Depois de (des)carregada, voltarei em força na próxima 3.ª feira.
Até lá!
«Glenn Gould said, "Isolation is the indispensable component of human happiness."» [Contraponto] «How close to the self can we get without losing everything?»
Don DeLillo, “Counterpoint”, Brick, 2004.
«Na impossibilidade de Voltaire estar presente (e a Câmara Municipal de Lisboa também escusa de lhe escrever a felicitar pelo livro) (…)»
Agora consulte este sítio que inclui todo o conteúdo da edição especial que acompanhou a Visão n.º 638.
Eis a capa do n.º 686 da revista balsomónica Visão, publicada a 27 de Abril de 2006:
No interior surge o texto «Figura: Co Adriaanse, o treinador sem medo» [sem ligação para o artigo, pressupostamente em edição especial, deverá conter cerca de 500 páginas*]
Nota: o próximo quebra-cabeças será publicado em breve, com o patrocínio do Grupo Cofina.
(admirados com as manifestações?)
*[actualizado em 28/04/2006 às 18:36] Afinal, trata-se apenas de 1 página e não de 500, como por erro referi (confirmado não pela compra - jamais - mas por uma discreta espreitadela no escaparate de uma tabacaria).
Prostrado, sentado em frente ao teclado, nem tese, nem blogue. Não me saem as palavras de Cervantes, tão-pouco as de Camões.
Lá fora o mundo pula e avança, num bulício que enjoa só de olhar. Exauriram-se-me as forças e parece que o mundo vai acabar. Leio Tabucchi, mas canso-me a cada duas páginas e assalta-me uma angústia que me divide em dois: não deverias estar a escrever a tese? Olhas os prazos! Não escreveste uma linha sequer!?
Como se fosse isso, páginas em branco à espera de serem marteladas por cúmulos de doutrina que repousam em hibernação na minha cabeça.
Como se não precisasse de paz, de inspiração, de quietação!
Como se num gesto de pura magia brotassem parágrafos em barda, dispostos segundo os cânones do método científico, com notas de pé de página que cita aquele que cita o outro, que por sua vez ejaculou a puta de uma teoria que sabemos que não está certa mas é a que existe e é a que se convencionou utilizar. Somos reféns dos econometristas, dos matemáticos, daqueles cérebros de "2+2" que vomitam fórmulas para nos facilitar a vida! Que merda de ironia!
Faz a tese! Vem-te, porra!
Se houvesse um galardão para o labor mais estúpido do mundo, esse iria, com certeza, para o processo de fabricação de uma tese, ou melhor, para invenção de um modelo que satisfaça uma turba douta e sapiente, que do tema nada percebe, mas que se masturba com duplos integrais, somatórios, produtórios, derivadas, limites, regressões, citações, chavões… puta que os pariu!
Ouço Sigur Rós, Hoppípolla, marejam-se-me os olhos, adensa-se o nó na garganta.
Agora, por fim, ouço Brel…
«Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des
malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le cœur du bonheur
Ne me
quitte pas
(...)»
Já a seguir retomo Tabucchi e as memórias do gangrenado Tristano. Pode ser que volte… o estro!
«As comemorações de vitória do FCPorto são das coisas mais rascas e abjectas que passam na televisão. A reboque de uma mera vitória desportiva, levamos com um chorrilho de palavrões e gestos de ódio, verbal e físico, como raramente se vê e ouve. Não há pinga de alegria naquela gente, só álcool. Daquelas bocas só saem duas coisas: palavras de ódio para com os adversários, num vernáculo repetitivo, sem graça; incitações ao ódio regionalista, num timbre desmiolado, animalesco. Mas, enfim, como se trata de futebol, ninguém repara, ninguém se importa, ninguém leva a mal.»
«Ó senhor subdirector,
Com o cargo que ocupa não deveria documentar-se e verificar que todas as comemorações de todos os clubes, sem excepção, são de um trogloditismo primário?
Ainda não decorreu 1 ano e já se esqueceu dos impropérios avermelhados?
Não se lembra da triste final da Taça entre o Sporting e o Benfica com a morte de um adepto, assassinado pelo lançamento de um very-light?
Esqueceu-se das pedras arremessadas e cânticos de ódio, de uma obscenidade gritante, aquando da entrega da Taça [de Portugal] aos jogadores do Porto – conquistada ao Sporting – pela então Ministra da Educação Manuela Ferreira Leite?
Esqueceu-se do apedrejamento do Dr. Domingos Gomes quando este, em Alvalade, socorria jovens sportinguistas que caíram de um varandim para insultar e apedrejar os jogadores do Porto quando estes chegavam ao estádio de autocarro?
E poderia continuar!
Como jornalista que é, considero incrível essas características de memória selectiva e de completa parcialidade na análise dos factos, agravadas pela condição de ser subdirector de um jornal nacional, o Diário de Notícias.»
«Teria votado nele para a presidência da câmara, mas concluo que este homem se transformou no Wally da nossa República.»
Nota: *Via este texto do Afonso, publicado no Bombyx Mori.
