sábado, 23 de setembro de 2006

Tristeza não tem FIM


Reza assim o primeiro verso de Vinicius de Moraes de A Felicidade musicado e cantado pelo colosso chamado António Carlos Jobim.

Meus caros e generosos leitores, confesso que este foi o texto mais difícil que escrevi desde que, no pretérito dia 17 de Dezembro, dei início a este blogue. Tenho tanta coisa para dizer, mas as palavras não se soltam, como se uma vontade inaudita de seguimento da minha vagueação na blogosfera as agrilhoasse à saída, cá bem fundo, na laringe onde o nó se forma e intenta quebrantar-me pela decisão tomada.

Foram 9 meses e 6 dias de quase sempre aprazível divagação.
Com este texto, o número 534, dou por terminada a minha actividade bloguista. Com um número de visitas a rondar as 14.500, (sendo que as páginas foram perscrutadas por 21.000 vezes), alcancei a média diária de 74 visitas (decerto acima das 100 se apenas contassem para a média os últimos meses). E creio que fiz amigos, tal como aqui referi prevendo a proximidade deste desenlace.

Há tarefas às quais me tenho de dedicar com mais afinco e que, tal como todas as outras, se encaradas com seriedade, só se poderão desenvolver com zelo, empenho, trabalho e alguma meditação – a minha peregrinação interior. Porém, há uma tarefa em particular – árdua, solitária e assaz desgastante – cuja necessidade de uma dedicação exclusiva e absoluta me impede a manutenção e a consequente actualização deste espaço nos níveis mínimos do aceitável. Não é uma desistência, intuo assim por agora. É um até breve. Vamo-nos encontrando por aí, pelas vielas mais esconsas e extraordinárias desta curta passagem, que ultimamente temei que seria para nenhures. Comodidade intelectual? Preguiça espiritual? Não, nada disso. É apenas o cansaço sugerido pelo triunfo da iniquidade sobre a justiça, da doce impunidade sobre os que com o trabalho dedicado, responsável e leal honram os valores essenciais com que se constrói a sã e inelutável vivência em sociedade.

Não quero ir, mas tenho de partir. Saio deste saudável convívio em linha com a certeza de que as suas vantagens ultrapassaram – e de que maneira! – os eventuais inconvenientes de uma obsessão desmedida por publicar, dar a conhecer a uma imensa minoria a minha opinião sobre diversos assuntos, muitas vezes num exibicionismo recalcitrante não percebido no momento.
Apetecia-me destacar aqui nove ou dez nomes, cujos usufrutuários não conheço pessoalmente, de alguns nem sequer sei o que fazem na vida e tão-pouco lhes consigo apontar os seus traços fisionómicos mais marcantes. São celebridades anónimas pela forma como escrevem, pelo humanismo que revelaram nas situações mais díspares, pelo erro que reconheceram cometer, pelas ideias, pelo virtuosismo, pela camaradagem, pela palavra amiga enviada por correio electrónico sempre que se apercebiam de que deste lado as coisas não corriam bem. Todavia, não posso… não devo fazê-lo. Eles sabem quem são. E esses podem crer que a minha profunda admiração – o máximo que de momento lhes poderei dar – resultou dessa aferição diária, meramente empírica e mais tarde racionalizada, de uma qualidade inextrincável, que não se compra, nem surge de geração espontânea, brota de um processo ontogenético sem mácula, com alguns vícios, com outras tantas extravagâncias e certos pecadilhos que só servem para robustecer o carácter de quem não tem medo de exibir as suas fraquezas, ela é a integridade.

O meu obrigado a todos por tudo. E se isso fizer diferença, fica a promessa que num dia destes voltarei.

