Um dos benefícios do tempo improdutivo despendido com o que se convencionou chamar de férias: ler, de fio a pavio, os livros que se vão acumulando nas estantes dos não-lidos, sem interrupções, sem que o lamento surdo do corpo, que obnubila a mente pela falta de mais uns miligramas de nicotina, seja o impulsor para a assimilação enlevada de uma meia dúzia de páginas, perdendo-se de forma irremediável o alinhamento para a meia dúzia seguinte.
Na poupada (optimizada) mala de viagem levei comigo sete livros, que à subida deste país indolente – este ano sem fogos em directo nos serviços noticiosos das oito da noite – se perfilaram num conjunto de oito, com o assentimento do treslido DN e de um tal senhor Honoré e o seu Último Adeus.
Das novidades editoriais – livros publicados em Portugal em 2007 – levei apenas dois: um que terminava, outro para estrear nas férias – não esquecendo a fracção dos "Estudos Filosóficos" de A Comédia Humana.
Bellow e Gide – depois Balzac. O Planeta do Sr. Sammler (Texto Editores; Mr. Sammler’s Planet, 1970) e o dostoievskiano, cómico, embusteiro e perverso Lafcadio Wluiki no livro traduzido para português sob o título inaudito de Os Subterrâneos do Vaticano (Ambar; Les Caves du Vatican, 1914) – seguido de O Último Adeus (Europa-América/DN; Adieu, 1830).
Dois romances e uma novela que figurarão, por economia de esforço, sem mais comentários no lugar cimeiro da minha apreciação de livros de 2007.
Deverei estar de partida amanhã, assim que o crepúsculo prenuncie a assunção das sombras – assim mesmo, sem maiusculizar aquilo, sobre o que se foi perdendo a fé...
Nota: algum desencanto, a vívida consciência de um descaminho perante certas tarefas de carácter eminentemente individual (masturbações intelectuais impostas por terceiros) e absolutamente inadiáveis, assim como a ansiedade extrema que deles (estados da alma) decorre, levam-me à centésima tentativa de desintoxicação.