sábado, 20 de janeiro de 2007

Estafado e Estéril


Quinta-feira, dia de estreias no cinema e mais um dia na rotina depressiva do cidadão médio que se debate inutilmente pela alteração da substância do qualificativo: ser-se português.
Assalto e intromissão (Breaking and Entering) é o último filme de Anthony Minghella. Assalto pela Coca-Cola, tamanho pequeno, a 2,20 euros – que não costumo pedir – e Intromissão de um bronco que, em berros altamente reverberantes, falava ao telemóvel durante o filme – felizmente, longe o suficiente deste que vos escreve para que, vencida a preguiça, levasse, no mínimo, com um olhar à matador e depois um pequena ameaça com a coloquialidade que a língua portuguesa permite.
Vinte minutos de filme e sou despertado por um riso. Pronto, agora vê o filme (apetecia-me perguntar: desculpe-me, minha senhora, acaso ressonei?)
Anthony Minghella resolveu escrever – é grave para quem antes se deu bem com Michael Ondaatje, Patricia Highsmith, Samuel Beckett (curta-metragem) e Charles Frazier – e meteu água, a qual, ao invés de ser fria, despertadora de sentidos, se revelou de uma tibieza tal que, não fora a dependência, bem poderia dispensar o meu Xanax nocturno.
Minghella tenta Jude Law à Mike Nichols (Closer) e perdeu em toda a linha. A imagem de um Law burguês, abonecado, com escrúpulos e alguns desvarios lúbricos está estafada.
Robin Wright Penn vai desencantando de filme para filme desde que protagonizou Forrest Gump, já passou por uma intragável xaropada de Mandoki baseada num livreco de Nicholas Sparks, pelo pior filme de Shyamalan, por uma péssima adaptação, realizada por um novato, de um excelente romance de Cunningham, e até ao lado Jack Nicholson num pobre filme dirigido pelo marido, o gigante Sean Penn.
Juliette Binoche, todavia, escapa. Empresta toda a sua mestria ao realizador/argumentista desinspirado. Desempenha o papel de uma costureira bósnia muçulmana refugiada na zona degradada de King’s Cross em Londres.
Depois temos a historieta moral do adúltero com escrúpulos, padrasto de uma menina incapacitada, desencantado com a união de facto e empreendedor de sucesso, neste caso arquitecto, que propõe transformar o mundo a partir da reabilitação do bairro degradado. Seguem-se temas como a integração social dos refugiados, a miséria humana, o crime organizado por imigrantes de leste, o multiculturalismo e a desgraçadinha de vão de escada que, com uma fome que vem de longe, só não vende fósforos porque estes passaram de moda.
Salva-se o final… melhor, os créditos finais! Bem acompanhados pela sensacional composição Counterpoint Hang Pulse, parte integrante da banda sonora a cargo dos Underworld em associação com o magnífico Gabriel Yared, este último vencedor do Oscar para melhor Banda Sonora Original com O Paciente Inglês, também de Minghella.

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