Há 30 anos, no dia 2 de Julho de 1977, morria no Palace Hotel de Montreux, Suíça, o escritor russo Vladimir Vladimirovich Nabokov (n. 22 de Abril de 1899), vítima de uma infecção viral.
Em jeito de homenagem, deixo aqui ficar algumas das Opiniões Fortes*, ordenadas aleatoriamente, quase sempre carregadas da empáfia e da verrina que lhe eram típicas, de um dos maiores escritores de todos os tempos.
Sobre Freud [o seu alvo predilecto] e de o haver chamado de doutor-bruxo:
«(…) detesto não um mas quatro doutores: Dr. Freud, o Dr. Jivago, o Dr. Schweitzer e o Dr. Castro. É claro, o primeiro ganha a palma, como dizem os ajudantes na sala de dissecação. Não faço tenções de sonhar as ordinarices dos sonhos da classe média dum velho ranzinza austríaco de guarda-chuva roto. Sugiro também que a fé freudiana conduz a consequências éticas perigosas, como quando um asqueroso assassino com o cérebro de uma ténia recebe uma sentença mais leve porque a mãe lhe bateu de mais ou de menos… dá para os dois lados. A gritaria freudiana parece-me tanto uma farsa como o gigantone de madeira polida com um buraco polido no meio que não representa nada a não ser a face alvar de um filisteu a quem disseram que se trata duma grande escultura produzida pelo maior homem das cavernas vivo.» (BBC 2, 1968)
Sobre escritores contemporâneos da sua preferência:
«Tenho alguns favoritos… por exemplo, Robbe-Grillet e Borges. Como se respira livre e reconhecidamente nos maravilhosos labirintos de ambos! Gosto da sua lucidez de pensamento, da pureza e da poesia, da miragem no espelho.» (Playboy, 1964)
Sobre O Duplo de Dostoievski:
«O Duplo de Dostoevskii [sic] é a sua melhor obra, embora seja uma imitação evidente e sem vergonha do “Nariz” de Gogol (…)» (Wisconsin Studies in Contemporary Literature, 1967)
Sobre o uso da expressão “génio” para qualificar escritores:
«A palavra “génio” circula bastante generosamente (…) Pelo menos em inglês, porque a sua contrapartida russa, geniy, é um termo carregadíssimo de uma espécie de respeito gutural e só se usa com um número muito pequeno de escritores, Shakespeare, Milton, Tolstoi. Com autores profundamente amados, como Turgenev [Ivan Turguéniev] e Tchekhov, os russos utilizam o termo mais magro, talant, talento, e não génio (…) ainda me sinto horrorizado ao ver a palavra “génio” aplicada a qualquer contador de histórias importante, como Maupassant ou Maugham. Génio continua a significar para mim, no meu enfado e orgulho de russos na frase, um dom raro, ofuscante, o génio de James Joyce, e não o talento de Henry James.» (BBC 2, 1969)
Sobre a frequente comparação da sua escrita com Borges e Beckett, por alguns críticos:
«Oh, sei perfeitamente quem são esses comentadores: espíritos lentos, dactilógrafos apressados! Fariam melhor se ligassem Beckett a Maeterlinck e Borges a Anatole France. Poderia ser mais instrutivo do que dar à língua sobre um estranho.» (Vogue, 1969)
Sobre a literatura americana pós-1945:
«(…) raramente existem simultaneamente numa determinada geração mais do que dois ou três escritores verdadeiramente de primeira ordem. Penso que Salinger e Updike são de longe os artistas mais finos dos anos mais recentes. O falso best-seller sexy, o romance ordinário, violento, o tratamento novelístico de problemas sociais ou políticos, e, em geral, os romances constituídos principalmente por diálogo ou comentário social, esses estão banidos terminantemente da minha mesinha-de-cabeceira. E a mistura popular de pornografia e trapaça idealista dá-me absolutamente vómitos.» (TV 13 NY, 1965)
E para terminar em beleza, à pergunta «Qual é a sua posição no mundo das letras?», respondeu:
«É linda a vista aqui de cima.» (The New York Times Book Review, 1972)
Todas as citações foram retiradas de:
Vladimir Nabokov, Opiniões Fortes. Lisboa: Assírio & Alvim, 1.ª edição, Maio de 2005, 377 pp. (tradução de Carlos Leite; obra original: Strong Opinions, 1973).
