sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Ir de férias com...

…livros!

N.º 13
«Treize – j’eus un plaisir cruel de m’arrêter sur ce nombre.»
Marcel Proust

I. Os livros e as prostitutas podem levar-se para a cama.
II. Os livros e as prostitutas entrecruzam o tempo. Dominam a noite tal como o dia e o dia tal como a noite.
III. Ao ver os livros e as prostitutas ninguém nota que os minutos lhe são preciosos. Mas quando lidamos com eles mais de perto, então notamos a pressa que têm. Fazem contas também enquanto nos afundamos neles.
IV. Desde sempre os livros e as prostitutas têm entre si um amor infeliz.
V. Os livros e as prostitutas – ambos têm toda a espécie de homens que vivem deles e os atormentam. Os livros têm os críticos.
VI. Livros e prostitutas em casas públicas – para estudantes.
VII. Os livros e as prostitutas – raramente aquele que os possuiu lhes vê o fim. Costumam desaparecer antes de perecerem.
VIII. Os livros e as prostitutas contam com o mesmo agrado e mentira como se tornaram no que são. Na verdade, frequentemente, nem eles próprios o notam. Durante anos tudo é feito “por amor” e, certo dia, anda na rua como corpus bem carnal, aquilo que “enquanto estudo” pairava sempre por cima dela.
IX. Os livros e as prostitutas gostam de voltar as costas quando se expõem.
X. Os livros e as prostitutas têm muitas crias.
XI. Os livros e as prostitutas – “velha beata – jovem puta”. Quantos livros por onde actualmente a juventude tem de aprender não foram difamados!
XII. Os livros e as prostitutas têm as suas zangas diante das pessoas.
XIII. Os livros e as prostitutas – as notas de rodapé são neles o que nelas são as notas na meia.


Walter Benjamin, Rua de Sentido Único. Lisboa: Relógio D’Água, 1992, pp. 65-66. (tradução de Isabel de Almeida e Sousa; obra original: Einbahnstrasse, 1928).

Vou de férias com... Regresso a 13.

2 comentários:

Anónimo disse...

boas férias...
vou explorando na tua ausência...

Beijo de gata, obrigada por este espaço.

Anónimo disse...

ler, ler...
tarefa sublime...
ler...