) de uma vontade instintiva de sobrevivência.
Não há saúde física sem sanidade psicológica. A falta desta última, agravada pela consumação do acto que esteve na sua origem – na medida em que uma lei imoral assim o impôs –, agrava as dificuldades de subsistência do próprio ser, traz infelicidade, que se desmultiplica, como uma epidemia, pela sociedade na qual se está inexoravelmente inserido.
Caberá ao Estado a imposição de limites razoáveis para a nossa felicidade? Ou a busca da felicidade, a receita, a solução, a essência da nossa existência, não se trata de um caminho eminentemente pessoal que se socorre dos instrumentos que uma determinada sociedade lhe pôs à disposição?
Depois há o argumento do princípio e do fim da nossa liberdade individual. Mas quem senão a própria mulher que decidiu abortar sofrerá o dano maior? A sociedade? Um feto com dez semanas de vida que mais não é do que uma amálgama celular sem vontade própria, dependente da saúde e do corpo da mãe? É, na realidade, um ser vivo que futuramente se transformará num ser humano plenipotenciário na estrita medida dos seus direitos e, por muito que isso possa custar a admitir, não é nada mais para além dessa condição.
Infelizmente, à laia de Pacheco Pereira, é essa a questão central. Perante inevitabilidade do dano opta-se pelo menor, e o menor desses danos é, com certeza, aquele que permite readquirir de forma mais rápida a felicidade que se perdeu. Esse recobro (espiritual) torna-se objectivamente mais difícil perante a disseminação da miséria por mais indivíduos excluindo a própria mulher.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Oscares 2007


Eis os 10 filmes com maior número de nomeações para os Oscars 2007, cuja cerimónia de entrega decorrerá no Kodak Theater, Hollywood, no próximo dia 25 de Fevereiro – em destaque (bold) e com o sinal “+” as categorias pertencentes ao denominado Top 5 (filme / realização / argumento / actor / actriz):

Dreamgirls (8 nomeações, 0+)
Actor Secundário – Eddie Murphy
Actriz Secundária – Jennifer Hudson
Canção (3 canções nomeadas)
Direcção Artística
Efeitos Sonoros
Guarda-Roupa

Babel (7 nomeações, 3+)
Actriz Secundária – Adriana Barraza
Actriz Secundária – Rinko Kikuchi
Argumento Original – Guillermo Arriaga
Filme

Montagem
Música (BSO) – Gustavo Santaolalla
Realizador – Alejandro González Iñárritu

El Laberinto del Fauno / Pan’s Labyrinth (6 nomeações, 1+)
Argumento Original – Guillermo del Toro
Direcção Artística
Filme Estrangeiro – Guillermo del Toro (México)
Fotografia
Maquilhagem
Música (BSO) – Javier Navarrete

A Rainha / The Queen (6 nomeações, 4+)
Actriz – Helen Mirren
Argumento Original – Peter Morgan
Filme

Guarda-Roupa
Música (BSO) – Alexandre Desplat
Realizador – Stephen Frears

Diamante de Sangue / Blood Diamond (5 nomeações, 1+)
Actor – Leonardo DiCaprio
Actor Secundário – Djimon Hounsou
Efeitos Sonoros
Montagem
Som

The Departed: Entre Inimigos / The Departed (5 nomeações, 3+)
Actor Secundário – Mark Wahlberg
Argumento Adaptado – William Monahan
Filme

Montagem
Realizador – Martin Scorsese

Cartas de Iwo Jima / Letters from Iwo Jima (4 nomeações, 3+)
Argumento Original – Iris Yamashita
Filme
Realização – Clint Eastwood

Som

Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos / Little Miss Sunshine (4 nomeações, 2+)
Actor Secundário – Alan Arkin
Actriz Secundária – Abigail Breslin
Argumento Original – Michael Arndt
Filme


Notes on a Scandal (4 nomeações, 2+)
Actriz – Judi Dench
Actriz Secundária – Cate Blanchett
Argumento Adaptado – Patrick Marber
Música (BSO) – Philip Glass


Piratas das Caraíbas: O Cofre do Homem Morto / Pirates of the Caribbean: Dead Man’s Chest (4 nomeações, 0+)
Direcção Artística
Efeitos Especiais
Efeitos Sonoros
Som

Cameo Pynchoniano

Sobre Thomas Pynchon, ler este texto escrito pelo seu fã n.º 1 (R. C.) da blogosfera lusa.

Em jeito de homenagem, [faltam-me as palavras, my "mind is elsewhere, stranded among the figments in" my "head as" I search "for an answer to the question that haunts" me], aqui fica um divertidíssimo cameo do Homem Invisível:

domingo, 21 de janeiro de 2007

Ronnie O'Sullivan

The Rocket venceu o Masters (UK Championship)

Ronnie O'Sullivan


Exibição soberba e um carácter de campeão. Bateu na final o promissor jogador chinês Ding Junhui (n. 1987) – o único jogador que no torneio conseguiu a tacada máxima de 147 pontos – por 10 partidas a 3.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Estafado e Estéril


Quinta-feira, dia de estreias no cinema e mais um dia na rotina depressiva do cidadão médio que se debate inutilmente pela alteração da substância do qualificativo: ser-se português.
Assalto e intromissão (Breaking and Entering) é o último filme de Anthony Minghella. Assalto pela Coca-Cola, tamanho pequeno, a 2,20 euros – que não costumo pedir – e Intromissão de um bronco que, em berros altamente reverberantes, falava ao telemóvel durante o filme – felizmente, longe o suficiente deste que vos escreve para que, vencida a preguiça, levasse, no mínimo, com um olhar à matador e depois um pequena ameaça com a coloquialidade que a língua portuguesa permite.
Vinte minutos de filme e sou despertado por um riso. Pronto, agora vê o filme (apetecia-me perguntar: desculpe-me, minha senhora, acaso ressonei?)
Anthony Minghella resolveu escrever – é grave para quem antes se deu bem com Michael Ondaatje, Patricia Highsmith, Samuel Beckett (curta-metragem) e Charles Frazier – e meteu água, a qual, ao invés de ser fria, despertadora de sentidos, se revelou de uma tibieza tal que, não fora a dependência, bem poderia dispensar o meu Xanax nocturno.
Minghella tenta Jude Law à Mike Nichols (Closer) e perdeu em toda a linha. A imagem de um Law burguês, abonecado, com escrúpulos e alguns desvarios lúbricos está estafada.
Robin Wright Penn vai desencantando de filme para filme desde que protagonizou Forrest Gump, já passou por uma intragável xaropada de Mandoki baseada num livreco de Nicholas Sparks, pelo pior filme de Shyamalan, por uma péssima adaptação, realizada por um novato, de um excelente romance de Cunningham, e até ao lado Jack Nicholson num pobre filme dirigido pelo marido, o gigante Sean Penn.
Juliette Binoche, todavia, escapa. Empresta toda a sua mestria ao realizador/argumentista desinspirado. Desempenha o papel de uma costureira bósnia muçulmana refugiada na zona degradada de King’s Cross em Londres.
Depois temos a historieta moral do adúltero com escrúpulos, padrasto de uma menina incapacitada, desencantado com a união de facto e empreendedor de sucesso, neste caso arquitecto, que propõe transformar o mundo a partir da reabilitação do bairro degradado. Seguem-se temas como a integração social dos refugiados, a miséria humana, o crime organizado por imigrantes de leste, o multiculturalismo e a desgraçadinha de vão de escada que, com uma fome que vem de longe, só não vende fósforos porque estes passaram de moda.
Salva-se o final… melhor, os créditos finais! Bem acompanhados pela sensacional composição Counterpoint Hang Pulse, parte integrante da banda sonora a cargo dos Underworld em associação com o magnífico Gabriel Yared, este último vencedor do Oscar para melhor Banda Sonora Original com O Paciente Inglês, também de Minghella.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Memórias de um Nazi