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

De braço bem torcido


Apelei ao mais profundo de mim, à angústia existencial como corolário do fervilhar das minhas pulsões antinómicas, e tentei recorrer a um processo capaz e amplamente pessoal de descontaminação psíquica que a imagem, os actos e os pensamentos daquele que, “com parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia, de forma persistente, nos possibilita uma vez mais alcançar uma realidade ilusória”.
O esforço proveniente do tal forte desejo de abstracção e de dissociação dos escritos da figura execrável foi, na realidade, bem empregue – o uso consagrou esta forma “ser + particípio passado irregular” o que me aflige, mas, uma vez mais, deixo que me torçam o braço.
A abertura No dia seguinte ninguém morreu. foi o instrumento catalisador da acção que eu interiorizei de forma resoluta que, mais cedo ou mais tarde, se iria suceder. Isto é, apesar de há muito haver concluído pela inevitabilidade da ocorrência, foi, curiosamente, a frase inicial do romance que me despertou para a urgência da sua leitura. Em abono da verdade, o nome do prosista não se constituiu como um elemento neutro ou secundário no processo de selecção. Todavia ao atribuir-se um sinal a cada um dos atributos cujo somatório poderia determinar a resposta dicotómica “ler/não ler”, o atributo “autor” apresentar-se-ia com um sinal negativo, uma vez que o meu juízo apriorístico havia sentenciado a sua proscrição das minhas sessões literárias.

Li. Valeu a pena. Lê-lo-ei mais. Obras que se seguem: Todos os nomes e Ensaio sobre a cegueira (constam já da minha biblioteca).

Apesar de me haver deparado com aborrecidas e inelutáveis intermitências no meu estado de concentração de leitura pelas reminiscências do carácter e da imagem percebida do autor da prosa, As Intermitências da Morte é uma excelente obra. Lê-se bem e de seguida – como se costuma dizer: de um só fôlego.
A morte – assim grafada, com minúscula, porque a verdadeira, com maiúscula, surgirá nos dias do fim – a única certeza desta vida, converte-se num ser com caprichos e transforma o país num conjunto de imortais, embora subsistam os acidentes, a doença e o natural processo de envelhecimento, deixou de matar num final de ano: “Ano Novo, Vida Nova”.
É uma excelente narrativa, constituída por duas partes distintas: a fria descrição das implicações da ausência da morte pelos prismas demográfico, político, económico e social, por um lado; a efabulação do sentimento, do calor, das emoções e da sonância etérea da beleza humana que enfrentam a extrínseca transitoriedade da vida, por outro.
Se na primeira parte do romance podemos entrever as convicções político-sociais de Saramago materializadas no tom de sátira à sociedade actual do denominado mundo ocidental, na segunda o autor/narrador parece ausentar-se, deixando o texto fluir pela esteira do arrebatamento ímpar provocado pelo amor, cuja entrega, quando este se assume na sua essência mais pura, é admiravelmente incondicional, mais forte que a própria morte.

Soberbo!

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Confissão reverencial

Não sei se existe uma expressão que sinonimize “um homem que gosta de textos escritos por outros homens, elevando-os à condição de símbolo textual”. Possivelmente poder-se-á traduzir pelo vocábulo, inventado para a ocasião, de homotextual – se bem que qualquer elucubração etimológica de suporte seria facilmente desmontada, uma vez que o significante assim grafado corresponderia a uma atracção indómita de um texto por textos do mesmo tipo.
No entanto, partindo do pressuposto de que aquela palavra existe e está correcta, apenas para efeitos poéticos, tal como a significação que lhe atribuí, o
Sérgio e o Pedro, entre outros macho-bloguistas que reverencio, fizeram de mim um homotextual, propriedade que, agora – quiçá tardiamente –, assumo perante a blogosfera num despudor excruciante.
(Qualquer dia o Pedro Vieira interpõe uma providência cautelar no Tribunal da Azinheira Cintilante para impedir que me aproxime dos seus voluptuosos textos e das suas excitantes e apelativas caixas de comentários, tal tem sido o assédio.)

Assumida a minha condição, ausente a providência, lidos os textos, aqui ficam as recomendações:

Melancolia


Fiquei deveras embevecido e de certa forma melancolicamente feliz – por muito que este estado possa parecer paradoxal – com este texto do Ricardo no seu blogue Devaneios.
O pequeno texto que acompanha as imagens de quatro discos originais do deus Francis Albert deixou-me à beira do comovimento melómano:

«É tudo muito lindo, muito lento, muito crepuscular, muito melancólico, mas ninguém bate o génio do Original. Nem ontem, nem hoje, nem nunca.»

