Como por tempo quente às vezes sói
a ingénua borboleta à luz afeita
ofuscada voar, e então se deita
contra uns olhos e morre e àqueles dói;
corro eu ao sol fatal que sempre foi
o de olhos de doçura tão perfeita
que a Amor freio do siso não sujeita
e a quem discerne então quem quer destrói.
E neles vejo bem que esquivo engano
e sei que disso morro verazmente,
que sem ter força contra a dor me afano;
pois me encandeia Amor tão brandamente
que choro enfado alheio e não meu dano;
e, cega, em seu morrer a alma consente.
As Rimas de Petrarca, (141), por Vasco Graça Moura. Lisboa: Bertrand, 2003, pág. 421.
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