Enquanto uns vão descascando cebolas e outros apequenando as memórias, alguns, como Littell, vão discorrendo sobre as eventuais memórias dos cooperadores do III Reich. Todavia, ao passo que o romance daquele, As Benevolentes, já viu confirmada a sua edição em Portugal, o recentíssimo The Castle in the Forest de Norman Mailer – com estreia mundial marcada para a próxima terça-feira nos Estados Unidos – irá, decerto, penar nas teias economicistas e avarentas das editoras nacionais.

Para a posteridade, eis a abertura do novo romance de Mailer:

«Podem tratar-me por D. T. Este é o acrónimo para Dieter, um nome alemão, e D. T. ajusta-se perfeitamente, agora que vivo na América, a esta nação peculiar. Se eu aqui recorro às reservas de paciência, é porque aqui o tempo passa sem que isso signifique algo para mim, e esse é um estado susceptível de levar alguém a rebelar-se. Será esta a razão por que escrevo um livro? Eu e os meus antigos parceiros tínhamos de jurar que nunca nos serviríamos de tal expediente. Em suma, eu fui membro de um incomparável grupo de Serviços de Informação. A sua designação era SS, Secção Especial IV-2a, e encontrávamo-nos directamente sob a supervisão de Heinrich Himmler. Hoje, o homem é visto como um monstro e, de qualquer forma, não estou disposto a defendê-lo – verdadeiramente, ele revelou-se um monstro. No entanto, Himmler dispunha de uma mente original e uma das suas teses está na origem das minhas pretensões literárias, que, prometo, não serão nada vulgares.»
[tradução livre, AMC]
Norman Mailer, The Castle in the Forest. New York: Random House, January, 2007, 496 pp.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Produção estrangeira versus língua estrangeira

A propósito da polémica aberta pelo processo de selecção dos filmes que integram a categoria de Melhor Filme (de língua) Estrangeiro(a) para a atribuição de prémios cinematográficos nas cerimónias realizadas na Meca do Cinema – este ano agravada pela integração de filmes como Apocalypto de Mel Gibson e de Cartas de Iwo Jima de Clint Eastwood no concurso aos Globos de Ouro organizado pela Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood, no qual o último acabou por arrecadar o respectivo galardão –, tenho a dizer que considero o critério estritamente linguístico como verdadeiramente falacioso, na medida em que o espírito que esteve na génese dessa categoria em Hollywood teve que ver com o reconhecimento do mérito a obras produzidas na íntegra fora do círculo restrito do financiamento cinematográfico de Hollywood, dado o reconhecimento da quase imposição e até de aniquilação cultural provocada pelos filmes, produzidos em barda, nesse meio privilegiado.
A nomeação dos dois filmes atrás mencionados pode encontrar-se no nosso quotidiano no excesso de zelo regulamentador, assaz cerceador dos direitos, liberdades e garantias, de que a liberdade artística é um dos seus exemplos. Este episódio assemelha-se ao meticuloso trabalho de sapa exercido pelos advogados mais astutos que, pela letra do preceito normativo, buscam um atalho que lhes permita o vencimento das suas teses, mesmo que ao arrepio do espírito, mais ou menos declarado, de que o legislador se imbuiu no momento em que os decidiu criar. Assim esta putativa legalidade, ou se se preferir, esta não ilegalidade só pode ser entendida pelos destinatários, imediatos ou mediatos, como uma manobra típica de chico-espertismo e eminentemente falaciosa, prejudicando, neste caso, até pela silenciosa aceitação dos seus autores, as emanações de bom cunho artístico que potencialmente a obra poderá transmitir.

Esta verborreia toda serviu apenas para, à laia de antecipação não astrológica, referir que a Academia das Artes e das Ciências Cinematográficas de Hollywood abrirá amanhã uma exposição cujos objectos patenteados ao público serão precisamente os posters dos filmes premiados na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, cuja criação remonta a 1956, celebrando-se, assim, os seus 50 anos de existência. Todavia, esta exposição soa a um encapotado pedido de clemência pelas eventuais aberrações que irão ser cometidas contra o espírito subjacente ao prémio, quando no próximo dia 23 forem anunciados os nomeados, com sequela garantida na noite de 25 de Fevereiro.

Em jeito de conclusão, fica a curiosidade de que Federico Fellini foi o primeiro realizador – apesar do prémio ser atribuído aos produtores – a ser galardoado com o Oscar para melhor filme estrangeiro; venceu com o maravilhoso A Estrada em 1956, produzido por Dino De Laurentiis e Carlo Ponti, este último falecido a semana passada (com a provecta idade de 95 anos). Façanha que se repetiu no ano seguinte, com As Noites de Cabíria, o que só serve para atestar, acaso necessitasse, a sua genialidade criativa.
Fellini é, aliás, o campeão nesta categoria, havendo vencido o Oscar correspondente por mais 2 ocasiões: com 8 ½ em 1963 e com Amarcord em 1974.
Sobre este último deixo ficar um curioso excerto de uma entrevista, no qual se exibe a resposta dada por Fellini à questão sobre a natureza autobiográfica do terno e hilariante Amarcord. Mais felliniano seria impossível (o seu a seu dono):

«
Não é a memória que domina os meus filmes. Dizer que os meus filmes são autobiográficos é uma completa imbecilidade. Eu é que inventei toda a minha vida. Inventei-a de propósito para o ecrã. Antes de rodar o meu primeiro filme não fiz outra coisa que não fosse preparar-me para me transformar em alguém grande e forte o suficiente e carregar toda a energia necessária para chegar um dia a gritar “acção!” Eu vivi para descobrir e criar um realizador: nada mais. E de nada mais tenho memória, apesar de passar por alguém que vive a sua vida expressiva nas grandes divisões da memória.
Nada disso é verdadeiro. Em jeito de anedota, de autobiográfico nos meus filmes não existe nada. Há, ao contrário, o meu testemunho de uma certa época na qual realmente vivi. Nesse sentido, agora sim, os meus filmes são autobiográficos: mas da mesma forma em que cada livro, cada verso de um poeta, cada cor colocada numa tela, é autobiográfico.
»
Entrevista a Federico Fellini, in Il film “Amarcord” di Federico Fellini, por Gianfranco Angelucci e Liliana Betti, 1974 [tradução livre: AMC]

Amarcord – tradução fonética de “recordo-me” no dialecto de Emilia-Romagna, região em que nasceu Fellini e onde decorre a acção do filme (fonte: IMDB).

