sábado, 9 de setembro de 2006

Sentimentos


No próximo dia 17 este blogue cumprirá nove meses de existência. Completar-se-á um ciclo: o nascituro corporizou-se num espaço de exibicionismo diário – consciente ou não – das minhas excitações, de alguns desencantos, das minhas ideias e teimosias, dos impulsos que fervilham nesta campânula hermética de massa cinzenta que por outro meio jamais se poderiam exteriorizar.
Nestes nove meses de escrita na blogosfera fiz amigos – sinto que os fiz. Afigura-se-me a uma dilacerante distopia platónica, obstinadamente sufocante por impossibilidade de manifestação do sentido de tacto, a algo de estranho e até, de certa forma, contranatura; mas a realidade quotidiana e a teia de relacionamentos alteraram-se em definitivo com a emergência das tecnologias de informação. Surgiu um novo conceito de amizade, ou se se preferir esse sentimento recíproco de partilha das nossas emoções, das mais superficiais às mais profundas – do sentimento de nós mesmos.
A amizade já não implica, no sentido restrito do termo, a troca química e palpável das sensações experimentadas pelos nossos sentidos perante a descoberta de outrem que nos apraz. Conhecemo-nos pelos caracteres – idiossincrasias e grafias – plasmados num monitor em linguagem informática. É como se decorresse uma batalha de ideias, valores, crenças, atitudes e comportamentos, que inexoravelmente nos agrupa por um indelével e subliminar sentido de identificação mútua – não, não é pela cor, ideologia política, religião ou clube de futebol, é pela integridade percebida.
Sinto que vou fazendo amigos e sinto que os tenho – ou estou iludido por essa certeza?
Será um jogo de espelhos repleto de processos de desmultiplicação da personalidade? Ou como vi escrito no excelente
Ultraperiférico: «pensar na blogosfera como um jogo de espelhos heteronímico»?
Não há cor, cheiro, degustação ou um evanescente deslumbramento visual, há apenas sensibilidade e sentimento de partilha; ou então reverberações de formas desejadas de pensar, de sentir e de agir – porventura narcísicas.

Abraços aos destinatários que, dispensando-me de os nomear, seguramente se sentirão visados pela lisonja – transmissão de pensamento? Em que ficamos?

2 comentários:

Anónimo disse...

Pode crer André, inscrevo-me despudoradamente na sua lista de amigos na blogosfera. Que estranho não lho ter dito já!... Dito agora, até parece coisa encomiástica, uma troca de galhardetes em reconhecimento recíproco. Mas não, (Porque) sabemos quem somos. Em nome de Sophia.
Até já.

Anónimo disse...

:)
Obrigado e um grande abraço,
André