A propósito do meu texto anterior, o Nuno Góis do blogue com título sugestivo Nem Paz, Nem Guerra, pôs em evidência duas questões bastante pertinentes referentes à minha intenção de boicotar a compra de livros de determinadas editoras que não se dignaram a estar presentes, de forma individual – para que se entenda, já que muitas se fizeram representar por distribuidoras, com um escassíssimo número de títulos postos à disposição do público –, na 78.ª edição da Feira do Livro do Porto (FLP).
A primeira questão, resulta da impossibilidade de boicotar – ou recusar-se a adquirir – livros de uma determinada editora, quando o que, na realidade, importa é o produto em si, a obra e o seu autor. Ora, as editoras não vendem produtos indiferenciados que podem ser adquiridos com os mesmos requisitos noutras editoras, há os direitos de autor e de publicação. No caso de uma obra de meu interesse ter sido publicada por uma destas editoras, vou ter de, à socapa do meu polícia interior, infringir o boicote auto-imposto – aliás, passada a efervescência é o que irá ocorrer com frequência, tornando-se regra, derrogando assim o boicote.
A segunda, tem que ver com as enormes diferenças de recursos financeiros que podem ser observadas entre as diversas editoras nomeadas na dita lista. Muitas são pequenas editoras, que vivem com dificuldades económicas e financeiras e que lutam pela sobrevivência dia a dia no cruel mercado editorial nacional – há os David e os Golias – com sede e zona principal de actividade fora da região coberta pela FLP. Logo, os custos associados à manutenção de um stand individual, adicionando-se os necessários encargos com os recursos humanos, tornariam esse objectivo quase impraticável. Nesse grupo e olhando para a lista de 20 editores e livreiros por mim enunciada, talvez – o emprego deste advérbio deriva do desconhecimento da verdadeira situação económico-financiera de cada uma, individualmente – deva incluir editoras como: Alêtheia, Antígona, Cavalo de Ferro, Colibri, Fenda, Guerra e Paz, Nova Vega, Sextante e Tinta-da-China. Todavia, há outras de dimensão aparentemente similar que estão presentes na FLP. São critérios...
Porém, o que é mais revoltante em toda esta história de ausências importantes da FLP, advém do desinteresse dos grandes grupos editoriais, alguns com inúmeras lojas abertas ao público na região, sem que fosse dado qualquer tipo de explicação, ou então no caso de o ter sido, a justificação tem por base uma fundamentação tão irritantemente ridícula que se subsume num puro insulto à inteligência dos seus destinatários (grupo em que me incluo) – seria preferível apelidarem-nos de forma directa, sem atavios e circunlóquios, de burros e ignorantes; assim, pelo menos, a honestidade em todo este processo de aparente segregação sairia vencedora.
- Porque é que a Bertrand (Direct Group – Bertelsmann) não está presente?
- Porque é que a Guimarães (de Paulo Teixeira Pinto), após a sua reestruturação radical que acicatou a curiosidade dos interessados por assuntos literários, não se dignou a comparecer no Porto, onde reside um dos seus ícones, Agustina Bessa-Luís, que, durante anos, foi a verdadeira salvadora da dita editora à beira do colapso empresarial?
- Porque é que a LeYa se fez representar por uma distribuidora, depois de tanto alarde mediático com as suas aquisições, eventos culturais e prémios literários milionários?
- E a Fnac? Que explicações terá para dar aos seus clientes das suas lojas na região?
É este menosprezo que não se entende e que tem de ser justificado, com razões coerentes e plausíveis, a toda uma comunidade, que só na sua área metropolitana (da Póvoa a Espinho, do Porto a Arouca), alberga quase 1,7 milhões de pessoas* (a de Lisboa, por exemplo, tem uma população de quase 2,8 milhões*)
*Fonte: INE, INE/Metrex GAMP, 2008