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Arte

Arte na blogosfera lusa escreve-se Ultraperiférico. E a arte completa hoje o seu primeiro aniversário.
A 17 de Janeiro de 2006 literalizou-se o mais que necessário abanão estético da blogosfera lusa.
A 21 de Janeiro Roteia & Companhia anunciavam ao país o seu Ultimatum:
«“O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos.
Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades”.
José de Almada-Negreiros,
in "Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX", Portugal Futurista, 1917»

Poeta d'Orpheu
Futurista E Tudo!

Deste lado do mundo, onde habita um diletante sem quartel num país de filisteus, os meus mais sinceros parabéns por este ano de excelsa actividade.

Gilmour, Mason, Wright &… Bowie

Acedi ao Sound and Vision e vi esta pequena maravilha, protagonizada por aquele ilustre quarteto, em homenagem ao recentemente falecido (9 de Julho de 2006) Syd Barrett. Eis Arnold Layne:



Ainda por cá andam e já sinto saudades.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Inebriado

Jeremy Irons
Ontem, após várias tentativas frustradas para desligar o televisor, acabei por ver na íntegra a cerimónia de entrega dos Globos de Ouro de 2007.
O senhor aqui em cima foi um dos responsáveis pelas três horas de sono mal dormidas que, ao contrário do frenético Prof. Marcelo, me afundaram num estado de entorpecimento insuperável, por mais cafeína que haja ingerido até à hora em que escrevo este texto.
Independentemente das suas invulgares e inimitáveis qualidades de interpretação enquanto actor, Jeremy Irons inebria pelo simples discurso. A verdade é que, desde tempos imemoriais – e talvez fosse eu ainda um aprendiz de “puto sem cueiros” –, me delicio com a bem vincada received pronunciation de Irons – apenas comparável na História do cinema à de Laurence Olivier – iniciada com Reviver o Passado em Brideshead e prolongando-se depois por cada filme em que participa, especialmente quando desempenha o invisível papel de narrador.

Dois exemplos:

A comovente e inesquecível parte final do remake de Lolita de Nabokov, realizado por Adrian Lyne, quando Humbert Humbert (Irons) ouve ao longe o riso inocente e penetrante de crianças a brincar:
«What I heard then was the melody of children at play. Nothing but that. And I knew that the hopelessly poignant thing was not Lolita's absence from my side, but the absence of her voice from that chorus.»
E, na sequência,
«She was Lo, plain Lo, in the morning, standing four feet ten in one sock. She was Lola in slacks. She was Dolly at school. She was Dolores on the dotted line. But in my arms she was always Lolita. Light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. Lo... Lee... Ta.»

O segundo exemplo, a abertura de O Homem da Máscara de Ferro de Alexandre Dumas, realizado por Randall Wallace, narrado por Irons:
«Some of this is legend, but at least this much is fact – when rioting citizens of France destroyed the Bastille, they discovered within its records this mysterious entry: “Prisoner number 64389000 – the Man in the Iron Mask.”»

E mais exemplos poderiam ser dados.

Quando Jeremy Irons fala a plateia cala-se, embevecida, hipnotizada pela língua adestrada por Shakespeare, captando sem ruído as ondas hertzianas emanadas pelo reverberar das suas cordas vocais.

Da noite, para além da minha alegria incontida pelo prémio para Irons, alegrei-me por Laurie e pelo colossal Whitaker... e, por que não, por Scorsese e por Babel.

A Antecâmara…

…ou a cerimónia insistentemente apelidada de, que nunca o foi. Mas enfim!

Globos de Ouro 2007
Globos de Ouro 2007, daqui a pouco (45 minutos), à 01:00 GMT em directo no AXN.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Anotações e Transcrições 7: Mutações [actualizado]

O Dr. Horácio, personagem de Agustina, determina:
«“As pessoas sofrem quase todas de insignificância e só as podemos aliviar dizendo-lhes que escrevam um livro, plantem uma árvore e façam um filho.” Isso traduzido para os tempos mais recentes resumia-se em comprar um automóvel, fumar erva e ir a um concerto de rock.»
Em A Ronda da Noite, de Agustina Bessa-Luís. Lisboa: Guimarães Editores, 1.ª edição, Setembro de 2006, pág. 43.

O João Gaspar, no n.º 4 do seu Exercício da Mediocridade, dispara outra proposição, assaz teleológica, que o tempo e os tempos trataram de confirmar:
«adoptar um filho, plantar uma rosa, escrever uma badana.»

E para concluir, aqui fica o aforismo n.º 183 do Vasco M. Barreto, com a sua Máquina, para o qual fui devidamente alertado pelo Rogério:
«Plantar um eucalipto, fazer um bastardo e plagiar um livro provavelmente não conta.»

domingo, 14 de janeiro de 2007

Identidade Arenas

Guarda o teu caderno de apontamentos, meu querido; põe-no de parte, pois não encontrarás nada mais inspirador do que as incessantes machetadas e o incessante regresso da claridade, manhã após manhã.
Esquece as tuas palavras de eleição, meu querido, e também as palavras eloquentes. Não há palavra, por muito nobre que seja, capaz de imprimir mais força ao teu poema do que o grito:
já de pé, filhos da puta!, cada vez que nasce o dia.
Guarda os cadernos, meu querido; arrecada o teu minuciosíssimo acervo de citações e frases decisivas. A poesia, como o destino, nasce da vertiginosa rotação de um êmbolo a quatro tempos, do fastidioso desfile de carroças carregadas de cana-de-açúcar e da voz agreste que te ordena:
mais rápido, mais rápido. A poesia encontra-la tu aqui: na pausa ao meio-dia para beber um trago de água suja. Sim, a poesia mora aqui: entre o turbilhão de moscas que te enxameiam o rosto quando levantas a tampa da retrete.
Não há dúvida de que a prática do açoitamento (
já chega, senhor; já chega, patrão; já chega, chefe) levou à fundação de uma nova escola literária.
Lá onde abunda o medo e medra o estupor, aí acharás a tua vitória; lá onde o medo é próspero (mas haverá lugar sem medo?), aí, exactamente aí brota a caudalosa fonte da qual todos, sem discriminação de cor ou filosofia, poderão beber.