Porventura, bastar-me-ia um, In the Wee Small Hours – considerado por muitos musicólogos como o álbum mais triste e nostálgico da história da música, donde destaco os exemplares “I'll Be Around”, “In the Wee Small Hours of the Morning”, “Dancing on the Ceiling” ou “What is This Thing Called Love”, e como epítome da melancolia, cujo título resume tudo, há o soberbo “Glad To Be Unhappy”, «fools rush in / so here I am …» da famosa dupla Rodgers & Hart – para abrir a torneira das minhas emoções mais profundas.

Mas como o tempo é de alegria – nos três dias que nos restam até ao equinócio de Outono – aqui deixo ficar quatro álbuns dignos de um antidepressivo para o necessário e salutar período pós-melancolia, que a exemplo dos álbuns exibidos pelo Ricardo pertencem à denominada fase “Capitol Years”, que todo o sinatreiro reconhece como uma das melhores e mais produtivas.

Marco

Fez-me chorar aos quatro anos. Do alto de mim, torrentes de baba e ranho entaramelaram-se numa mescla viscosa rumo àquele porto italiano que vira partir para a Argentina a querida mamã. O Dragonball é violento!? O Marco vence-o aos pontos. Porém, não é a esse que me refiro.

A violência e o horror em estado puro, depois de noites seguidas de canseira no exercício da prodigiosa tarefa de correcção de exames finais – assim o obrigavam a justiça e a objectividade classificativas. Naqueles dias, nada do que se pudesse suceder poderia ser ou parecer tão mau ou tão provocadoramente exasperante como aquele retiro ascético forçado, e eis que surgia aquela frase assassina que esperava por mim escondida nos interstícios das lajes que pavimentavam os corredores que ostentavam as pautas: «Foda-se, eu tinha passo se não fosse aquela merda!» Sempre a culpa alheia na hora do desaire e quem sofre é a língua e o seus particípios passados. Tal como «eu tinha marco aquele golo se…» qualquer complemento extemporâneo e deliciosamente rústico e boçal. Contudo, não é a esse marco que me refiro.

Histórico – as voltas que uma pessoa dá só para comunicar a 6,72 pessoas (sendo seis inteiras e a 0,72 a mais importante) que constituem a audiência deste depauperado blogue que, finalmente, o sapo – não o portal – foi engolido.
«No dia seguinte ninguém morreu.»
E pronto, mais notícias não darei, a não ser que se dê o caso especial de gostar da obra que presentemente leio – e que pretendo acabar de ler nos próximos dois dias no máximo; ou que a leitura das restantes obras me desperte e excite a dolorosa deglutição de todos os sapos que caíram do céu em Magnólia, de Paul Thomas Anderson, após a constatação de que aquele sujeito repelente – e, acreditem, poderia ter sido mais acutilante! – merece um dos lugares cimeiros na minha estante mental de autores de eleição.
Não creio, mas que é possível… ¡Cómo las brujas!

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Summertime

O meu conterrâneo “Zero” publicou esta pérola de imensidade interpretativa de Summertime do mestre George Gershwin.
Do conjunto destaco a inesquecível versão de Billie Holliday – uma das minhas preferidas. Depois há Basie, Ellington, Hawkins, Mingus, Peterson, Rollins, Charlie Parker e até o sax tenor de Getz.

