Deixando de parte as escolhas nacionais, onde constam nomes como Vergílio Ferreira, Aquilino, Torga e Cardoso Pires para Tordo e Raul Brandão, Herberto Hélder, Herculano, Soeiro Pereira Gomes e Ruy Belo para Peixoto, unindo-os autores como os imprescindíveis Eça, Saramago, Lobo Antunes e Pessoa – não lhes perdoando, apenas, o pecadilho de não haverem incluído, pelo menos, uma obra de Agustina–, são mais interessantes as escolhas de obras de autores estrangeiros, desde logo porque, pela primeira vez, desde que o JL publica a referida secção, com elas irmano os meus gostos literários.
Embora não tema o costumeiro e blogosférico apodo de intruso no campo das letras, atrevo-me a asseverar que, tanto João Tordo (n. 1975), como José Luís Peixoto (n. 1974) são já, no ano da Graça de 2007, valores seguros da literatura nacional, prometendo, se a vida lhes permitir, o não fenecimento de um género literário que muito me agrada e que muitos rotulam, jocosamente, de pós-modernista.
Ao contrário dos rotuladores do regime, não entendo, por um lado, em toda a sua plenitude semântica, o conceito de pós-modernismo; descortino-lhe alguns traços, porém não lhe vislumbro uma estrutura sólida, hermética, com objecto, missão, meios e, talvez, alvos pré-definidos. Por outro lado, se ser pós-modernista permite dá o direito ao autor de se incluir num grupo constituído por Beckett, Pynchon, Ishiguro, Borges, McEwan, DeLillo, Bellow, Auster ou Philip Roth, então, quem tem medo do pós-modernismo?
Eis a selecção oficial (efectuei algumas correcções e acrescentei a editora, no caso de a obra se encontrar editada em Portugal):
João Tordo
- Edgar Allen Poe – Histórias Completas (Arcádia);
- Javier Cercas – O Inquilino (Asa);
- William S. Burroughs – Junky (Editorial Notícias);
- Ian McEwan – Expiação (Gradiva);
- Patrick McGrath – Spider, A Teia da Loucura (Presença);
- George Orwell – Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (Antígona);
- Paul Auster – A Trilogia de Nova Iorque (Asa);
- Fiodor Dostoievski – Crime e Castigo (Presença);
- Herman Melville – Moby Dick (Relógio D’Água);
- James Joyce – Gente de Dublin (Livros do Brasil).
José Luís Peixoto
- Walt Whitman – Canto de Mim Mesmo (Assírio & Alvim);
- Albert Cohen – Bela do Senhor (Círculo de Leitores);
- William Faulkner – O Som e a Fúria (Dom Quixote);
- Fiodor Dostoievski – O Idiota (Presença);
- Marguerite Yourcenar – Memórias de Adriano (Ulisseia);
- Juan Rulfo – Pedro Páramo (Cavalo de Ferro);
- Charles Bukowski – Ham on Rye;
- L.F. Céline – Viagem ao Fim da Noite (Ulisseia);
- Dave Eggers – What is the What;
- Peter Singer – Ética Prática (Gradiva).
Eu (n. 1972) identifico-me com esta geração. Para além das obras de sua autoria, a quase totalidade dos seus 20 livros faz parte de Os Meus Livros.
[Adenda, às 23:24]: a (minha) identificação atrás referida, parte do princípio (talvez erróneo) que os autores procuraram construir as suas listas seleccionando, na sua maioria, obras pertencentes à literatura contemporânea de ficção. Como notou o Henrique, com algumas excepções, faltam os grandes clássicos e as grandes obras ou tratados filosóficos. Suponho não ter sido esse o espírito do desafio. Mas como referi, trata-se apenas de uma suposição minha… talvez, crédula e pueril, porém, válida.