Excerto de “à noite os negros”, de Reinaldo Arenas, O Engenho. Lisboa: Antígona, 1.ª edição, Outubro de 2006, pp. 48-49 (tradução de Carla da Silva Pereira; obra original: El Central, 1981).

a que se não pode chegar

Nada mais há a acrescentar.
Tento desistir, mas não posso.
Vou à luta, e não me largam.
Cansado desta pátria que me dilacera,
devora-me as entranhas, lenta agonia;
e cada minuto corrói um pouco de mim
– a pálida imagem do que fui.

Aquilo que quis ser e não me vão deixando.
A meta que foge: paus, pedras, putas e corruptos, muros e valas, árvores, buracos, escarpas sem fim,
miragem do sossego que não alcanço,
martelo que não bate no tampo
da mesa, justiça cega que não chega
gritos que se destroem nas barricadas
do corpo, a alma ferida, cara fechada,
dor que não demonstro, apenas
abraço um sentimento de mim.


AMC, 2007

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

As Bandeiras dos Outros


Desde 1998, ano em que estreou Barreira Invisível (The Thin Red Line) de Terrence Malick, poucos ou nenhuns foram os filmes ditos de guerra que verdadeiramente me entusiasmaram – e falo apenas daqueles que se centram no teatro de operações. Confesso, todavia, que se trata de um género cinematográfico que nunca me encheu as medidas. Contam-se pelos dedos das mãos os filmes do género que realmente exerceram sobre mim algum fascínio. Assim de repente lembro-me de Lawrence da Arábia e de A Ponte sobre o Rio Kwai de David Lean, Nascido para Matar de Kubrick, O Caçador de Michael Cimino, Apocalipse Now de Coppola ou, por exemplo, de O Dia mais longo, e outros haverá que a minha memória instantânea – à medida que escrevo este texto – não consegue alcançar.
Hoje vi o último filme realizado pelo enorme Clint Eastwood, chama-se As Bandeiras dos Nossos Pais (The Flags of Our Fathers), produzido por um duo maravilha composto por ele próprio e Steven Spielberg.

À medida que o tempo foi passando, a minha admiração por Eastwood foi aumentando à razão de uma progressão geométrica. De facto, o meu entusiasmo pelo actor/realizador evoluiu dos tempos de simples desprezo pelas cabotinagem e boçalidade hollywoodescas de Harry Callahan – a.k.a. "Dirty" Harry – até ao paroxismo do deslumbramento pelos seus desempenhos como realizador e actor em Million Dollar Baby (2004).
Falando do realizador e se contarmos o período compreendido entre a estreia de O Sargento de Ferro (1986) e a actualidade, de entre os 14 filmes realizados – não contando com este último e com o ainda não estreado Letters from Iwo Jima – não vi apenas Caçador Branco, Coração Negro (1990) e – por uma manifesta urticária que me provoca o género – o filme galardoado com 4 Óscares Imperdoável (1992) – e com toda a razão!
Dos 12 filmes referidos, metade conseguiu atingir, na minha óptica, o patamar da excelência (por ordem cronológica os melhores e a bold os melhores dos melhores): Bird (1988), Um Mundo Perfeito (1993), Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal (1997), Um Crime Real (1999), Mystic River (2003) e Million Dollar Baby (2004).

As Bandeiras dos Nossos Pais é um filme com um casting sofrível, uma banda sonora – uma vez mais criada por Eastwood – banal e discreta, e uma história de base simples e escorreita, sem a magia exigível a uma narrativa adaptável à sétima arte – facto que se vai tornando num lugar-comum –, que o argumentista Paul Haggis – oscarizado em 2006 pelo Melhor Argumento Original com Crash – tentou espremer. É de notar que, segundo informação retirada do
IMDB, a adaptação do anterior argumento esteve a cargo de William Broyles Jr. que já havia sido rejeitado em 2001 por Steven Spielberg, que à data era o detentor em exclusivo dos direitos do livro que lhe serviu de base.

O filme vale pela excepcional realização, com dignos momentos de cortar a respiração sublimemente materializados quando a acção se centra no assalto à praia da minúscula ilha de Iwo Jima. Arrisco-me a dizer que será, certamente, o filme em que o engenho criativo de Eastwood é aplicado com todo o seu esplendor. As imagens aéreas, o desembarque dos fuzileiros nos seus veículos anfíbios, toda a movimentação da câmara e os jogos de luzes e de perspectivas no momento em que os batedores arriscam a vida num solo que lhes é completamente estranho e hostil, coadjuvados por uma irrepreensível cinematografia de Tom Stern, fazem com que se dê por bem aplicado o tempo e o dinheiro despendidos com visionamento do filme.

Aos 76 anos e após a realização de As Bandeiras dos Nossos Pais, Clint Eastwood demonstrou uma vez mais que merece um lugar no clube restrito dos melhores realizadores de sempre da indústria cinematográfica de Hollywood e se, ao que tudo indica, receber o merecidíssimo Oscar para Melhor Realização – e digo isto apesar de não ter visto alguns dos prováveis candidatos –, Scorsese ficará mais um ano em branco. E depois… depois ainda há Iñárritu… Todavia, já foi demonstrado à saciedade que com as bandeiras dos outros pode Eastwood bem!

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Trio de Luxo em Janeiro


No mercado editorial norte-americano de ficção literária estreiam-se este mês 3 livros de 3 notáveis autores: No dia 16 Martin Amis com “House of Meetings” (já editado no Reino Unido em Setembro do ano passado) e no dia 23 Paul Auster com “Travels in the Scriptorium” (já editado no Reino Unido em Outubro do ano passado) e Norman Mailer com “The Castle in the Forest”.

Mailer, com quase 83 anos cumpridos, edita assim o seu primeiro romance após 10 anos de jejum (publicou em 1997 “The Gospel according to the Son”, ainda não editado em Portugal). O novo romance retrata, sob a perspectiva freudiana, a infância e a pré-adolescência de Adolf Hitler, cuja narrativa puramente ficcional é conduzida por um oficial das SS com uma estranha influência sobre o celerado ditador austríaco.
Amis retrata no seu novo romance uma dolorosa visita de um octogenário milionário e ex-exilado russo aos antigos gulags da desmembrada URSS, rememorando a experiência que aí viveu durante 14 tenebrosos anos da sua juventude.
Auster regressa um ano após a publicação do seu romance mais incaracterístico “As Loucuras de Brooklyn” e ao que dizem para exorcizar alguns do seus demónios passados. Segundo as críticas (bastante divididas, diga-se) é o regresso de Auster à narrativa beckettiana que catapultou o seu nome logo após a publicação do seu primeiro trabalho de ficção: “A Cidade de Vidro” de 1985 (integrado em “A Trilogia de Nova Iorque” em 1987). Em breve, como é óvio, ater-me-ei sobre este livro neste blogue.