Deixo aqui lado na grafonola, durante uma semana, a versão interpretada pelo meu deus vocal, de nome Francis Albert Sinatra, gravada pela rádio a 4 de Junho de 1947, integrada no “The George Gershwin Tribute Show” e editada em CD há três anos pela Sony, Sinatra Sings Gershwin, constando de um extenso medley dedicado a Porgy & Bess de Gershwin.

domingo, 17 de setembro de 2006

As várias mortes da Investigação [actualizado]

Diz-se, com razão, que, em Portugal, o denominado jornalismo de investigação está morto e sem hipótese de qualquer reincarnação, por mais travestido que pudesse retornar ou por influência directa de Shirley MacLaine.
Dizem que não há dinheiro, que a investigação se faz pagar caro… Eu contraponho com a excessiva concentração dos meios de comunicação social em corporações perfeitamente visíveis e legalizadas e em supracorporações sigilosas, esotéricas e de estrita observância, laicas ou de estirpe diversa. Há demasiadas Ilhas ditas Virgens, e alguns Caimões ávidos pela cruel dentada no pobre desditoso que se serve da Justiça para que a própria se faça. Onde já se viu? No nosso país? Onde o uso – como fonte mediata do Direito – consagrou, num paradoxo cruciante, a justiça como iníqua!?
O João Gonçalves alerta, e bem, para o estado de
depauperamento do DCIAP:
«O DCIAP foi criado com o objectivo de perseguir "a grande criminalidade económico-financeira". Os resultados estão à vista. À miséria do DCIAP corresponde o florescimento da "economia paralela" e da corrupção, a pior de todas, a silenciosa, amiguista e "familiar".»
Eu acrescento: e os paralisantes cortes orçamentais na Polícia Judiciária? E as constantes reestruturações, fusões e cisões na sua estrutura de comando?

Hoje, folheei o
Sol alheio – sob reserva de propriedade de um leitor mais ocioso – e li que o processo de escolha do próximo Procurador-Geral da República está bloqueado porque o putativo indigitado pertencia à Maçonaria – confirmarei a notícia, em linha, na próxima terça-feira.
Folclore!
Será que o primeiro Presidente da República Portuguesa não maçom irá conseguir?
É melhor esperar sentado, porque mesmo que Cavaco não consiga deter uma nomeação aventaleira, só muito mais tarde saberemos através de uma zanga de comadres lojistas; ou então, pelos tais pardalitos, trinando uma melodia melíflua, poisados num ramo de acácia e que, simultaneamente, padecem da triste síndrome da incontinência verbal.

Bom, falemos então da Investigação académica… [que covil!]

[Adenda] Eis parte da notícia do semanário SOL:

«A escolha do sucessor de Souto de Moura está iminente, mas o processo complicou-se devido à alegada ligação à Maçonaria do juiz do Supremo, Fernando Pinto Monteiro, um dos nomes mais apoiados por sectores do Governo.»

sábado, 16 de setembro de 2006

Ambivalências

Este pequeno ensaio – sem pretensiosismo – auto-irónico surgiu como réplica da minha sentidamente dilacerante luta interior – a verdadeira cosmogonia do meu ser.
Foi como uma resposta das minhas entranhas, meramente física e até extrospectiva, que se consubstancia na tal luta, porém desigual – desproporcional, como está na moda –, entre a metade que faz de mim um ser enfadonho, ortodoxo, cientista – de formação, “deformação?” –, diligente, porventura um filisteu, e a metade que representa o meu Eu devaneante, desregrado, espontâneo, heterodoxo e talvez um pateta de um diletante, um amante estouvado da Literatura.

Meu caro
Sérgio, foi precisamente isto que afirmaste – «Se uma frase (…) valesse por um livro, seria sempre a primeira. Define o tom e o sentido, obriga o escritor a seguir por um só caminho, num ritmo apenas; de contrário, o livro não presta – e afirmo isto como se falasse de alguém vivo.» – que pretendi escrever, mas, na realidade, faltou-me a coragem para dar esse passo, a ousadia que o meu Eu filisteu pensou que só poderia advir – tal como me adestraram – da formação académica, do versado em letras, como um ensinamento esotérico que jamais estivesse ao meu alcance.

E é isto que tudo aquilo significa:
«Uma gigantesca encenação, e isso é um prazer enorme.»

E é por isso que despenderei os meus recursos num Ellroy que nunca li; acrescentando-se um De Palma que idolatrava nos meus tempos de adolescente – desde que vi Carrie no Fantasporto – cujas últimas viagens marcianas e serpentes com olhos de Cage me desiludiram profundamente.
Será De Palma de regresso ao Mestre Hitchcock? (Destaco “Blow Out”, “Vestida para matar” e “Testemunha de um crime”).

