Meus caros e generosos leitores, confesso que este foi o texto mais difícil que escrevi desde que, no pretérito dia 17 de Dezembro, dei início a este blogue. Tenho tanta coisa para dizer, mas as palavras não se soltam, como se uma vontade inaudita de seguimento da minha vagueação na blogosfera as agrilhoasse à saída, cá bem fundo, na laringe onde o nó se forma e intenta quebrantar-me pela decisão tomada.
Foram 9 meses e 6 dias de quase sempre aprazível divagação.
Com este texto, o número 534, dou por terminada a minha actividade bloguista. Com um número de visitas a rondar as 14.500, (sendo que as páginas foram perscrutadas por 21.000 vezes), alcancei a média diária de 74 visitas (decerto acima das 100 se apenas contassem para a média os últimos meses). E creio que fiz amigos, tal como aqui referi prevendo a proximidade deste desenlace.
Há tarefas às quais me tenho de dedicar com mais afinco e que, tal como todas as outras, se encaradas com seriedade, só se poderão desenvolver com zelo, empenho, trabalho e alguma meditação – a minha peregrinação interior. Porém, há uma tarefa em particular – árdua, solitária e assaz desgastante – cuja necessidade de uma dedicação exclusiva e absoluta me impede a manutenção e a consequente actualização deste espaço nos níveis mínimos do aceitável. Não é uma desistência, intuo assim por agora. É um até breve. Vamo-nos encontrando por aí, pelas vielas mais esconsas e extraordinárias desta curta passagem, que ultimamente temei que seria para nenhures. Comodidade intelectual? Preguiça espiritual? Não, nada disso. É apenas o cansaço sugerido pelo triunfo da iniquidade sobre a justiça, da doce impunidade sobre os que com o trabalho dedicado, responsável e leal honram os valores essenciais com que se constrói a sã e inelutável vivência em sociedade.
Não quero ir, mas tenho de partir. Saio deste saudável convívio em linha com a certeza de que as suas vantagens ultrapassaram – e de que maneira! – os eventuais inconvenientes de uma obsessão desmedida por publicar, dar a conhecer a uma imensa minoria a minha opinião sobre diversos assuntos, muitas vezes num exibicionismo recalcitrante não percebido no momento.
Apetecia-me destacar aqui nove ou dez nomes, cujos usufrutuários não conheço pessoalmente, de alguns nem sequer sei o que fazem na vida e tão-pouco lhes consigo apontar os seus traços fisionómicos mais marcantes. São celebridades anónimas pela forma como escrevem, pelo humanismo que revelaram nas situações mais díspares, pelo erro que reconheceram cometer, pelas ideias, pelo virtuosismo, pela camaradagem, pela palavra amiga enviada por correio electrónico sempre que se apercebiam de que deste lado as coisas não corriam bem. Todavia, não posso… não devo fazê-lo. Eles sabem quem são. E esses podem crer que a minha profunda admiração – o máximo que de momento lhes poderei dar – resultou dessa aferição diária, meramente empírica e mais tarde racionalizada, de uma qualidade inextrincável, que não se compra, nem surge de geração espontânea, brota de um processo ontogenético sem mácula, com alguns vícios, com outras tantas extravagâncias e certos pecadilhos que só servem para robustecer o carácter de quem não tem medo de exibir as suas fraquezas, ela é a integridade.
O meu obrigado a todos por tudo. E se isso fizer diferença, fica a promessa que num dia destes voltarei.
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.