Conjectura: quando me reformar, talvez em 2037, possivelmente teremos este trio editado na íntegra neste país de tão letrada gente.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Benjamin sobre A Noite do Oráculo

Através deste texto do Rogério Casanova – não o tal do Fórum Nacional, mas o autor de um dos melhores blogues de língua portuguesa – descobri algumas ligações de vídeo para o Charlie Rose Show distribuído pela PBS (Public Broadcasting Service).

Como é óbvio accionei, desde logo, a palavra-chave e obtive
estes 17 minutos de enfeitiçamento (início no minuto 35) retirados do referido programa, transmitido no dia 4 de Março de 2004:
Fala-se do ficcionado Sidney Orr, dos famosos cadernos portugueses, das histórias dentro da história, do doloroso processo de escrita e da angústia do escritor, da amizade incondicional com o mestre Don DeLillo e do pacto de não-agressão, de D. Quixote como A Obra de ficção, da troca de dedicatórias entre Benjamin (Leviathan) e DeLillo (Cosmopolis) e, finalmente, o amor… Nunca ouvi este tipo a falar sobre esse tipo de coisas tão... amor...!

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Ao que isto chegou!

Fazia eu a triagem do lixo que diariamente assalta a minha caixa de correio postal para o depositar no Ecoponto e eis que me surge esta imagem.
No início pensei tratar-se de uma daquelas congregações milagreiras que pedem orações pela salvação do mundo, pela cura dos aleijadinhos e dos acamados. Depois de abrir o panfleto li as seguintes palavras em letra de cor vermelha, tamanho 14:
«No ano em que se comemora o 90º Aniversário das Aparições de Fátima, Nossa Senhora chora...»
E no parágrafo seguinte, em destaque, fundo creme, em letra de cor preta, tamanho 10,5:
«...e Ela chora por milhares de inocentes que podem perder a vida antes mesmo de dar o primeiro gemido.»

Não li mais. Só sei que o dito desdobrável é da responsabilidade de um movimento denominado Campanha pela Vida e que me faltam as palavras para descrever esta desonestidade, no mínimo interpretativa, na pretensa descodificação da vontade de Virgem Maria relativamente a uma questão que, tanto de um lado, como do outro – do Não e do Sim –, me provoca náuseas pelo argumentário exibido: indecoroso, manipulador e descentrado da questão essencial.

Na Realidade, este país tresanda de tanta mediocridade e de pequenez medieval!

A Verdadeira História Oral

Quando Joseph Mitchell deu corpo ao seu famoso Joe Gould – o Professor Gaivota, licenciado em Harvard, que falava gaivotês – limitou-se, certamente, a incorporar no estranho personagem os conhecimentos advindos da sua já longa experiência pessoal e profissional, fortemente edificadas pela sua vivência nos meandros da babilónica Nova Iorque.
Mitchell conhecia como ninguém o submundo da Grande Maçã. Nascido em 1908 numa pequena aldeia da Carolina do Norte, pretendendo vir a tornar-se num jornalista de política, aventurou-se no salto até Nova Iorque no dealbar da Grande Depressão, no Outono de 1929. Antes de ingressar na revista
The New Yorker em 1938 – onde se manteve até ao dia da sua morte em 1996 –, exerceu jornalismo no Herald Tribune, no The Morning World e no The World-Telegram. Durante estes nove anos Mitchell escreveu e publicou reportagens e crónicas sobre julgamentos – no qual se destaca o julgamento do raptor e assassino do bebé Lindbergh – e figuras públicas da alta finança e do mundo do espectáculo. Desencantado pela frivolidade da alta roda, dedica-se à escrita sobre gente comum, combatentes da solidão – como ele tão bem define –, sobre o submundo dos teatros de striptease, o burlesque e o vaudeville, das congregações e comunidades religiosas em multiplicação e dos feiticeiros de vudu, do desporto norte-americano, da venda e do consumo de álcool pós Lei Seca, dos bares mais esconsos, das drogas em ascensão, dos veraneantes de Rockaway Beach a Long Beach, do Battery Park City a Staten Island, e até sobre os azafamados apanhadores de ostras.
Sou Todo Ouvidos é um retrato cru e poderoso das profundezas de Nova Iorque, da cidade de todos os sonhos que consubstancia a promessa do eldorado americano; do gigantesco caldeirão de línguas, raças e culturas que, simultaneamente, se transformou no grande palco para a actuação das máfias, dos criminosos e dos impostores. Mitchell descreve tudo isto com uma simplicidade literária, através de uma narrativa escorreita, sem artifícios ou truques de linguagem. A propósito disto afirma no seu prefácio que «não pode haver maior praga para um jornal do que um jornalista que se põe a tentar escrever literatura.» (pág. 33) Mitchell falava aqui sobre o julgamento do caso Hauptmann – o assassino do filho de Charles Lindbergh –, para o qual foi destacado, referindo-se à cobertura dos casos de homicídio como uma terapia para manter a sanidade mental dos jornalistas que só se dedicam às entrevistas – «Uma vez fui salvo pelo processo Hauptmann», declara (pág. 32) –, tendo que lidar com excentricidade dos entrevistados e com as tentativas de desmentido destes após a sua publicação:
«Nenhum jornalista pode trabalhar constantemente em entrevistas sem ficar um pouco pírulas; mais tarde ou mais cedo, há-de começar a ouvir passarinhos a chilrear. Embora tenha de se ocupar de questões mais importantes, acho que a rotação de tarefas deveria ser um dos pontos a tratar pela American Newspaper Guild, o sindicato dos jornalistas, do qual sou membro e em cujo programa acredito. Quando um chefe de redacção nos apanha a ler as nossas notas com os olhos em bico e a rogar pragas à bonequinha ignorante que acabámos de entrevistar, pode dar-se o caso de ser suficientemente simpático para nos mandar para a rua por uns tempos, ou para a revisão, ou talvez apareça alguma reportagem interessante e nos salve da insanidade. Precisamente no momento em que estamos para cair vítimas de uma das doenças profissionais dos jornalistas – indigestão, alcoolismo, cinismo e Nicholas Murray Butler são algumas delas –, normalmente aparece uma grande notícia, uma caça aos vampiros, que nos leva para fora da redacção.» (pág. 32)

Nada de mais premonitório que este prefácio escrito em 1938 aquando da publicação de My Ears are Bent pela Sheridan House e só mais tarde, em 2001, republicado pela Pantheon Books. Depois de terminar O Segredo de Joe Gould em 1964 – escrito em duas partes para a New Yorker, a primeira em 1942 e a segunda em 1964, e publicados pela primeira vez juntos e na íntegra em livro pela Viking Press em 1965 – Joseph Mitchell padeceu, até à sua morte em 1996, do temível síndrome do bloqueio de escritor, e nada mais escreveu, limitando-se a frequentar as instalações da revista nova-iorquina. Note-se que a segunda parte do livro – escrita em 1964 – relata a descoberta do verdadeiro segredo do personagem Joe Gould que havia retratado 22 anos antes, então como pretenso escritor de Uma História Oral dos Nossos Tempos.

