sábado, 26 de julho de 2008

Acima de Ledger

Aaron Eckhart em O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008)
Ou melhor, o próprio actor excedeu-se, ultrapassou a barreira da sua mediocridade interpretativa, estabelecida, ironicamente, em todos os filmes, sem excepção (gay sheepboys, incluído), em que participou até ao penúltimo. Em The Dark Knight, os irmãos Nolan deram-lhe seguramente a hipótese para brilhar – é um papel num milhão. Não pretendo significar com isto, no entanto, que qualquer actor inserto na pele do personagem delineado pudesse atingir tal grau de resplandecência. Não, é aí mesmo onde se aloja a questão, toda a interpretação de Ledger é superação, esforço e dedicação, que até pode ser entendida pelo perfil histórico-fílmico do próprio actor, anódino e sem chama, como fazendo uma curta análise aos seis filmes Batman da nova geração: por exemplo, estou perfeitamente convencido de que Jack Nicholson, ligeiramente mais novo e menos indolentemente canastrão, jamais lograria alcançar o nível do australiano sem recorrer ao histrionismos que lhe conhecemos para tentar ultrapassar a fase da decadência – não falo, é claro, do Nicholson de Voado sobre um ninho de cucos (One Flew Over the Cuckoo’s Nest, 1975) de Milos Forman, de Chinatown (1974) de Polanski, de Profissão: Repórter (Professione: repórter, 1975) de Antonioni, de Shining (1980) de Kubrick ou até de Uma Questão de Honra (A Few Good Men, 1992) [You can’t handle the truth!] de Rob Reiner, um pouco mais velho que Ledger quando interpretou Joker e a anos-luz de distância (isto é, bem acima) no capítulo da eminência cinematográfica.

Deixando de parte a transfiguração de Heath Ledger, o filme de Nolan é tão banal como o seu predecessor Batman – O Início (Batman Begins, 2005), também com Christian Bale na pele do herói imaginado por Bob Kane, e banaliza-se com a sucessão de falhanços (opinião pessoal) desde o seu verdadeiro começo na era contemporânea, quando Tim Burton o resolveu ressuscitar para o grande ecrã em 1989, com Michael Keaton a fazer de homem-morcego.
Aliás, considero que o principal problema dos filmes Batman (como já referi, seis até hoje) com diversos realizadores (por esta ordem, Burton, Burton, Schumacher, Schumacher, Nolan e Nolan) reside na estranhíssima falta de apelo ou, se quisermos, de uma clara falta de identificação actor/personagem-herói/público; é uma relação clara e impudicamente falhada com Michael Keaton nos filmes de Burton (Keaton tentou, de forma perceptível para olho medianamente treinado em cinema, dar uma passo maior que a sua perna e estatelou-se ao comprido), e depois com performances sofríveis de Val Kilmer e George Clooney nos seguintes dois – actores cujos tiques pessoais já se tornaram inultrapassáveis –, e finalmente com Christian Bale nos dois últimos, cuja participação só poderá ser entendida pelo cachet e pela (por ele) constatada decadência capitalista de colegas actores da sua geração rendidos ao verde dos dólares e até dos personagens, como é o caso do meu mui estimado Ed Norton (que facada no coração).
Pelo vistos a saga irá continuar com os manos Nolan, com Bale e Eckhart confirmados. Agora, só resta esperar que este último não ensandeça no esforço de interpretar o papel de Two-Face (Harvey Dent), anteriormente interpretado em Batman Para Sempre (Batman Forever, 1995) por outro dos colossos de Hollywood, Tommy Lee Jones.

Very punctual, even to his own funeral! Boys, kill the Bat!

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