segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Olsen, Elizabeth Olsen


Fixai este bom nome (no final até serão dois). Não é Martha, nem Marcy May e tão-pouco Marlene. São todas elas subsumidas numa personagem áspera, obscura, elíptica, impenetrável e assustadoramente silenciosa, com momentos desconcertantes de irrupção raivosa – válvula de escape de uma fúria que se usa esparsamente como um mecanismo retemperador de uma mente perturbada (um copo partido sem razão aparente, um inexplicável desvario com um desconhecido barman ocasional – chamado Mike, talvez o M do martírio – numa festa dada pelos seus anfitriões – irmã e cunhado – aos seus amigos na casa de sonho junto ao lago, uma vil acusação lançada à irmã sobre as suas eventuais competências como futura mãe), com quê ou porquê? Se tudo começa no idílio… Esses momentos de ira e descontrolo são apenas fogachos de uma transformação temperamental súbita numa interpretação de tirar o fôlego de uma jovem actriz que se apodera de todas as personalidades, Martha Marcy May Marlene, sem que se vislumbrem os contornos idiossincráticos da existência fora da grande tela da californiana, nascida em 1989, Elizabeth Olsen – embora o quase anonimato anterior da actriz venha em auxílio dessa proposição, e até isso foi um acto deliberado do próprio autor.
[Atenção: o parágrafo seguinte pode conter pistas para o desenlace da obra.]
Uma história aparentemente linear, assinada pelo realizador Sean Durkin, que com a sua mestria nos avanços e recuos temporais da narrativa, nas imagens interpoladas que surgem como se fossem sequências de um continuum, bem representativo da mente perturbada da protagonista – sonho, realidade, fluxo encolerizado de um ego ferido (sobrevêm reminiscências da prodigiosa adaptação kubrickiana de Arthur Schnitzler) –, submerge o espectador num crescendo de violência e terror, uma espiral imparável de pavor e de espanto, elevando o medo ao paroxismo, imprevisível no início no paraíso comunitário hippy, com a sequência final: plano semicerrado sobre Olsen, deixando suficiente amplitude para entrever pelo exíguo vidro traseiro de um carro desportivo a aproximação de um clímax brutal ao som do ronronar de um potente motor (da América endinheirada e protegida) e de vozes off de uma indignação receosa, subitamente interrompidas por um inopinado fade out. Plenamente em suspenso…
Quanto a Sean Durkin, tal como me ocorreu em 2009 com Jeff Nichols e a sua maravilhosa estreia com o inquietante e inesquecível Histórias de Caçadeira (Shotgun Stories, 2007), ficou a firme convicção de um futuro promissor – depois de Antonio Campos, mais um que se revela do esperançosamente fabuloso trio fundador da empresa nova-iorquina Borderline Films.

Começa bem o ano cinematográfico em Portugal.