Do livro de crónicas publicado pela primeira vez em Portugal pela
Ambar, sobressai, neste caso sim, a verdadeira História Oral de Nova Iorque na década de 1930 escrita pela pena do Mestre. De leitura indispensável.
Em jeito de conclusão, deixo aqui ficar um excerto da chegada do verrinoso, emproado, pró-estalinista e antiamericano George Bernard Shaw a Nova Iorque – dramaturgo irlandês (1856-1950), Prémio Nobel da Literatura em 1925:

«George Bernard Shaw estava sentado na sala de fumo do Empress of Britain
, hoje ancorado, e manteve a sua promessa de falar livremente com os jornalistas depois de ontem ter passado horas a evitá-los.
“Façam o favor de disparar, meus senhores”, disse ele. “De vez em quando escrevem histórias mal-intencionadas sobre coisas que eu não disse. Mas disparem na mesma.”
Primeiro fizeram-lhe uma pergunta sobre o alegado insulto com que ele mimoseou Miss Helen Keller.
SHAW: O jornalista que escreveu aquilo merecia um tiro. O que eu lhe disse é que ela podia ouvir, falar e ver muito melhor do que muitos dos seus compatriotas.
Miss Keller explicou isso mesmo ao
New York Times
.
REPÓRTER: Estaria interessado na realização de um congresso dos grandes nomes da literatura para pôr fim à guerra?
SHAW: Porque haveriam de pôr fim à guerra? A guerra não é mais do que um método de matar pessoas. Há muitíssima gente que devia ser morta.
REPÓRTER: O senhor acha que deviam matar os Ingleses?
O Sr. Shaw recusou-se a responder, fazendo um gesto como que a dizer que considerava a pergunta idiota.
REPÓRTER: E os irlandeses?
SHAW: Acho. Quase todos os irlandeses deviam ser mortos.
» (pp. 219-220)

Referência bibliográfica
Joseph Mitchell, Sou Todo Ouvidos. Porto: Ambar, 1.ª edição, Outubro de 2006, 246 pp.; tradução de José Lima; obra original: My Ears are Bent, 1938.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Tempos Difíceis

João BotelhoAmizades novas, uma mulher intolerável, um réveillon em grande, Sr. Comendador.

Um bom documentário, quem sabe? Talvez dê um projecto de educação popular. Conversa acabada!

E... para si, um adeus bem português (à Bordalo).

A Entrevista

É verdade, o nosso João Gonçalves concedeu uma entrevista à Antena 1 no programa dominical de Pedro Rolo Duarte. Para os desprevenidos ou para aqueles que, como eu, fazem das manhãs de domingo um prolongamento da madrugada – reparação do sono perdido – aqui deixarei ficar a ligação para ouvir a entrevista em diferido, via o Podcast do programa.

E tivemos um João igual ao que nos habituámos a ler no seu Portugal dos Pequeninos: directo, pertinaz e incisivo.
O melhor momento ficou guardado para o fim, quando Pedro Rolo Duarte indaga o João sobre a razão de se verificar uma manifesta propensão de excurso do melhor que se faz na blogosfera lusa pelas áreas da direita do espectro político. A resposta do João traduz a pura realidade, até sancionada pelos risos de embaraço do entrevistador.

Carregar na imagem para ouvir a entrevista (em wma ou em real áudio):
(32,2Mb) (44Mb).

Cruzamentos

No sábado adquiri finalmente o último calhamaço de Haruki Murakami editado em Portugal pela Casa das Letras. São 632 páginas de letra miudinha que compõem o mais internacionalmente aclamado romance do autor japonês. Falo, é claro, de Crónica do Pássaro de Corda (1994).
O livro, com firme potencial para de súbito se transformar em arma branca, traz a inevitável cinta de propaganda na qual se lê uma única asserção curta e contundente atribuída ao periódico
The Observer:
«Um fantástico cruzamento entre Woody Allen e Franz Kafka».
Bem, só de pensar até arrepia. Já para nem falar na latente imagética necrófila que sobreveio à minha mente tortuosa.
O que significa cruzar Woody Allen com Kafka? Sairá uma vietnamita entomórfica – mais da estirpe de escaravelho e não de barata, profere assertivamente um lepidóptero reputado de apelido Nabokov –, gaga e psicótica que sofre de tísica?
Um dia trago o meu pai ao blogue – correndo, embora, o risco de lhe poder causar uma síncope cardíaca pela constatação das barbaridades que o filho escreve – e peço-lhe para explicar a cepa que eventualmente poderia sair numa boa enxertia de casta nova-iorquina com casta checa germanófila e qual o néctar daí resultante.
Cruzamento!? Ele há cada um...!

Quanto ao momento de início de leitura, prevejo que ocorra lá para o final do mês. Ainda não me recompus da decepção de Kafka à Beira-Mar (2002; ed. port. Casa das Letras, 2006) – apesar de recomendar a sua leitura – a anos-luz do excepcional Norwegian Wood (1987; ed. port. Civilização, 2004) e uns furos atrás do excelente Sputnik Meu Amor (1999; ed. port. Casa das Letras, 2005).

Até lá, à laia de passatempo, dedicar-me-ei a fazer mais uns cruzamentos, como por exemplo: o que daria William S. Burroughs com John Milton? Ou Virginia Woolf com Michel Houellebecq?

domingo, 7 de janeiro de 2007

Glória aos Vencedores…

Castigo aos vencidos.
A displicência e a falta de motivação. Prefiro antes a soberba e o menosprezo pelo adversário, que devem servir para cobrir de vergonha aquele balneário repleto de pequenos milionários.

Honra ao Atlético que partiu de autocarro de Lisboa pelas 7 da manhã, chegou ao Dragão e demonstrou a garra e a humildade dos pequenos que se agigantam perante o desafio.

Jesualdo deverá reflectir sobre as palavras que ficaram por dizer e que agora de nada servem.