Há pouco tive a feliz oportunidade de ver o que nos espera no próximo Quadratura do Círculo na SIC-Notícias, com emissão garantida para as 23 horas de hoje.
Parafraseando o Simão Sabrosa – aquando da entrega do troféu “A Bola de Bronze”, há uns anos atrás –, ambos os três foram unânimes ao considerarem aqueles que se indignaram com a debandada parlamentar na véspera da quinta-feira Santa como demagogos e populistas.
Chegou-se ao cúmulo de se afirmar que o nosso parlamento funciona numa lógica partidária – o que é a mais pura das verdades, significando que se esqueça de uma vez por todas a representatividade dos círculos eleitorais – logo a verificação do quórum nem seria assim tão necessária!
É de bradar aos céus!!!
Nesse sentido, proponho que se reduza o número de deputados a 1 por cada grupo parlamentar, onde cada qual deteria o correspondente à fracção do número de deputados eleitos sobre o número total de deputados da câmara.
Um exemplo bem elucidativo:
Assim, poupar-se-ia o montante correspondente a 224 ordenados na actual legislatura.
A actual quadratura vê-se grega para explicar determinadas evidências e, depois, à laia de Arquimedes de paróquia, encontram a solução através da trissecção do ângulo: o consenso!
Mais um mistério resolvido!
Deo Gratias!
Depois do que foi dito, nada melhor do que lembrar estas palavras para traduzir alguns silêncios que se tornam ensurdecedores:
«What the world expects of Christians is that Christians should speak out loud and clear, and that they should voice their condemnation in such a way that never a doubt, never the slightest doubt, could rise in the heart of the simplest man. That they should get away from abstraction and confront the blood-stained face history has taken on today. The grouping we need is a grouping of men resolved to speak out clearly and to pay up personally. When a Spanish bishop blesses political executions, he ceases to be a Christian or even a man; he is a dog just like the one who, backed by an ideology, orders that execution without doing the dirty work himself. We are still waiting, and I am waiting, for a grouping of all those who refuse to be dogs and are resolved to pay the price that must be paid so that men can be something more than a dog.»
Albert Camus, discurso proferido num mosteiro dominicano, 1948
Destaco alguns judeus, deuses literários:
Isaac Asimov, Max Aub, Paul Auster, Saul Bellow, Edgar L. Doctorow, Nadine Gordimer, Franz Kafka, Norman Mailer, David Mamet, Arthur Miller, Michel de Montaigne, Boris Pasternak, Harold Pinter, Marcel Proust, Philip Roth, J. D. Salinger, Susan Sontag, Leon Uris, Ludwig Wittgenstein.
Por pura coincidência, ou talvez não, a versão em texto do programa televisivo de domingo passado de «As Escolhas de Marcelo» na RTP1 surge com a menção de «Texto indisponível». No entanto, existe a versão em linha do vídeo com som no formato RealPlayer e há ainda a possibilidade de transferir ou de ouvir em linha o ficheiro de som em formato mp3.
Relativamente ao que referi neste texto, a propósito das palavras proferidas por Marcelo Rebelo de Sousa sobre os deputados eleitos pelo Círculo Eleitoral de Braga – no qual Marcelo está recenseado pelo concelho de Celorico de Basto – cabia em primeiro lugar verificar a lista de deputados eleitos pelo Partido Social Democrata. Como referi no texto mencionado, foram ao todo 7 deputados eleitos pelo PSD num total de 18 – 9 pelo PS, 1 pelo CDS/PP e 1 pelo PCP.
Hoje os serviços da Assembleia da República publicaram, no Diário da Assembleia da República, referente à X Legislatura – 1.ª Sessão Legislativa, na I série – n.º 112, de 13 de Abril de 2006, a lista de deputados faltosos, que se poderá subdividir em 2 situações:
Assim, dos 7 deputados eleitos por Braga do PSD, verificaram-se 3 tipos de comportamento:
Excertos das conversas de Marcelo – extraídos do ficheiro áudio:
Bem, a ver vamos se uma vez mais há justificações de falta que serão reputadas de aceitáveis, e se não o forem se a culpa não morrerá, como sempre, solteira!
É uma vergonha!
«Os adolescentes ameaçam que se suicidam. Os «adultos» ameaçam que fecham o blogue.»
Marcelo Rebelo de Sousa, cidadão eleitor do círculo eleitoral de Braga, prometeu, hoje em directo no seu programa de televisão «As Escolhas de Marcelo» na RTP1, que se iria certificar se os deputados do PSD que ajudou a eleger por Braga teriam faltado à sessão parlamentar de quarta-feira passada na Assembleia da República.
Marcelo disse mais, fez depender o seu voto no PSD nas próximas eleições legislativas no comportamento assumido pelos deputados em causa – caso não tivessem comparecido sem justificação de força maior – e que tudo iria fazer, desde que ao seu alcance, para que os prevaricadores não se candidatassem uma vez mais pelo seu partido.
