segunda-feira, 24 de abril de 2006

O meu encontro com a leitora

– Estou, Luís?
– Lamento, aqui não há nenhum Luís… Hum, reconheço-lhe a voz... essa rouquidão entaramelada…
– Com quem estou a falar?
– Com o André, leitora! É isso, não é? Há
manchas no seu passado que a induziram ao engano na marcação do número!
– Ah! O insurgente André!
– Engana-se, maculada leitora! Errou por muito... sou menos lido! É o André do
Porque!
– …
– Não sabe quem sou?
Boémia!?
– Isso! Viu o número naquele rótulo húmido de cerveja tépida… nas bifanas do Victor!
– Desculpe-me! Mas vou desligar! Não me apetece…
– Calma! Sempre pode dizer alguma coisa, eu não…
– Cale-se, seu porco! Ainda me lembro da sua ousadia!
– Mas… Mas, só me limitei a retirar-lhe o molho da sua blusa Moschino! A existir culpa, foi da bifana que se engastou nesse vale…
– Eu não estava capaz de me controlar… o Porto… a cerveja quente a entranhar-se-me no sangue…
– Sabe, hoje em dia, a culpa não é só da testosterona! Vocês têm vontade e normalmente satisfazem-na. Somos meros joguetes nas vossas mãos! O Cabo do Mundo, lembra-se? Nova Iorque fora de horas! Usou-me, ou não?
– Ah, essa é boa! Seu... a desresponsabilização masculina perante a emancipação da mulher! Vocês só pensam… bem, hum, com aquilo…
– Porquê? Não gosta? Não me diga que agora é uma feminista misândrica!
– Vou desligar, não estou para…
– Vá lá, já desliga. Agora, satisfaça-me só uma curiosidade. O
Luís – ao contrário de si, na roulotte nos Aliados – nem sequer se referiu à vitória de sábado, o que sabe disso?
– Olhe, ao Luís pouco lhe importa o futebol e essa tribo repulsiva a que vocês, homens, pertencem!
– Vindo de si, quem diria!?
– Vá pró car…
– Não se excite! Já bastou sábado!
– Está a chantagear-me?
– Não, não estou! Só queria que me fizesse um favor…
– Pois… vindo de si...!
– Eu sei que ao
Luís não lhe interessa o futebol! Mas mesmo assim dê-lhe os parabéns por mim! Não a incomodo mais prometo-lhe!
– Hum… OK, dir-lhe-ei!
– Obrig… Olha desligou!

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