quarta-feira, 18 de julho de 2007

Algum Abandono

Capítulo I
Ando arredio. Por vezes, este exercício catártico a que se convencionou chamar de blogosfera – quiçá por disfuncionalidade anatómica ou por dislexia orgânica, nunca a vi como “extensão da pila” (deixemo-nos de pruridos penianos) – deixa-me prostrado, sem ânimo, o cursor a pulsar sobre a folha branca antes do copy & paste, as ideias formigam na minha cabeça, seguem num curso definido e delimitado, mas frequentemente acabam por desembocar num delta, gigantesco, pantanoso… assalta-me um sentimento de vazio: não têm ponta por onde se lhes pegue.

Capítulo II
Livros. Não me sinto capaz de encontrar um simples fio que me conduza à materialização das emoções que se me afloraram durante a sua leitura num texto estruturado. O livro de Palahniuk, que terminei há 5 dias, é medonhamente mau, é pura e simplesmente literatura rasca. Escrevi um monte de parágrafos e não os consigo encaixar num todo conexo que seja capaz de exprimir o meu sentimento de desagrado... repousa para amadurecimento. O mesmo se passa com Aqui Nos Econtramos de John Berger, embora com alguns sentimentos misturados, um belíssima primeira parte e um final um pouco fastidioso. Terminei-o há dois dias, atribuir-lhe-ia talvez 4 estrelas – Bom – mas não consigo encontrar as palavras. Cansam-me as remissões ao texto escrito, tenho preguiça de as procurar. Já para nem falar nalguma frase tipicamente de literatura comparada que, em certas ocasiões, aponho nos meus textos curtos de avaliação pessoal de uma obra. Pensei em Vertigens. Impressões de Sebald, Berger fez-me recordá-lo, porém não vislumbro as palavras que permitam consubstanciar a suposta semelhança entre as duas obras.

Capítulo III
Depois… Depois há a hora habitual do exercício da escrita na blogosfera. Aproveito o silêncio que prepondera no intervalo de tempo em que o trio fantástico de pares de cromossomas X inicia a sua peregrinação ao mundo dos sonhos, e eu, um insone por excelência, ainda vagueio pela casa inventando coisas – a ler, a comer, a ver televisão ou DVD, mais um iogurte com cereais, mais um livro, a escrever no blogue, and so on – antes de me deitar e dormir 4 ou 5 horas... OK, é pouco e eu não sou o Marcelo Rebelo de Sousa, recupero-as (refiro-me às horas de sono perdido) aos fins-de-semana.

Capítulo IV
Não é justo!, assevero com uma estranha indignação. A RTP2 anda a passar o Curb Your EnthusiasmCalma, Larry em Portugal – do genial argumentista e produtor de Seinfeld Larry David. A 1.ª temporada foi exibida na íntegra na semana passada – dois episódios por dia, nos dias úteis. Esta semana iniciou-se a 2.ª temporada – que ainda não havia visto. Há pouco mais de 1 hora acabei de ver os 3.º e 4.º episódios. Talvez se recordem: (3.º ep.) “Trick or Treat”, as meninas adolescentes que vão à porta da casa de Larry para o costumeiro “trick or treat?” na noite de halloween e que são corridas por este pela bitola idade e a qualificação de “vagamente disfarçadas”, mas também é o episódio do assobio do arranjo orquestral Idílio de Siegfried de Richard Wagner que o compôs para oferecer à sua mulher, Cosima, no dia do seu aniversário… a propósito Cheryl faz anos; (4.º ep.) “The Shrimp Incident” lembrem-se dos camarões que faziam parte do prato encomendado por Larry e que, alegadamente, o patrão da HBO comeu, por uma infeliz troca de encomendas, mais tarde remediada porém desfalcada de 8 dos precisosos bichos… É o episódio onde Larry é acusado de violência doméstica e de misoginia pelo uso da palavra “cunt” numa mesa de póquer. Alguém sai do armário…

Epílogo
A hora do silêncio é agora ocupada por Larry David
Para os 7 (e estou a ser generoso) que me lêem com atenção, as minhas desculpas. Queixem-se à HBO e especialmente à RTP2, cada vez melhor na sua criteriosa programação.

Rebuçado

4 comentários:

Anónimo disse...

Para quem está com bloqueio de escritor está com a corda toda. Como dizia o Eça, vá-se pela água abaixo o pensamento, mas salve-se a bela frase!

Anónimo disse...

Obrigado, André, nem me tinha apercebido que estava a dar a segunda temporada do Curb Your Enthusiasm. Não é só por isto, mas isto chegava para continuares a vir ao blogue de vez em quando.

Um bem-haja.

Anónimo disse...

Li o seu post como muita atenção, digo-lhe que gostei, do conteúdo sobretud; Apesar de sinceramente, na maior parte das vezes não entendi o que escreveu.

Anónimo disse...

Obrigado meus caros. Ponho-me a escrever sobre o nada e... sai uma perfeita inutilidade.

Abraços