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Auto-ironia

Já se disse, por essa blogosfera fora, que uma boa frase inicial não faz o bom romance, e que a frase inicial reputada de exemplar resulta quase sempre da notoriedade do autor, como arreigado preconceito das capacidades humanas, mesmo que subliminares, de assimilação e de mimetismo das tendências ditadas pela moda literária, que eventualmente conferirão a chancela de sabedor e de cultivado leitor a quem a usa. Uma repugnante ostentação, como uma casa de emigrante de alumínios dourados, fontes luminosas e azulejo multicolor?
Poderia transformar este texto numa autoparódia das elucubrações prévias, pretensamente sérias, embora estas fossem marcadas por uma fuga intencional aos cânones da estrita observância crítica e do estudo das obras literárias de reputação vária.
Restar-me-ia a heterodoxia compilatória e o apelo à elasticidade passional subjacente à pluridisciplinaridade dos leitores-participantes.

Convidei-me para uma autoflagelação.
Li e reli frases iniciais das obras que compõem a minha, porventura modesta mas extensa, biblioteca.
Folheei Saramago – sem ser literal, como as camadas finas de uma cebola de passados celerados, inter alia – uma vez mais sem o ler. Quedei-me pela primeira do último: «No dia seguinte ninguém morreu.»
Sei para onde irei e vou começar por aí…

A Grande Fraternidade

Em tempos imemoriais fui bom, apetecível… fascinante, até.
Vinte e três anos acabados de fazer, convites, encómios, galanterias, gracejos… um curso, uma vida, a emancipação e a independência; noitadas infindas, sem que me obrigasse à habitual liturgia do engate por uma noite barata, uma piscadela de olho andrógina ao barman que o compelia a oferecer bebidas num reflexo pavloviano; carro e mais noitadas sem a omnipresença policial nas ruelas da vida – só rotundas, que evitávamos – na caça ao jovem estroina com grão na asa.
Foda-se, um convite! A chave do mundo aos olhos de um adulto com cheiro a leite, contudo ufano pela ostentação dos cueiros limpos, sem a infalível mácula da condição humana.
Quiseram-me em posição altaneira atrás do púlpito. Cegueira cúpida de sobranceria académica.
Em breve… Agora, era eu que, amparado pelo grande quadro de ardósia escura – tão sombrio que realçava a minha aura –, fazia desamarrar a morrinha de gotículas de cuspo pejadas de doutrina escolástica. Opções? Futuro… perdão, futuros? Contrato através do qual…
O meu contrato de futuros era o silêncio, a suave prostração e a enérgica oblação perante os ensinamentos de uma cartilha que se servia em pacotes previamente confeccionados pela clique dos fazedores de pobres de espírito. Os grandes bloqueadores da histamina que se liberta do meu corpo pela acção das marcas indeléveis de sapiência empoadas a giz; anestesia, matam o desconforto, porém não curam a doença.
Esta seria a história da Impunidade se não houvesse erro, a opção errada, a aposta com as suas ínfimas probabilidades de sucesso. A integridade que jamais se troca ou se vende por preço algum. A consciência tranquila do caminho certo, mesmo que esse caminho me conduza para o precipício mais profundo do que o salto mais alto que as minhas pernas me permitam dar.
A aposta parecia certa, um processo de arbitragem de troca de segredos, mentiras, sórdidas cumplicidades, desejos fátuos de vida luxuosa e luxuriante. Em primeiro lugar, conquista-se pela fidelidade; depois, amarramo-lo pela partilha da carniça conquistada à custa do esforço alheio. O aprendiz de necrófago que mais tarde ensinará necrofilia, perpetuando a nossa espécie… Deus guarde as nossas almas!
Esse é o engano. A cegueira perante a novidade do brilho iridescente dos grandes valores como a integridade, a honradez e a justiça – vampiros fotossensíveis pela tal impunidade.
A integridade de um Homem poderá exigir fidelidade, porém esses Vlads com asas de anjo não sabem – e felizmente nunca saberão – que jamais alcançarão a fraternidade incondicional, cega, surda e muda perante a sordícia e o grave delito.