Em jeito de homenagem, deixo aqui ficar algumas das Opiniões Fortes*, ordenadas aleatoriamente, quase sempre carregadas da empáfia e da verrina que lhe eram típicas, de um dos maiores escritores de todos os tempos.
Sobre Freud [o seu alvo predilecto] e de o haver chamado de doutor-bruxo:
«(…) detesto não um mas quatro doutores: Dr. Freud, o Dr. Jivago, o Dr. Schweitzer e o Dr. Castro. É claro, o primeiro ganha a palma, como dizem os ajudantes na sala de dissecação. Não faço tenções de sonhar as ordinarices dos sonhos da classe média dum velho ranzinza austríaco de guarda-chuva roto. Sugiro também que a fé freudiana conduz a consequências éticas perigosas, como quando um asqueroso assassino com o cérebro de uma ténia recebe uma sentença mais leve porque a mãe lhe bateu de mais ou de menos… dá para os dois lados. A gritaria freudiana parece-me tanto uma farsa como o gigantone de madeira polida com um buraco polido no meio que não representa nada a não ser a face alvar de um filisteu a quem disseram que se trata duma grande escultura produzida pelo maior homem das cavernas vivo.» (BBC 2, 1968)
Sobre escritores contemporâneos da sua preferência:
«Tenho alguns favoritos… por exemplo, Robbe-Grillet e Borges. Como se respira livre e reconhecidamente nos maravilhosos labirintos de ambos! Gosto da sua lucidez de pensamento, da pureza e da poesia, da miragem no espelho.» (Playboy, 1964)
Sobre O Duplo de Dostoievski:
«O Duplo de Dostoevskii [sic] é a sua melhor obra, embora seja uma imitação evidente e sem vergonha do “Nariz” de Gogol (…)» (Wisconsin Studies in Contemporary Literature, 1967)
Sobre o uso da expressão “génio” para qualificar escritores:
«A palavra “génio” circula bastante generosamente (…) Pelo menos em inglês, porque a sua contrapartida russa, geniy, é um termo carregadíssimo de uma espécie de respeito gutural e só se usa com um número muito pequeno de escritores, Shakespeare, Milton, Tolstoi. Com autores profundamente amados, como Turgenev [Ivan Turguéniev] e Tchekhov, os russos utilizam o termo mais magro, talant, talento, e não génio (…) ainda me sinto horrorizado ao ver a palavra “génio” aplicada a qualquer contador de histórias importante, como Maupassant ou Maugham. Génio continua a significar para mim, no meu enfado e orgulho de russos na frase, um dom raro, ofuscante, o génio de James Joyce, e não o talento de Henry James.» (BBC 2, 1969)
Sobre a frequente comparação da sua escrita com Borges e Beckett, por alguns críticos:
«Oh, sei perfeitamente quem são esses comentadores: espíritos lentos, dactilógrafos apressados! Fariam melhor se ligassem Beckett a Maeterlinck e Borges a Anatole France. Poderia ser mais instrutivo do que dar à língua sobre um estranho.» (Vogue, 1969)
Sobre a literatura americana pós-1945:
«(…) raramente existem simultaneamente numa determinada geração mais do que dois ou três escritores verdadeiramente de primeira ordem. Penso que Salinger e Updike são de longe os artistas mais finos dos anos mais recentes. O falso best-seller sexy, o romance ordinário, violento, o tratamento novelístico de problemas sociais ou políticos, e, em geral, os romances constituídos principalmente por diálogo ou comentário social, esses estão banidos terminantemente da minha mesinha-de-cabeceira. E a mistura popular de pornografia e trapaça idealista dá-me absolutamente vómitos.» (TV 13 NY, 1965)
E para terminar em beleza, à pergunta «Qual é a sua posição no mundo das letras?», respondeu:
«É linda a vista aqui de cima.» (The New York Times Book Review, 1972)
Todas as citações foram retiradas de:
Vladimir Nabokov, Opiniões Fortes. Lisboa: Assírio & Alvim, 1.ª edição, Maio de 2005, 377 pp. (tradução de Carlos Leite; obra original: Strong Opinions, 1973).
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