terça-feira, 24 de julho de 2007

Clorofila

Hoje de manhã, enquanto deambulava pela minha habitual actualização informativa na blogosfera, uma força estranha apoderou-se do meu sistema informático.
Tentei ligar-me ao Pedro Vieira – uma das pessoas que, pela graça e pelo saudável atrevimento do seu blogue, me vai impedindo a já muito ensaiada desistência. Uma fina ironia, daquelas coincidências que insistimos atribuir ao divino, assim que carregava na dita ligação, um misterioso erro teimava em fechar todas as janelas do Internet Explorer. Consegui aceder ao
Irmãolucia ao fim da 4.ª tentativa. Sinal sagrado!
Insondáveis são os caminhos do Senhor.
Possivelmente houve a mais do que zelosa intervenção de uma força divina, que teima em encarreirar no trilho da bem-aventurança os meus passos supostamente extraviados. Passos que há alguns anos me vão levando para bem longe da Fé, pelo pouco crédito que vou atribuindo àqueles que, segundo rezam as Escrituras, foram feitos à Sua imagem.
Talvez seja um reducionista. Talvez assim pense, sinta e aja por mera letargia ou por um menos gravoso comodismo, embora, nas minhas poucas certezas, atribua uma ínfima probabilidade a essa insuficiência de ponderação.

Pobre Mrs. Jean Watts!
Professora de Ciências da Natureza e de Religião de Hitchens quando este tinha apenas nove anos.
Quem? Christopher Hitchens, o trotskista, amigo do Islão, que mais tarde descobriu pela sua avó possuir uma costela de judeu, e que agora apoia fervorosamente George W. Bush e a sua cruzada no Iraque, sendo por muitos considerado como um verdadeiro neocon, ou pelo menos uma das fontes de inspiração do neoconservadorismo norte-americano – as voltas que a vida dá.
E Hitchens narra um maravilhoso passeio pelo campo e a sua precoce epifania ateísta:
«[…] houve um dia em que a pobre Mrs. Watts se transcendeu por completo. Procurando, de forma ambiciosa, a fusão entre os seus dois papéis de professora de ciências e de instrutora da Bíblia, disse: “Vejam bem, crianças, quão poderoso e generoso é Deus. Ele fez com que todas as árvores e ervas fossem de cor verde, que é exactamente a cor mais repousante para os nossos olhos. Agora imaginem se a vegetação fosse toda púrpura ou cor-de-laranja, que horrível isso não seria.”
[…] fiquei francamente chocado com aquilo que ela disse. […] Aos nove anos, eu não tinha ainda uma ideia sobre […] a relação entre a fotossíntese e a clorofila. […] Eu apenas sabia, quase como se tivesse usufruído do acesso privilegiado a uma autoridade superior, que a minha professora tinha conseguido errar por completo em apenas duas frases. Os olhos foram ajustados à natureza, e não o contrário.»
Christopher Hitchens, God is not Great: How Religion poisons Everything (Twelve, 2007, pp. 1-2) [Tradução livre: AMC].

2 comentários:

Anónimo disse...

meu caro, isso é que era doce. não há intervenção divina que impeça a nossa cumplicidade. se o binómio comuna/conservador não a impede não é um tipo de barbas com um triângulo a pairar sobre a cabeça que vai consegui-lo

Anónimo disse...

:)
Claro que não! Ninguém nos impede esta salutar troca de galhardetes de flanco a flanco.
Conservador sim, mas... libertário. Há lá coisa mais indefinida!
Abraços