Vladimir Nabokov em entrevista dada a Alvin Tofler, falava na “grande fraternidade dos Medíocre Menos, espinha dorsal da nação” que, embora se referisse a assunto diverso, se poderá facilmente generalizar, corporizando-o no espelho das inúmeras faces com que se reveste a sociedade.
Ora, como já referi neste espaço inúmeras vezes, essa é precisamente a fonte geradora e potenciadora de toda a impunidade: a mediocridade que, de forma recalcitrante, não nos ensinam a saber enfrentar desde a primeira mamada em seio materno aos primeiros assentamentos do traseiro nos bancos da escola.

Como? O que é? Academicamente: Suponhamos
este caso: não me encoraja, mas também não me verga!

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Booker Prize 2006 – Finalistas

Hermione Lee, presidente do júri para a atribuição do Man Book Prize for Fiction deste ano, anunciou a lista dos seis romances finalistas:

  • Kiran DesaiThe Inheritance of Loss;
  • Kate GrenvilleThe Secret River;
  • M.J. HylandCarry Me Down;
  • Hisham MatarIn the Country of Men;
  • Edward St AubynMother’s Milk;
  • Sarah WatersThe Night Watch.

A lista de finalistas deste ano é maioritariamente composta por escritoras – quatro ao todo.
De notar que, ao contrário do ano anterior, nenhum dos romances foi ainda editado para o mercado português.

Nota: Ver aqui a notícia, que inclui uma breve declaração de Hermione Lee e as sinopses dos romances seleccionados.

terça-feira, 12 de setembro de 2006

A reter

Saiu hoje no mercado literário:


Primeira obra de Jonathan Littell (o americano antiamericano, que vive em Espanha, publica em francês, cujo editor é inglês), que conta a história nua e crua de um ex-oficial das SS que no pós-guerra, sob identidade falsa, reconstrói a sua vida em França como um francês exemplar. Todavia, manchado pelo seu passado sombrio, recorre às suas rememorações como teste às suas capacidades de resistência e de sofrimento.

Tradução aproximada: As Benevolentes – título baseado na trilogia de Ésquilo Oresteia, como referência às Erínias, as deusas da mitologia grega que vingam o assassínio dos mortais, em particular os crimes perpetrados contra o mesmo sangue, e que perseguiram Orestes que, sob a aquiescência de Apolo, matou a sua mãe Clitemnestra e o seu amante Egisto como acto de vingança pelo assassinato cometido por este último contra o seu pai Agamémnon.

Crítica da obra e biografia do autor:

Medo

Um número de 778.781 eleitores (por extenso para que não restem dúvidas, setecentos e setenta e oito mil, setecentos e oitenta e um) quis ter o senhor da fotografia como Chefe Supremo das Forças Armadas Portuguesas, através do exercício do direito de voto nas eleições presidenciais de Janeiro deste ano.
Tive medo. Hoje, tenho ainda mais medo da simples fantasia de coabitar neste país de medíocres com um Pai da Nação desta estirpe, deificado e branqueado durante décadas pela nossa comunicação social.
Se mais razões me faltassem para o terror que se me assaltou, bastar-me-ia ouvir o pequeníssimo excerto de oratória no qual o único político canonizado da lusa pátria – enquanto não santificam o beato Cunhal – apresenta como credível uma teoria, de uma abjecção perturbadora, sobre os atentados de 11 de Setembro de 2001 e, mais em concreto, sobre a queda da Torre 7 do World Trade Center – aconteceu esta noite no programa Prós & Contras na
RTP1.

Sr. Dr., siga as suas próprias instruções – enunciadas há uns anos numa amável conversa com um batedor da Brigada de Trânsito da GNR: Desapareça!

