São só cinco minutos. Volto já (erigi a placa infernal) ao
conforto identitário das trevas na época de triunfo dos esbirros das nobres
causas e dos actos majestáticos – os que confortavelmente se consideram semideuses, pais da pátria, canalhas impunes no alto da sua torre de marfim.
E porquê? Apenas para aplaudir o magnífico trabalho da Asa
na limpeza de esteticista dos vetustos frontispícios das obras de Paul Auster.
São deslumbrantes e o Miguel Seara mostra-as aqui em pormenor.
Aproveito a oportunidade para a publicação da minha volúvel
austerlista, que talvez se manifeste numa estranha, porque disciplinada,
recapitulação bienal, pela recordação de um instante, o punctum que sobrevém pela
câmara clara da minha memória:
- Leviathan (1992)
- A Música do Acaso (The Music of Chance, 1990)
- A Trilogia de Nova Iorque (The New York Trilogy, 1987)
- Invisível (Invisible, 2009)
- O Livro das Ilusões (The Book of Illusions, 2002)
- Palácio da Lua (Moon Palace, 1989)
- No País das Últimas Coisas (In the Country of Last Things, 1987)
- Sunset Park (2010)
- Timbuktu (1999)
- Mr. Vertigo (1994)
- As Loucuras de Brooklyn (The Brooklyn Follies, 2005)
- A Noite do Oráculo (Oracle Night, 2003)
- Homem na Escuridão (Man in the Dark, 2008)
- Viagens no Scriptorium (Travels in the Scriptorium, 2006)
Imerjo, com o capacete de bombeiro… Por vezes a
identificação estética é abalada por uma certa obscenidade de discernimento que
estilhaça a convicção do mais devoto, embora neste caso, conceda, é sempre
auto-reparável.
«1952. Aos cinco anos, despido na banheira, só, suficientemente crescido para te lavares sem ajuda, e enquanto estás estendido de costas na água quente, o teu pénis fica de repente erecto, emergindo acima da linha de água. Até esse momento, apenas havias visto o teu pénis de cima, de pé e a olhar para baixo, mas a partir desta nova posição estratégica, mais ou menos à altura da linha de visão, discorres que a ponta do teu órgão masculino circuncidado exibe uma semelhança notável com um capacete. Um género antiquado de capacete, como o que os bombeiros usavam nos finais do século XIX. Esta revelação é-te agradável, porque nesta altura da tua vida a tua maior ambição é seres bombeiro quando cresceres, considera-lo como o trabalho mais heróico à superfície da terra (sem dúvida que o é), e quão conveniente é que tenhas um capacete de bombeiro esculpido em ti próprio, precisamente na parte do corpo que, para além disso, se parece e funciona como uma mangueira.»Paul Auster, Diario de invierno (Winter Journal), pág. 22.[Tradução: AMC; edição espanhola da Anagrama, Fevereiro de 2012 – a edição original americana é publicada em Agosto.]