4 comentários:
Olá André. Cada qual é como cada um. Partindo deste princípio basilar, deixa-me ser um pouco mais crítico. Julgo essa selecção essas escolhas de uma pobreza confrangedora. É difícil fazer opções, eu sei. Quem muito lê, mais tem por onde escolher. Vejo aí a «Ética Prática», de Singer, misturada com poesia e ficção… ‘Da-se! Não há-de ser nada fácil, entre livros de poesia, ficção e filosofia, escolher 10. Seja como for, acho as escolhas algo pobres. Onde andam Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Espinosa, Leibniz, Rousseau, Kant, Nietzsche, Schopenhauer, etc? Isto para não falar de outros, mais recentes e até algo populares, tais como Onfray, Deleuze, Zizek, Derrida, Benjamin , etc, etc, etc… E depois, onde param Goethe, Cervantes, Milton, Dante? E já reparaste que nem uma referenciazita a Kafka? Como é possível? Sinceramente, com as ressalvas enunciadas logo de início, eu cá identifico-me cada vez menos com esta geração.
Bem, num ponto concordo contigo, ao escolher-se Peter Singer para um dos 10+, os clássicos (ou os contemporâneos, excepto Deleuze e Derrida, que especialmente desgosto, e Zizek que soa melhor que as ideias... está na moda) da Filosofia seriam inevitáveis.
Parti do princípio que ambos partiram do princípio tratarem-se apenas de obras de ficção em prosa... Ok, mas há Singer e se quisermos, Egger.
Falta Kafka, mas também faltam Tolstoi, Proust, Musil, Walser, Beckett, Mann ou Nabokov. E Flaubert? Henry James? Hawthorne? Thoreau ou Emerson?
Faltam Cervantes, Milton ou Dante, mas também faltam Sterne, Shakespeare, Chaucer, etc.
E Homero, Ovídio, Ésquilo, Virgílio,...
Numa lista de 10 obras, não são forçosamente os clássicos os mais marcantes. Desses e das suas obras já sabemos praticamente tudo, através de críticas, ensaios, memórias, biografias, artigos científicos, desconstruções, daguerreótipos, etc. São excepcionais, por isso perduraram, mas já não surpreendem.
Há uns dias postei aqui as listas dos 10+ (condição prévia: apenas romances) de Auster e de Banville. Tive um comentário, suponho que do CJ (estou c/ preguiça de ir verificar), referindo que ambos picaram os clássicos. Eram, enfim, duas listas sem surpresas.
Este que te escreve, enquanto esperava no carro atrás de uma fila de trânsito nas vésperas de Natal, ensaiou uma lista instantânea. E sabes quem referi? (Está algures no meu blogue) Auster, Ishiguro, Beckett, Huxley, Vian, Fitzgerald, Pynchon, Lowry, Eco e Dostoievski.
Pronto, massacra-me!
Obviamente que não pensei nos livros de Filosofia que encheram as medidas. Não consigo compará-los.
(E, pronto, leio muito pouco poesia. Considero-me ainda bastante imaturo para captar a essência dessa arte, acreditas!?)
Um abraço
É a lista do Peixoto que atrapalha tudo, porque mistura géneros. Dessa lista não li o Eggers e o Cohen. Do Faulkner, a escolher um, escolheria o «Absalom, Absalom!». Do Dostoievski, o «Crime e Castigo», referido pelo Tordo. A Yourcenar está muito bem escolhida. O Rulfo tem sido, quanto a mim, sobrevalorizado. Que dizer de Kakfa, Beckett, Camus?... Congratulo-me com as referências a Bukowski e Céline. Na do Tordo, gostei muito de ver o Burroughs, o Orwell, o Joyce (eu prefiro o «Ulisses», sem medo!), o Põe… Falta o Borges. :) E a Virgínia, onde anda a Virgínia? O Hemingway. Já ninguém lê Hemingway? O Proust é chato. Provoco. Estas listas são uma treta e os meus contemporâneos pouco exigentes. Cabe lá na cabeça de alguém que nas preferências de dois escritores não apareça «O Retrato de Dorian Gray»? E o Lowry, claro, ao qual cheguei o ano passado, precisamente por esta altura. Enfim, estou a ser maldoso. Mas também é para isso que estamos cá. Autores da actualidade é que estou feito ao bife, não li nenhum. Parece que me irei iniciar o Roth em breve. Também tenho alguma curiosidade acerca do Houellebecq. Sugeres alguma coisa?
OK. Eu emeilo-te as minhas sugestões pós-modernas.
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