domingo, 14 de outubro de 2007

Adonis

AdonisUma vez mais, o Luís Costa, colaborador da TriploV, publicação dedicada às artes literárias e em homenagem ao, entre muitas coisas, crítico de arte, cineasta, fundador do movimento cineclubista em Portugal ou poeta, resistente antifascista e membro do PCP, Ernesto de Sousa (1921-1988), facultou-me, com toda a cortesia, um poema – assim como uma curta biografia – de um dos distintos e insondados poetas que, segundo os especialistas, estiveram – e estarão – na lista de potenciais candidatos ao Nobel da Literatura, refiro-me, desta feita, ao poeta sírio-libanês Adonis:



Que assim seja:
Os pássaros chegaram e as pedras
Juntaram-se às pedras
Assim:
Eu acordo as estradas e as noites
E nós seguimos na procissão das árvores

Os ramos são malas verdes e os sonhos
uma almofada
Na viagem de férias
Onde a manhã continua estranha
Onde o seu rosto
Permanece um selo sobre os meus mistérios

Assim:
Um raio indicou-me o caminho, uma voz chamou-me
Do fim mais extremo do muro

Adonis, A Floresta Mágica (tradução do alemão por Luís Costa).


Biografia, por Luís Costa:
Adonis, poeta e ensaísta, nasceu em 1930 na Síria. O seu verdadeiro nome é Ali Ahmed Said. Estudou filosofia em Damasco e Beirute. De seguida teve várias estadias no estrangeiro por exemplo em Nova Iorque e Paris. Hoje vive em Paris. Adonis tem traduzido muitos autores franceses para o árabe. Entre eles encontram-se Racine e Saint Jonh-Perse.
Em 1957 fundou com Yousuf el-Khal a revista literária mais importante do espaço árabe: «Schiir» (Poesia).
Adonis contribuiu muito para a renovação da língua árabe e influenciou assim uma geração de escritores e poetas árabes. Escrever poesia significa para ele uma luta permanente contra a memória fechada sobre si mesma da cultura, ou seja, contra o passado. O nome Adonis é considerado no mundo árabe, desde os anos 60, um sinónimo de modernidade. Ele afirmou-se aí como um dos principais porta-vozes da corrente critica e pós-moderna. Para ele a lírica representa uma forma de violação da língua; é a tentativa de obrigar a língua a dizer aquilo que a prosa jamais conseguirá exprimir. Este grande poeta vê as raízes da sua lírica no misticismo islâmico, que ele considera como um surrealismo antes do surrealismo europeu.
Entretanto o mundo árabe fala de adonismo, adonismo esse que tem os seus seguidores entusiásticos, mas também um grande número de inimigos ferrenhos, que se encontram, sobretudo, entre os islamitas.

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