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

O Dia da Memória


Manhattan à noite, há cinco anos...
[Gershwin na grafonola]

domingo, 10 de setembro de 2006

Frases Iniciais Exemplares (v. beta #41 a #45)

Apesar de haver anunciado o encerramento da listagem de frases iniciais exemplares de obras de ficção, que aqui iniciei no pretérito dia 3 de Agosto, chegaram à minha caixa de correio electrónico algumas contribuições da blogosfera, de tal modo que se revelaria como injusta a sua não publicação na listagem definitiva.
Assim, estabeleci, de forma autocrática, o prosseguimento da construção da lista até à meia centena de frases de abertura de romances, novelas ou contos.
Todavia, antes de publicar as cinco frases de hoje, gostaria de fazer aqui justiça a outro blogue que desde a sua fundação – Fevereiro deste ano – tem publicado grandes aberturas de romances – e não apenas as frases iniciais. Trata-se do
Ad Loca Infecta de José Miguel Silva, devidamente alertado por este texto do Henrique Fialho no seu blogue (ímpar e de muita estima aqui da casa) Insónia.
Feita a justa menção, resta apenas referir que, à imagem do último adicionamento, se inclui, a título excepcional, a abertura de uma obra de não ficção, desta feita do insigne professor de Literatura e filósofo alemão, entretanto falecido, Hans Blumenberg (pelo Luís Carmelo).
Eis as frases contempladas:

#41, contribuição de Henrique Fialho, do blogue
Insónia:
«Acordei da doença aos quarenta e cinco anos, calmo, são de espírito e, excepto o fígado debilitado e a aparência de estar metido na pele de um outro que é comum a todos aqueles que sobreviveram, razoavelmente saudável. A doença… a maior parte dos doentes não se lembra do delírio em pormenor.»
William S. Burroughs, Festim Nu

(Editorial Notícias, 1.ª edição, Outubro de 2002, pág. 9; Tradução de José Luís Luna e revisão de Abel Gomes; Obra Original: Naked Lunch, 1959)


#42, contribuição de Filinto Melo, do blogue Jornada:
«Depois de tantas horas de caminhar sem encontrar nem uma sombra de árvore, nem uma semente de árvore, nem uma raiz de nada, ouve-se o ladrar dos cães.»
Juan Rulfo, “Deram-nos a terra”, Planície em chamas (contos)

(Cavalo de Ferro 2003, pág.11; Tradução de Ana Santos; Obra Original: “Nos han dado la tierra” in El llano en llamas, 1953)


#43, contribuição de Abel Sequeira Ferreira, do (sugestivo, compreenderão!) blogue
The Red Notebook:
«Eunice Parchman matou a família Coverdale porque não sabia ler nem escrever.»
Ruth Rendell, Sentença em Pedra

(Gradiva, 1.ª edição, 1984, pág. ?; Tradução de Adélia Silva Melo e revisão de Manuel Joaquim Vieira; Obra Original: A Judgement in Stone, 1977)


#44, contribuição de Rogério (primeira contribuição de um bloguista brasileiro), do blogue
Conto as favas:

«Desocupado lector:
«sin juramento me podrás creer que quisiera que este libro, como hijo del entendimiento, fuera el más hermoso, el más gallardo y más discreto que pudiera imaginarse. Pero no he podido yo contravenir al orden de naturaleza, que en ella cada cosa engendra su semejante.»


Em português:
«Desocupado leitor, sem juramento me poderás crer que quisera que este livro, como filho do entendimento, fora o mais formoso, o mais galhardo e o mais discreto que pudera imaginar-se. Mas eu não pude contravir a ordem da natureza, na qual cada coisa engendra a sua semelhante.»
Miguel de Cervantes, O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha (Prólogo da obra)

(Civilização, 1999, Vol. I, pág. 20; Tradução de Daniel Augusto Gonçalves e Arsénio Mota; Obra Original: El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha, 1605; Título posterior: Don Quijote de la Mancha)

Nota: ver
este texto no blogue do Rogério.


