Espero que não seja apenas um fogacho, um daqueles lampejos que sói iluminar algumas cabeças de responsáveis editoriais em Portugal, e que se agarre o touro pelos cornos publicando paulatinamente toda a obra do maravilhoso Philip Roth que, vergonhosamente, ainda não se viu enformada pela língua de Camões neste lado do Atlântico.
Foi em 1959 que Roth lançou a sua primeira obra, constituída por uma novela e cinco contos e que desde logo colocou em rebuliço o mundo das letras norte-americanas.
Em pouco mais de meio século, com 27 obras de ficção originalmente publicadas – não entrando em consideração com as dezenas de contos e ensaios, e as obras de não-ficção –, e com a publicação garantida da sua opera omnia pela Library of America, o injustiçado não-Nobel, à maneira luso-heteróclita e descontando o republicadíssimo O Complexo de Portnoy de 1969 (Portnoy’s Complaint), só tem obra publicada a partir da sua novela dialógica de 1990 Traições (Deception), editada pela Bertrand, embora ainda não exista a publicação que se lhe seguiu: Operation Shylock (1993).
Em pouco mais de meio século, com 27 obras de ficção originalmente publicadas – não entrando em consideração com as dezenas de contos e ensaios, e as obras de não-ficção –, e com a publicação garantida da sua opera omnia pela Library of America, o injustiçado não-Nobel, à maneira luso-heteróclita e descontando o republicadíssimo O Complexo de Portnoy de 1969 (Portnoy’s Complaint), só tem obra publicada a partir da sua novela dialógica de 1990 Traições (Deception), editada pela Bertrand, embora ainda não exista a publicação que se lhe seguiu: Operation Shylock (1993).
Em suma, Roth tem apenas 48% da sua obra de ficção publicada em Portugal, em que 44% se refere, apenas, aos últimos 22 anos da sua actividade literária de 53.
Amanhã, está prometido, dobrar-se-á o tormentoso cabo da metade. Uma boa esperança, espero que não vã:
«A primeira vez que vi a Brenda, pediu-me que lhe tomasse conta dos óculos. Deu uns passos até à extremidade da prancha de saltos e fitou a piscina com olhos enevoados; até podia estar vazia, que a Brenda, míope como era, não teria dado por nada. Fez uma belíssima entrada na água e, passado um momento, estava a nadar de regresso à margem da piscina, a cabeça, de cabelos curtos e acobreados, erguida no prolongamento do corpo como uma rosa na ponta de um caule comprido. Içou-se para a margem fazendo deslizar o corpo e veio ter comigo. – Obrigada – disse, de olhos aquosos mas não por causa da água. Estendeu a mão e pegou nos óculos, mas só os pôs depois de virar costas e começar a andar. Fiquei a vê-la afastar-se. De repente apareceram-lhe as mãos atrás das costas. Agarrou os fundilhos do fato de banho com o polegar e o indicador de cada mão e com um gesto rápido repôs no lugar a carne que tinha ficado à vista. Ferveu-me o sangue nas veias.[Alfragide: Dom Quixote, 1.ª edição, 2012, 304 pp.; tradução de Francisco Agarez; obra original: Goodbye, Columbus; 1959.]
Nessa noite, antes de jantar, telefonei-lhe.»
Philip Roth, “Goodbye, Columbus”, Goodbye, Columbus e cinco contos, pág. 15.