Se há expressão corrente que mais me fascina, pela sua pseudo-singeleza metafórica, é aquela que retrata um bibliómano como “um devorador de livros” – sintetizando, um bibliófago –, um vulgar verme que se alimenta de papel. Todavia, este meu indomável fascínio atinge o seu clímax quando, pela metonímia, se antropomorfiza o verme criando um leitor de homens que, embebido na metáfora, se transforma num antropófago.
Na selecção anual dos melhores livros de 2010 pela insuportável equipa de críticos do diário britânico The Guardian, foi pedida a contribuição de autores consagrados, de cineastas e até do público leitor (desconheço, neste último caso, de que forma se revestiu e qual o peso atribuído à participação). Na listagem final o inevitável afilhado de Oprah, o enfatuado, e assumidamente invejoso, Jonathan Franzen, lá conquistou o lugar cimeiro com o calhamaço Freedom – uma pretensa bofetada inglesa aos seus ex-colonos americanos que ousaram em não lhe atribuir o National Book Award – e, depois, verifiquei, alvoraçando-me as entranhas, que até Bret Easton Ellis consta da lista dos 29 melhores, com aquela coisa inenarrável entre a novela e o romance em forma de livro (o que eu já aqui espumei devido à mera existência dessa bagatela literária!) Se fizerem uma simples pesquisa googliana e introduzirem as expressões “snubbed” “freedom” e “franzen” chegam a um resultado próximo das 13.300 páginas. Mas, se substituírem as duas últimas expressões na barra de pesquisa por “solar” e “mcewan” obtém-se um resultado a rondar as 1980 páginas da internet (e na maioria delas o termo “ignorado, com alguma premeditação”, nem está associado aos restantes dois). É triste, e logo na obra mais alegre e desassombrada do, a par de Ishiguro, melhor escritor inglês vivo.
Continuando nas escolhas do Guardian, constatamos que o dramaturgo Tom Stoppard também participou nos jogos florais de fim de ano, e depois de no primeiro parágrafo se haver referido, com alguma ironia, à miríade de livros que leu, logo no dealbar do ano que agora termina, sobre a implosão de Wall Street, abordou a parte mais importante e séria no segundo:
Na selecção anual dos melhores livros de 2010 pela insuportável equipa de críticos do diário britânico The Guardian, foi pedida a contribuição de autores consagrados, de cineastas e até do público leitor (desconheço, neste último caso, de que forma se revestiu e qual o peso atribuído à participação). Na listagem final o inevitável afilhado de Oprah, o enfatuado, e assumidamente invejoso, Jonathan Franzen, lá conquistou o lugar cimeiro com o calhamaço Freedom – uma pretensa bofetada inglesa aos seus ex-colonos americanos que ousaram em não lhe atribuir o National Book Award – e, depois, verifiquei, alvoraçando-me as entranhas, que até Bret Easton Ellis consta da lista dos 29 melhores, com aquela coisa inenarrável entre a novela e o romance em forma de livro (o que eu já aqui espumei devido à mera existência dessa bagatela literária!) Se fizerem uma simples pesquisa googliana e introduzirem as expressões “snubbed” “freedom” e “franzen” chegam a um resultado próximo das 13.300 páginas. Mas, se substituírem as duas últimas expressões na barra de pesquisa por “solar” e “mcewan” obtém-se um resultado a rondar as 1980 páginas da internet (e na maioria delas o termo “ignorado, com alguma premeditação”, nem está associado aos restantes dois). É triste, e logo na obra mais alegre e desassombrada do, a par de Ishiguro, melhor escritor inglês vivo.
Continuando nas escolhas do Guardian, constatamos que o dramaturgo Tom Stoppard também participou nos jogos florais de fim de ano, e depois de no primeiro parágrafo se haver referido, com alguma ironia, à miríade de livros que leu, logo no dealbar do ano que agora termina, sobre a implosão de Wall Street, abordou a parte mais importante e séria no segundo:
«Também este ano, retirei um enorme prazer das últimas 518 páginas do livro de Jonathan Franzen The Corrections (Fourth Estate)*, que havia posto de parte em 2001 para o ler quando tivesse tempo. Encontro-me agora na página 14 de Freedom. Altamente recomendado.» [tradução livre: AMC; nota minha: *romance publicado em Portugal em 2003 pela Dom Quixote, sob o título Correcções, que na sua 1.ª edição continha 512 páginas; já a versão referida por Stoppard contém 526 páginas (1.ª edição britânica em 2001).]