Assim, atendendo ao eminente sentido de Estado e de serviço público deste blogue, publicam-se os nomes dos deputados em exercício na actual legislatura, eleitos pelo círculo eleitoral de Braga pelo Partido Social Democrata:
(Nota: esta é apenas a lista dos deputados por Braga eleitos pelo PSD, não é a lista dos faltosos)
Olhando bem e estando atento à realidade política nacional, há, pelo menos, 3 nomes da lista de 7 que, a terem prevaricado de acordo com a directriz marcelista, irão fazer mossa no partido em causa e motivar muitos editoriais, muitos artigos e entrevistas, e uma salutar, e cada vez mais importante no contexto global, discussão na blogosfera.
Eu, humilde eleitor e agreste contribuinte, espero que a medida apalavrada se imponha e que, desta feita, se acabe com a impunidade destes esbanjadores – é um eufemismo – dos dinheiros públicos.
Muitas vezes os grandes exemplos e as medidas profilácticas provêm destes micro-episódios que, aparentemente, costumam resultar num impune nada para o perpetrador.
A ver vamos!
Nota: O texto completo da emissão de hoje será publicado na íntegra no sítio do programa, assim como o habitual ficheiro de som em formato mp3 ou em vídeo através da aplicação RealPlayer.
Adenda: Ler este artigo do Paulo Gorjão, no Bloguítica, onde já se prognosticava o que iria ser dito hoje.
Ainda vou nos 33! Anos percorridos com sobressaltos, alegrias, perdas intoleráveis, tristezas profundas, júbilos, desencantos e momentos de exultante euforia.
(Segundo os cânones, ainda desfrutarei, pelo menos, da outra metade do percurso e, talvez por isso o desígnio da morte só se sublima em mim através das perdas que irremediavelmente ainda virei a sofrer. É esse o mal de amar! Um sentimento que requer reciprocidade, mas que, na maioria das circunstâncias, é de um egoísmo exacerbado, quase parasitário das emoções da contraparte, cerceador da liberdade alheia e circunscritivo da sua conduta. Como uma imagem reverberada por um espelho, vemos os outros em função de nós próprios.)
Os parêntesis que delimitam o parágrafo anterior foram colocados à posteriori quando, num estado de lucidez – ler texto desassossegado em epígrafe neste blogue –, reparei que divagava a bom divagar.
Voltando ao assunto sobre o qual me apetece discorrer.
Dizem que com a idade, principalmente quando se dobra o difícil cabo dos 50, as pessoas ficam mais piegas, mais susceptíveis a estados de comoção, até mais compreensivas e dóceis, com uma certa dose de loucura reminiscente (percebida) e remanescente da juventude (inconsciente).
Ao 10.º romance, damos por nós a lembrar que Auster já não é uma criança, o jovem escritor da Trilogia ou do Palácio da Lua. Falta menos de um ano para Paul completar os seus sessenta anos, precisamente a idade do seu protagonista-narrador, Nathan Glass, incluído no seu último romance «As Loucuras de Brooklyn».
Auster não está melhor, nem pior, está diferente!
Não está diferente na forma de abordar o acaso – eternamente presente na sua obra – e as consequências implacáveis dos pequenos grandes episódios que preenchem a nossa vida. Não está diferente na inclusão do aparentemente insignificante que tudo significa na narrativa. Contudo, está menos sério na substância – e entenda-se aqui por “menos sério” como qualificativo do grau de comicidade –, mais solto e mais arejado, não tão carregado, embora “a miséria humana” permaneça o seu tema central.
Provavelmente, este é o menos austeriano dos seus romances. Não exige o mesmo grau de introspecção que romances como «Palácio da Lua», «Timbuktu», «Leviathan» ou até «O Livro das Ilusões» exigem. Não é tão hermético e negro como «A Trilogia de Nova Iorque»; nem tão violento, exasperante e trucidante como «A Música do Acaso».
«As Loucuras de Brooklyn» é o seu primeiro romance a mencionar acontecimentos que afectaram de forma marcante os Estados Unidos e que deixaram feridas ainda muito longe de cicatrizar na sociedade americana: as eleições presidenciais de Novembro de 2000 e o famoso imbróglio judicial no Estado da Florida, e os atentados de 11 de Setembro 2001.
Avaliação final: omitida por falta de imparcialidade!
Em jeito de nota final – para mais não roubar ao prazer da sua descoberta –, deixo aqui ficar uma classificação muito pessoal, por ordem de preferência e de entusiasmo literário, de 8 dos 10 romances já publicados por Auster até à data:
Notas:
(1) Infelizmente, ainda não li, e já conhecem os meus critérios – linguísticos – os romances «In the Country of Last Things» (1987) e «Mr. Vertigo» (1994).
(2) Obviamente, foram excluídos da lista os seus ensaios, poesia e argumentos para filmes – igualmente deleitáveis.
«Não percebo essas associações que alegadamente se dedicam à defesa dos animais. Protestam por tudo e por nada, mas não se lhes escuta uma palavra que possa ajudar a salvar aquela pobre águia, Vitória se chama (?!), aviltantemente forçada, um domingo após outro, à tortura de ver jogar tão mau futebol.»