Parabéns de um portista ao Atlético Clube de Portugal!

sábado, 6 de janeiro de 2007

Publica logo escolho [actualizado]

O João e o Eduardo, sem o saberem, devem-me 1 euro e 50 cêntimos. E logo eu que, como o Henrique, deixei de comprar jornais…
O
João cita Armando Silva Carvalho referindo-se àquele livro-do-qual-não-gosto-de-falar-mas… O Eduardo escreve sobre eleição dos melhores livros de 2006 por 38 personalidades ligadas ao panorama literário português, exercício electivo publicado no suplemento Mil Folhas do jornal Público de ontem.
Começando pelo principal desencadeante do supramencionado desembolso monetário, o Eduardo Pitta
referiu-o e mais tarde vi, claramente visto, o lume vivo – que a letrada gente tem por santo – Ontem não te vi em Babilónia assestado na terceira posição das escolhas de tão ilustre gente.
Eu sou um admirador do ALA, a Memória de Elefante levou-me aos Cus de Judas onde passei a ter Conhecimento do Inferno que habita na ponta daquela pena. E fico-me por essa ternária viagem para não encalhar num firme rochedo enlouquecidamente logorréico – por esta amostra para lá caminho a passos largos.
Não, ainda não me aventurei Em Busca do Tempo Perdido, e custou-me a engolir à primeira O Processo, mas havendo lido Ontem não te vi em Babilónia já me sinto apto a ler a Bíblia a fazer o pino ao mesmo tempo que escuto o Bancada Central* na
TSF, com a paciência de Jó de Fernando Correia – Deus lhe dê 140 anos de vida
O último romance do ALA é simplesmente intragável e nem ponho em hipótese uma releitura por eventual cometimento de crime de tresleitura, prefiro que me enforquem em directo na TVI ou me enlivrejem com o livro-do-qual-não-gosto-de-falar-mas…

Depois há a deliciosa frase de Armando Silva Carvalho, citada pelo
João Gonçalves, quando o primeiro elege aquela coisa:
«E, por fim, o livro de Carolina Salgado, que teve a qualidade de fazer vir ao de cima não aquilo que escreve, mas as reacções do país medonho em que nós escrevemos.»

Falando agora da Lista retiro uma obrigatoriedade de escolha do próximo livro a ler – por agora Sou Todo Ouvidos para Mitchell, cuja escrita límpida e escorreita merece os maiores encómios do ALA. Da muito próxima centena e meia de livros que repousam em lista de espera na minha estante consta o elogiadíssimo livro de contos Um bom homem é difícil de encontrar, de Flannery O’Connor, editado pela Cavalo de Ferro e com tradução de Clara Pinto Correia. Há que rentabilizar os 13,95 euros despendidos em Junho na Fnac e este meio ano de espera não valorizou o livro, tal como o tempo faz com o meu mui apreciado líquido inebriante de terras do Douro.

Para o fim guardo o melhor e sem mais comentários, a não ser que a mesmíssima linha de raciocínio do ilustre eleitor votou ao esquecimento os livros de Manuel Maria Carrilho ao apontar a dedo jornalistas e centrais de informação corruptos e de Pedro Santana Lopes e as suas cabalas:
«“Eu, Carolina”, Carolina Salgado, Dom Quixote

Ressuscita o poder formal de um livro mudar a sociedade. Ao que lá se conta ninguém ligava antes de ser livro. Denuncia crimes e culpados. Corrupção e banditagem no futebol e na PJ, por dentro. Só por estupidez se podem apreciar os efeitos directos do livro na paralisia judicial e criticar a sua publicação e forma. Acusando o livro de não ser aquilo que ele ‘não’ é, nem nunca quis ser.
»
Por Rui Cardoso Martins

PS 1 – Quase que me esquecia de falar das escolhas da inefável Mnemónica**: elegeu apenas livros em língua inglesa: o que dizer à nossa criadagem depois do 1.º choque com a confissão de militância na esquerda?

PS 2 – Na mesma edição do suplemento do Público fiquei a saber que a Dom Quixote vai editar o romance enciclopédico de Jonathan Littell «Les Bienveillantes», vencedor do Prémio Goncourt 2006. Ai se as Fúrias se crispam de novo… para onde vai a benevolência!?

*[actualização às 15:46] Acabo de saber através deste texto de Alexandre Borges no 31 da Armada que «acabou o "Bancada Central"». O choque, o horror, o drama apoderaram-se de mim.
**Corrigido por douto alerta.

Babel

BABELHoje (ontem) fui ver Babel, o tal filme (que promete) sensação nos meios cinematográficos internacionais, havendo já arrecadado três prémios em Cannes (incluindo o de melhor realizador, o mexicano Alejandro González Iñárritu) e estando já nomeado pela HFPA para sete Globos de Ouro (sessão de entrega marcada para o próximo dia 15 em Beverly Hills).
Confesso que o seu visionamento foi condicionado por
esta opinião de Ricardo Gross (um dos meus barómetros na blogosfera no que toca à Sétima Arte). Esperava assim um filme bem distante da excelência de Amor Cão (2000) e da perfeição estética de 21 Gramas (2003). Talvez por isso, à medida que assimilava o entendimento que dele retirei após a exibição dos créditos finais, me tenha sinceramente deixado seduzir pelos argumentos de Iñárritu e companhia. Babel não é um filme de actores e muito menos de personagens (porventura intencionalmente esvaziados de densidade romanesca). Não quero com isto dizer que não há excelentes interpretações, porque Brad Pitt (Richard) está no seu melhor, Rinko Kikuchi (Chieko) encanta e surpreende com a sua destreza interpretativa, Adriana Barraza (Amelia) é simplesmente genial e o pequeno Boubker Ait El Caid (Yussef) é admirável. No entanto, este é um filme de argumento e de realização, e colateralmente de cinematografia, montagem e banda sonora*.
Vi há pouco a entrevista dada por Iñárritu onde este fala do tal efeito do “bater de asas de uma borboleta em Tóquio…” e das rotuladas desumanidades que ocorrem quotidianamente na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Resumidamente, por um lado, defende-se a tese de que isto no mundo anda tudo relacionado e, por outro, a do imperialismo despótico exercido pelos mais ricos.
Centro-me na primeira. Talvez não exista o apregoado livre arbítrio, ou talvez a sua intensidade seja menor que aquela que supostamente haveríamos convencionado. Todavia, com isto tudo uma coisa torna-se certa: dever-se-iam proibir as entrevistas à posteriori dos denominados filmmakers quando estas encerram o objectivo de orientar os sentidos do povo (aprioristicamente considerado como néscio) em determinada direcção. Esse exercício (o autor a falar daquilo que pretende com as suas obras) coarcta a liberdade contemplativa e o próprio fascínio multidimensional que uma obra de arte é susceptível de emanar. Uma coisa é a opinião dos críticos, outra é a imposição na interpretação da putativa mensagem. Por exemplo, que eu saiba, Paul Verhoeven nunca foi chamado a pronunciar-se sobre o final da sua obra-prima Instinto Fatal e tão-pouco sobre a denominada moral da história. Estou certo de que se o fizesse arruinaria o encantamento que a obra despertou e que gerou, de forma espontânea, tantas tertúlias por esse mundo fora. Neste ponto dou razão ao
Ricardo quando fala do pretensioso «messianismo» e da sub-reptícia autoproclamação de zelador da «consciência moral» pelo realizador mexicano.

