Reza assim o primeiro verso de Vinicius de Moraes de A Felicidade musicado e cantado pelo colosso chamado António Carlos Jobim.
Meus caros e generosos leitores, confesso que este foi o texto mais difícil que escrevi desde que, no pretérito dia 17 de Dezembro, dei início a este blogue. Tenho tanta coisa para dizer, mas as palavras não se soltam, como se uma vontade inaudita de seguimento da minha vagueação na blogosfera as agrilhoasse à saída, cá bem fundo, na laringe onde o nó se forma e intenta quebrantar-me pela decisão tomada.
Foram 9 meses e 6 dias de quase sempre aprazível divagação.
Com este texto, o número 534, dou por terminada a minha actividade bloguista. Com um número de visitas a rondar as 14.500, (sendo que as páginas foram perscrutadas por 21.000 vezes), alcancei a média diária de 74 visitas (decerto acima das 100 se apenas contassem para a média os últimos meses). E creio que fiz amigos, tal como aqui referi prevendo a proximidade deste desenlace.
Há tarefas às quais me tenho de dedicar com mais afinco e que, tal como todas as outras, se encaradas com seriedade, só se poderão desenvolver com zelo, empenho, trabalho e alguma meditação – a minha peregrinação interior. Porém, há uma tarefa em particular – árdua, solitária e assaz desgastante – cuja necessidade de uma dedicação exclusiva e absoluta me impede a manutenção e a consequente actualização deste espaço nos níveis mínimos do aceitável. Não é uma desistência, intuo assim por agora. É um até breve. Vamo-nos encontrando por aí, pelas vielas mais esconsas e extraordinárias desta curta passagem, que ultimamente temei que seria para nenhures. Comodidade intelectual? Preguiça espiritual? Não, nada disso. É apenas o cansaço sugerido pelo triunfo da iniquidade sobre a justiça, da doce impunidade sobre os que com o trabalho dedicado, responsável e leal honram os valores essenciais com que se constrói a sã e inelutável vivência em sociedade.
Não quero ir, mas tenho de partir. Saio deste saudável convívio em linha com a certeza de que as suas vantagens ultrapassaram – e de que maneira! – os eventuais inconvenientes de uma obsessão desmedida por publicar, dar a conhecer a uma imensa minoria a minha opinião sobre diversos assuntos, muitas vezes num exibicionismo recalcitrante não percebido no momento.
Apetecia-me destacar aqui nove ou dez nomes, cujos usufrutuários não conheço pessoalmente, de alguns nem sequer sei o que fazem na vida e tão-pouco lhes consigo apontar os seus traços fisionómicos mais marcantes. São celebridades anónimas pela forma como escrevem, pelo humanismo que revelaram nas situações mais díspares, pelo erro que reconheceram cometer, pelas ideias, pelo virtuosismo, pela camaradagem, pela palavra amiga enviada por correio electrónico sempre que se apercebiam de que deste lado as coisas não corriam bem. Todavia, não posso… não devo fazê-lo. Eles sabem quem são. E esses podem crer que a minha profunda admiração – o máximo que de momento lhes poderei dar – resultou dessa aferição diária, meramente empírica e mais tarde racionalizada, de uma qualidade inextrincável, que não se compra, nem surge de geração espontânea, brota de um processo ontogenético sem mácula, com alguns vícios, com outras tantas extravagâncias e certos pecadilhos que só servem para robustecer o carácter de quem não tem medo de exibir as suas fraquezas, ela é a integridade.
O meu obrigado a todos por tudo. E se isso fizer diferença, fica a promessa que num dia destes voltarei.
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.
Meus caros e generosos leitores, confesso que este foi o texto mais difícil que escrevi desde que, no pretérito dia 17 de Dezembro, dei início a este blogue. Tenho tanta coisa para dizer, mas as palavras não se soltam, como se uma vontade inaudita de seguimento da minha vagueação na blogosfera as agrilhoasse à saída, cá bem fundo, na laringe onde o nó se forma e intenta quebrantar-me pela decisão tomada.
Foram 9 meses e 6 dias de quase sempre aprazível divagação.
Com este texto, o número 534, dou por terminada a minha actividade bloguista. Com um número de visitas a rondar as 14.500, (sendo que as páginas foram perscrutadas por 21.000 vezes), alcancei a média diária de 74 visitas (decerto acima das 100 se apenas contassem para a média os últimos meses). E creio que fiz amigos, tal como aqui referi prevendo a proximidade deste desenlace.
