Bocejo de previsibilidade.
Prática abandonada em 2009, quando iniciei o programa de
desintoxicação dos Óscares da Academia – técnica dos 12 passos –, retomo, à guisa de serviço público, ao exercício de publicação da habitual lista dos filmes com maior número de nomeações (este
ano integram a referida lista 8 filmes com 4 ou mais nomeações) seguindo o
critério usado na fase oscarómano:
[Critério: Em destaque (a bold) as nomeações pertencentes ao
denominado Top 5, ou seja, aquelas que se inserem nas cinco categorias
artísticas consideradas como as mais importantes na atribuição do galardão:
melhores filme, realização, argumento (original e adaptado), actor principal e
actriz principal. Ao lado do número de nomeações para cada filme, figurará o
número de nomeações para o Top 5, seguida da notação “+”.]
– A Invenção de Hugo / Hugo (11 nomeações, 3+)
Argumento Adaptado – John Logan
Banda Sonora Original – Howard Shore
Direcção Artística
Efeitos Especiais
Efeitos Sonoros
Filme
Fotografia
Guarda-Roupa
Montagem
Realização – Martin Scorsese
Som
– O Artista / The Artist (10 nomeações, 4+)
Actor – Jean Dujardin
Actriz Secundária – Bérénice Bejo
Argumento Original – Michel Hazanavicius
Banda Sonora Original – Ludovic Bource
Direcção Artística
Filme
Fotografia
Guarda-Roupa
Montagem
Realização – Michel Hazanavicius
– Cavalo de Guerra / War Horse (6 nomeações, 1+)
Banda Sonora Original – John Williams
Direcção Artística
Efeitos Sonoros
Filme
Fotografia
Som
– Moneyball – Jogada de Risco / Moneyball (6 nomeações, 3+)
Actor – Brad Pitt
Actor Secundário – Jonah Hill
Argumento Adaptado – Steven Zaillian, Aaron Sorkin e Stan
Chervin
Efeitos Sonoros
Filme
Montagem
– Os Descendentes / The Descendants (5 nomeações, 4+)
Actor – George Clooney
Argumento Adaptado – Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash
Filme
Montagem
Realização – Alexander Payne
– Millennium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres / The Girl
with the Dragon Tattoo (5 nomeações, 1+)
Actriz – Rooney Mara
Efeitos Sonoros
Fotografia
Montagem
Som
– Meia-Noite em Paris / Midnight in Paris (4 nomeações, 3+)
Argumento Original – Woody Allen
Direcção Artística
Filme
Realização – Woody Allen
– As Serviçais / The Help (4 nomeações, 2+)
Actriz – Viola Davis
Actriz Secundária – Jessica Chastain
Actriz Secundária – Octavia Specter
Filme
Para mais pormenores consultar a notícia aqui.
Apesar de apenas ter visto três dos oito filmes aqui
apresentados (Meia-Noite em Paris, Millennium 1 e Moneyball), os restantes não
me são em nada apelativos para uma sessão paga em frente da grande tela cinzenta: um cavalo-herói inteligente, talvez de origem judaica, supostamente perlado de lágrimas
spielberguianas; um eventual chico-espertismo francês de Hazanavicius que tirou
o mudo da cartola com auxílio de um dotado cão Jack Russell (figas para que este alce a pata traseira e abarque a estatueta num fluido amplexo dourado em pleno palco do Kodak); e Hugo do quase
septuagenário Scorsese que apenas agora, qual criança apurando os sentidos,
descobriu o poder das novas tecnologias, embora as suas cinefilia e erudição
cinematográfica poderão fazer admitir o esboço de uma tentativa para uma ida ao cinema.
Depois, o pior: não se faz!, não se compensa Malick com aquelas nomeações apenas para americano ver e aplaudir – de pé, de preferência – o incomensurável sentido de justiça e o enorme bom senso dos membros da Academia, onde se encaixa, do mesmo modo, o Tinker Tailor... de Tomas Alfredson, e a atribuição de categorias técnicas a Fincher; as inexplicáveis zero nomeações para Melancolia e
para Clint Eastwood (embora do seu filme a concurso, J.Edgar, disponha apenas da apreciação escrita de alguns cinéfilos que me vão merecendo todo o crédito); o já conhecido desprezo pelos documentários de Herzog, e tudo para consagrar, como é mais que previsto, o petulante alemão com aquele cabelo indescritivelmente
amaricado e a sua Pina; e os indies?, nada, como sempre no anquilosado reino da indústria de Hollywood; e
por fim 2 nomeações 2 para aquele objecto pegajoso, que se qualificou por
fílmico porque dispõe de imagens em movimento (peristáltico, decerto), chamado A Melhor Despedida de Solteira
(Bridesmaids).
Será que, pela primeira vez em duas décadas, ficarei na caminha – como o
lançador do peso na China – a aproveitar o calor do meu processo endotérmico, enquanto,
no próximo dia 26 de Fevereiro, no Kodak (em fecho de portas) Theatre se pratica o
arremesso da estatueta dourada?
A ver vamos.
A ver vamos.