Em jeito de conclusão, tentando deixar cair esses preconceitos (e alguns pós conceitos), confesso que o filme me deixou plenamente satisfeito. Dispõe de um argumento bem urdido e de uma eminentíssima qualidade de realização que, diga-se em abono da verdade, Iñárritu já nos habituou com os exemplos das suas duas anteriores longas-metragens.
Babel afigurou-se-me como uma efabulação da destruição auto-infligida pelo Homem. Lembrou-me Sebald e os seus livros (editados este ano pela Teorema em Portugal) História Natural da Destruição e Os Anéis de Saturno; a natureza humana cujos actos de destruição não conscientes se repetem pelo simples facto de se estar vivo, como uma máquina que se vai aperfeiçoando até à sua total aniquilação.
Que animal estranho este que, coabitando neste mundo com outras espécies, à partida menos inteligentes na nossa ufana concepção das coisas, que evoluem e se transformam com o fim último das suas perpetuação e sobrevivência, inexoravelmente vai caminhando, pela cupidez e pela sede insaciável de poder, para a sua própria extinção.
Babel não trata apenas da perniciosa pobreza de espírito dos ricos e poderosos, fala-nos da obstinada tentativa de uniformização da diferença que nos enriquece, como se houvesse um escrutável paradigma civilizacional que urge adoptar-se, a perfeição... a linguagem de Deus.


*Depois da excelente banda sonora em Brokeback Mountain (a única coisa que realmente considerei aproveitar-se depois de espremido o dito filme), Gustavo Santaolalla criou uma vez mais uma banda sonora perfeitamente indissociável do filme e que lhe dá vida nos momentos certos.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Tóibín

«Noel was the driver that weekend in Clare, the only musician among his friends who did not drink. They were going to need a driver; the town was, they believed, too full of eager students and eager tourists; the pubs were impossible. For two or three nights they would aim for empty country pubs or private houses. Noel played the tin whistle with more skill than flair, better always accompanying a large group than playing alone. His singing voice, however, was special, even though it had nothing of the strength and individuality of his mother's voice, known to all of them from one recording made in the early seventies. He could do perfect harmony with anybody, moving a fraction above or below, roaming freely around the other voice, no matter what sort of voice it was. He did not have an actual singing voice, he used to joke, he had an ear, and in that small world it was agreed that his ear was flawless.»
in Colm Tóibín, "A Song", Mothers and Sons (2006 UK; 2007 USA)


Para quando em português, se nem o premiadíssimo romance The Master – sobre o esteta Henry James – tem data marcada para a edição portuguesa?
O segundo melhor escritor irlandês vivo – o melhor é Banville – tem apenas dois livros editados em Portugal, e o último – O Navio-Farol de Blackwater, 1999, ed. port. 2001 – foi editado pelo Dom Quixote, que, decerto, deterá os respectivos direitos de publicação em solo luso.
Depois desta última informação está praticamente tudo dito, não será assim?

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Hannibal Rising

A notícia publicada no Sound + Vision é de João Lopes:
O famoso Hannibal Lecter criado pelo escritor Thomas Harris voltará dentro de um ano ao grande ecrã com o filme Hannibal Rising, cujo romance de base estreou há pouco mais de um mês no mercado norte-americano.
A realização está a cargo de Peter Webber – realizador de Rapariga com Brinco de Pérola – e o argumento é do próprio Thomas Harris.
O filme retrata o passado ontogenético – a infância e a adolescência – de Hannibal Lecter, personagem que será interpretado pelo jovem actor francês Gaspard Ulliel (na imagem).

Do livro, as primeiras palavras do prólogo:
«The door to Dr. Hannibal Lecter's memory palace is in the darkness at the center of his mind and it has a latch that can be found by touch alone. This curious portal opens on immense and well-lit spaces, early baroque, and corridors and chambers rivaling in number those of the Topkapi Museum.»

Do filme,
o primeiro trailer (em QuickTime da Apple) e mais informações aqui e no IMDB.

Livros do Ano 2006

Vladimir Nabokov - Convite para uma DecapitaçãoDepois de recompilar a listagem dos meus livros preferidos editados em Portugal no ano 2006, chegou a ocasião do natural balanço.
Assim, dos 55 livros editados em 2006 que tive a oportunidade de ler, cerca de 43 foram por mim destacados
aqui (1.º semestre) e aqui (2.º semestre) como dignos de serem lidos. Os restantes 12, que pontuei com 1 ou 2 estrelas, não foram e não serão mencionados.
A lista que se segue foi subdividida em 3 blocos: ficção estrangeira (10 livros); ficção nacional ou originalmente publicada em Portugal (10 livros); não-ficção, que poderá incluir ensaios literários, crítica, memórias ou produção científica (5 livros).
Dos 3 blocos destaquei um livro que, sob o ponto de vista de pura fascinação literária, foi sem dúvida, na minha mui pessoal opinião, o melhor do ano, publicado pela magnífica editora Assírio & Alvim.

O Melhor Livro do Ano
Convite para uma decapitação, de Vladimir Nabokov, Assírio & Alvim

(ordenação onomástica)

Ficção Estrangeira
A pele fria, de Albert Sánchez Piñol, Teorema
A acidental, de Ali Smith, Bico de Pena
A Sinfonia Pastoral, de André Gide, Ambar
O Mar, John Banville, Asa
Brasil, de John Updike, Civilização
Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa, Dom Quixote
Extensão do Domínio da Luta, de Michel Houellebecq, Quasi
A Valsa do Adeus, de Milan Kundera, Asa (reedição)
As loucuras de Brooklyn, de Paul Auster, Asa
O Vigilante, de Sarah Waters, Bizâncio


Ficção Nacional ou originalmente editada em Portugal
Impressão Indelével, de Camilo Castelo Branco, Guerra & Paz (reedição)
Pode Um Desejo Imenso, de Frederico Lourenço, Cotovia
Água Cão Cavalo Cabeça, de Gonçalo M. Tavares, Caminho
O Mar de Madrid, de João de Melo, Dom Quixote
Todos os Dias, Jorge Reis-Sá, Dom Quixote
Passageiros em Trânsito, de José Eduardo Agualusa, Dom Quixote
Cemitério de Pianos, de José Luís Peixoto, Bertrand
Gastar Palavras, Paulo Kellerman, Deriva
Mulher em Branco, de Rodrigo Guedes de Carvalho, Dom Quixote
O Remorso de Baltazar Serapião, valter hugo mãe, QuidNovi

Não-Ficção
O Amor Louco, de André Breton, Estampa (reedição)
O Livro do Meio, de Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa, Caminho
Sobre o Amor e a Morte, de Patrick Süskind, Presença
Pobre e Mal Agradecido, de Rui Tavares, Tinta da China
História Natural da Destruição, W.G. Sebald, Teorema

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Da Literatura

Regressado do passatempo nacional – as mini-férias – dou-me conta que o referencial Da Literatura completou ontem dois anos de existência.
Daqui seguem as devidas e merecidas felicitações não só pelo acontecimento que marca o calendário, como também pelas qualidades humanas e blogueiras demonstradas pelo seu inquilino mais assíduo, o Eduardo Pitta: temperança e acutilância, clarividência e sensibilidade, carácter e humanidade.