Há tarefas às quais me tenho de dedicar com mais afinco e que, tal como todas as outras, se encaradas com seriedade, só se poderão desenvolver com zelo, empenho, trabalho e alguma meditação – a minha peregrinação interior. Porém, há uma tarefa em particular – árdua, solitária e assaz desgastante – cuja necessidade de uma dedicação exclusiva e absoluta me impede a manutenção e a consequente actualização deste espaço nos níveis mínimos do aceitável. Não é uma desistência, intuo assim por agora. É um até breve. Vamo-nos encontrando por aí, pelas vielas mais esconsas e extraordinárias desta curta passagem, que ultimamente temei que seria para nenhures. Comodidade intelectual? Preguiça espiritual? Não, nada disso. É apenas o cansaço sugerido pelo triunfo da iniquidade sobre a justiça, da doce impunidade sobre os que com o trabalho dedicado, responsável e leal honram os valores essenciais com que se constrói a sã e inelutável vivência em sociedade.
Não quero ir, mas tenho de partir. Saio deste saudável convívio em linha com a certeza de que as suas vantagens ultrapassaram – e de que maneira! – os eventuais inconvenientes de uma obsessão desmedida por publicar, dar a conhecer a uma imensa minoria a minha opinião sobre diversos assuntos, muitas vezes num exibicionismo recalcitrante não percebido no momento.
Apetecia-me destacar aqui nove ou dez nomes, cujos usufrutuários não conheço pessoalmente, de alguns nem sequer sei o que fazem na vida e tão-pouco lhes consigo apontar os seus traços fisionómicos mais marcantes. São celebridades anónimas pela forma como escrevem, pelo humanismo que revelaram nas situações mais díspares, pelo erro que reconheceram cometer, pelas ideias, pelo virtuosismo, pela camaradagem, pela palavra amiga enviada por correio electrónico sempre que se apercebiam de que deste lado as coisas não corriam bem. Todavia, não posso… não devo fazê-lo. Eles sabem quem são. E esses podem crer que a minha profunda admiração – o máximo que de momento lhes poderei dar – resultou dessa aferição diária, meramente empírica e mais tarde racionalizada, de uma qualidade inextrincável, que não se compra, nem surge de geração espontânea, brota de um processo ontogenético sem mácula, com alguns vícios, com outras tantas extravagâncias e certos pecadilhos que só servem para robustecer o carácter de quem não tem medo de exibir as suas fraquezas, ela é a integridade.
O meu obrigado a todos por tudo. E se isso fizer diferença, fica a promessa que num dia destes voltarei.
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.
24 comentários:
Um certo romance termina assim:
"Cerro. O senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui, quase barranqueiro. Para a velhice vou, com ordem e trabalho. Sei de mim? Cumpro. O Rio de São Francisco - que de tão grande se comparece - parece é um pau grosso, em pé, enorme... Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia."
Suponho que sou um dos tais nove ou dez. Mas não quero abusar da sorte de ambos. À vida então. À outra e, se der de ser no caminho, a esta também. Boas, André.
Sem dramas. Obrigado por tudo e, claro, muita saúde,
fico à espera do regresso!
homem, acaba lá mas é com esta brincadeira de mau gosto, se não queres que te mande cortar a jugular com uma colher romba. isto é coisa que se faça assim, sem mais nem ontem? e agora, quem me vai ter o despudor de me chamar avermelhado e assim?
Um abraço, André.
E até à próxima!
Espero que a pausa - só pode ser pausa - seja curta e aconteça por boas razões.
Um abraço e até já.
Espero que seja um até breve. Fazem falta blogues como este.
Felicidades e um abraço
Fico à espera do regresso, André. Quando quiseres serás sempre bem-vindo ao Corta-Fitas. Um grande abraço.
Por muito natural, e pelos vistos para o André essencial, que seja este fim (ou esta pausa), fica-me a sensação de que a blogosfera empobreceu, de súbito. Outros virão, é certo, até talvez um novo Porque (oxalá regresse rápido!)... mas até lá, a nostalgia instala-se, fica no ar. Um abraço.
Pois é. E quem já não pensou em fazer o mesmo que atire o primeiro post. Tenho poucas dúvidas de que assistiremos a um regresso. Até PORQUE...
Aceito sempre, sem pestanejar, as razões de quem quer fechar a loja.
Mas prefiro aplaudir o regresso. Mesmo que sem razões.
conheço, e de que maneira, esta história. pois seja, até já ... (e enquanto o blog não reabre faça o favor de me vir saudar a cada vitória leonina, lamuriando-se ainda das previsíveis derrocadas tripeiras - nem que seja para não perder o jeito à tecla)
abraço [e obrigado pela companhia, cá e lá(s)]
Meus caros amigos,
Os vossos comentários deixaram-me deveras emocionado e só tenho de vos agradecer pelas palavras de sentida amizade. Arrisco-me porventura a que me apelidem de cabotino, narcisista e até dissimulado por um eventual pensamento estratégico de retirada seguido de regresso apoteótico, como se a lógica bloguista obedecesse no meu caso – e estou certo, que assim é na esmagadora maioria dos casos – às regras essenciais do mercantilismo dito intelectual, uma estratégia de preço, promoção, distribuição e produto que me garanta uma vantagem competitiva.
