Eis duas das vantagens dos prémios literários – para além do enriquecimento súbito do galardoado –, a curiosidade, tão humana, de verificar se o júri indigitado para a sua atribuição não se enganou – prática conhecida como metamorfose acelerada do leigo em crítico literário – ou de indagar se aquele se serviu de expedientes ínvios para promover uma obra e/ou o seu autor, em desconformidade ao sentido ético da tarefa – aqui o leigo transforma-se num afanoso inspector da moralidade da causa literária.
Em suma, onde há prémio há sentença popular. E, seguindo a regra, eu, um diletante das artes literárias, cumpri, adquirindo para o efeito a única obra editada em Portugal da escritora irlandesa, recentemente galardoada com o Booker Prize, Anne Enright.
Trata-se de um romance, editado no nosso país pela Teorema, sob o título sugestivo – e atente-se na harmonia imagética – O Prazer de Eliza Lynch (The Pleasure of Eliza Lynch, 2002), o quinto trabalho da autora, o seu terceiro romance, o antecessor imediato a The Gathering (2007), o tal que recebeu o Booker.
Abre-se o livro, lêem-se os créditos, e a seguir à dedicatória aparece um pequeno exórdio de duas linhas:
«Esta é a história de como ela o enterrou com as suas próprias mãos, nas encostas do Cerro de Corá.» (pág. 7)
Depois da curta introdução, surge o corpo através de uma concepção perifrástica (analéptica, de pendor didáctico) em Paris, Março de 1958:
«Francisco Solano López introduziu o pénis em Eliza Lynch num lindo dia de Primavera em Paris, a 1854.» (pág. 9)
Em suma, onde há prémio há sentença popular. E, seguindo a regra, eu, um diletante das artes literárias, cumpri, adquirindo para o efeito a única obra editada em Portugal da escritora irlandesa, recentemente galardoada com o Booker Prize, Anne Enright.
Trata-se de um romance, editado no nosso país pela Teorema, sob o título sugestivo – e atente-se na harmonia imagética – O Prazer de Eliza Lynch (The Pleasure of Eliza Lynch, 2002), o quinto trabalho da autora, o seu terceiro romance, o antecessor imediato a The Gathering (2007), o tal que recebeu o Booker.
Abre-se o livro, lêem-se os créditos, e a seguir à dedicatória aparece um pequeno exórdio de duas linhas:
«Esta é a história de como ela o enterrou com as suas próprias mãos, nas encostas do Cerro de Corá.» (pág. 7)
Depois da curta introdução, surge o corpo através de uma concepção perifrástica (analéptica, de pendor didáctico) em Paris, Março de 1958:
«Francisco Solano López introduziu o pénis em Eliza Lynch num lindo dia de Primavera em Paris, a 1854.» (pág. 9)
Dei por mim a reflectir – acção que (in)felizmente tem abundado por estes lados, por motivos inúteis – em como o diriam Roth ou DeLillo?
4 comentários:
bom, o "em Paris" é para retirar, claro LOL
óptimo motivo de reflexão... Roth diria talvez, depois de uma pouco apurada descrição do cenário:
«Solano López, Chico entre um orgasmo e outro, introduziu, introduziu e voltou a introduzir o seu pénis na vulva seca mas palpitante de Eliza Lynch. Não era um dia nem mais lindo nem mais feio de uma Primavera frígida. Paris ainda não era a capital do amor em Paris, naquele ano de 1854.»
e apareceria na primeira página, nunca na 9!!!!! LOL
Tenho em mim que Roth não diria "vulva"... :)
concordo... uma boa tradução em português faria aparecer "crica"
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