Confesso-vos que não entrei nisto por pura diversão – embora me houvesse divertido imenso –, resultou antes de uma necessidade extrema de arranjar um escape, de me servir de um meio que me permitisse despejar – é o termo – as minhas atribulações e angústias (catarse) e de compartilhar, sem imposições, os meus hobbies, deslumbramentos, paixões, crenças, atitudes e pensamentos. São as tais reciprocidade e interactividade…
Logo, aqui entrei pela sobrevivência espiritual e depois pela pura diversão.
Porém, a vida continua e por vezes surgem aqueles momentos em que uma decisão tem de ser tomada, custe o que custar. São os processos de ruptura que, feliz ou infelizmente, têm de ser enfrentados; desapossei-me das minhas tão intricadas e paradoxais emoções; perguntei à razão que me respondeu alumiando o caminho a seguir.
Acreditem que padeci – e ainda padeço – de uma profunda angústia assim que tomei a decisão de encerrar o blogue, que adveio de um curto mas ponderado período de reflexão.
O responsável? Melhor, a responsável? Felizmente, será doença temporária. Chama-se Tese de Doutoramento. Depois há os parasitas acessórios: prazos, pertinência temática, carreira… E acreditem – apenas para os que por ela não passaram – é porventura a tarefa mais estúpida e solitária do mundo. Tudo para poder assinar o meu nome com prefixo Prof. Doutor (ao invés de Prof. Dr., ou só Dr., ou Mestre, ou Licenciado) e depois poder dizer todos os disparates e encontrar uns assistentes trabalhadores… o gajo até é doutorado! Foi a carreira que escolhi aos 23 anos e contra isso nada posso fazer, até porque gosto daquilo que faço, apesar de todos os pontos negativos que se podem encontrar. Há, no entanto, os positivos: a investigação, o contacto com mentes que se vão mantendo jovens à medida que a minha vai inexoravelmente envelhecendo… interactividade pela natureza da profissão e alguma reciprocidade por mim exigida.
Só mais uma confissão, claro que penso voltar. E é quase certo de que voltarei um dia, não sei ainda quando e se ainda com a mesma vontade que agora sinto. Se mais não houvesse, aqui mesmo, nesta caixa de comentários, está uma lista de nomes, outra nos e-mails recentemente recebidos e ainda outra dos que se compadeceram nos seus respectivos blogues, que me deixaram com mais vontade de regressar.
Despeço-me com um grande e sentido abraço (lamechas, não me importo!), e até breve,
André
PS - Irei respondendo aos e-mails à medida que a outra - aquela ordinária, a tese - me for deixando tempo de sobra.
Até já, André.
Tá bem, tá. Vai lá acabar a tese rapidamente para poderes fazer o gostinho ao vício. Beijinhos.
Meu caro, este texto é apenas um até já. Termina mas é essa tese e volta depressa. Estás perdoado.
Um abraço!
Gostei de ler o post "final" e o comentário aqui mesmo em cima. Disse-me muito de ti e desta paixão que é comunicar e partilhar.
um abraço
Luis N.
Boa sorte. Havendo regresso cá estarei. PORQUE valeu a pena.
adeus, andré, até ao teu regresso
andei eu própria arredada da vida semi-tranquila que me possibilita a volta periódica pela blogosfera e, quando regresso esta notícia menos boa. digamos que era bom demais, ter este poiso.
e como saberemos quando regressar?
23 aninhos? que menino bonito!
";O)
Tese de doutoramento é bom e recomenda-se.. ao contrario do que dizes, não é um trabalho solitário: solitário é decidires arredar-te do mundo, como se uma tese fosse tudo... e não é! Lamento dizer-to a sangue-frio... e depois do doutoramento, lamento outra vez, ou tens muita sorte (e uma boa cunha) ou não vais ter assistentes a trabalhar para ti e a chamarem-te aqueles nomes horríveis, as verdadeiras pragas da vida académica...
Na verdade, nem conheço este blogue, mas não compreendo a "macacada": desistir de uma actividade que supostamente te dava tanto prazer porque... tens uma tese? Vais deixar de comer, ir ao cinema, ao teatro... televisão eventualmente? vais-te empareder? deixar de falar...
Credo, que radicalismo e incapacidade de deixar de ser "mono-tâche"...
Sim, há vida depois da tese... e antes dela também... e por difícil que te custe, MESMO DURANTE...
Se te conehcesse pessoalmente, chamava-te piegas! Como não conheço e costumo reagir impulsivamente, apetece-me dizer-te "deixa-te de merdas e de pseudo modéstias e não abandones a loja"...
Oh, André, volta lá... É que eu não tirei o teu blog dos favoritos... Mas quero posts novos...:D
abraço
Obrigado, meu caro Francisco.
É certo que voltarei em breve. Mas por agora "the t-word" não me deixa tempo para respirar.
Um abraço,
André
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