#45, contribuição de Luís Carmelo, do blogue
Miniscente:
«O homem conduz a sua vida e ergue as suas instituições sobre terra firme. Todavia, procura compreender o curso da sua existência na sua totalidade, de preferência, com a metáfora da navegação temerária.»
Hans Blumenberg, Naufrágio com espectador (ensaio literário)

(Vega, 1990, pág. ?; Tradução de Manuel Loureiro; Obra Original: Schiffbruch mit Zuschauer, 1979)

2.º título do Grand Slam

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sábado, 9 de setembro de 2006

Borlas


Todo o português que se preze incensa a borla, elevando-a à condição de património da lusa nacionalidade.
A consagração da borla pelo uso no nosso ordenamento psicossocial é tão importante, que ignorar uma borla tornou-se um sacrilégio – ou um crime de lesa pátria –, cuja pena se materializa num duro ostracismo pelos demais enquanto perdura a memória da infracção cometida.
Nem de propósito, o português médio identifica-se com a espaventosa e ignara Kelly (Anna Faris): «I'm under Evelyn Waugh. Shh…» [Tradução livre: Estou registada no Hotel sob o nome Evelyn Waugh. Chiu…]

Cerca de nove tabacarias, hipermercados, cafés e quiosques percorridos, entre as quatro e as cinco da tarde e: «Perdão, o Expresso esgotou! Sabe… vinha o DVD!»

Dei por mim a pensar: «Que o levassem… Pelo menos poderiam ter deixado ficar o Jornal!»
Todavia, sei que isso seria um gesto verdadeiramente inexequível. O português domingueiro de risca ao meio na frondosa cabeleira, que se prolonga, numa destreza geométrica, ao bigode, de fato de treino verde alface e jornal desportivo debaixo do aromático sovaco empapado de excrescências, que aí habitarão pelo menos mais um par de dias, é muito cioso da sua propriedade. Do género: se paga a portagem e os impostos como todos os outros tem todo o direito de circular na faixa mais à esquerda a 50 quilómetros por hora.

O Sol está para nascer. Há quem diga que será um perfeito sucedâneo do agora cambiado e sofrível incentivador de borlas. Se esta política do rebuçadinho – não estou a falar do “apito dourado” – continuar e se aos portugueses como eu – aqueles que adoram acordar tarde e começar a viver a partir das catorze –, lhes faltar o instrumento que lhes mata o vício periodístico de Sábado à tarde pela cupidez borlista da lusa nação, o Astro-rei cedo começará a brilhar nas suas literárias ondas cerebrais.

Cuida-te Henrique Monteiro, creio que isto «
Os 160 mil exemplares do novo EXPRESSO, em formato “berliner” e a custar menos 20 cêntimos (€2,80), foram assim vendidos em poucos mais de quatro horas» não é motivo para este tipo de euforia desbragada, é um pau de dois bicos…

Sentimentos


No próximo dia 17 este blogue cumprirá nove meses de existência. Completar-se-á um ciclo: o nascituro corporizou-se num espaço de exibicionismo diário – consciente ou não – das minhas excitações, de alguns desencantos, das minhas ideias e teimosias, dos impulsos que fervilham nesta campânula hermética de massa cinzenta que por outro meio jamais se poderiam exteriorizar.
Nestes nove meses de escrita na blogosfera fiz amigos – sinto que os fiz. Afigura-se-me a uma dilacerante distopia platónica, obstinadamente sufocante por impossibilidade de manifestação do sentido de tacto, a algo de estranho e até, de certa forma, contranatura; mas a realidade quotidiana e a teia de relacionamentos alteraram-se em definitivo com a emergência das tecnologias de informação. Surgiu um novo conceito de amizade, ou se se preferir esse sentimento recíproco de partilha das nossas emoções, das mais superficiais às mais profundas – do sentimento de nós mesmos.
A amizade já não implica, no sentido restrito do termo, a troca química e palpável das sensações experimentadas pelos nossos sentidos perante a descoberta de outrem que nos apraz. Conhecemo-nos pelos caracteres – idiossincrasias e grafias – plasmados num monitor em linguagem informática. É como se decorresse uma batalha de ideias, valores, crenças, atitudes e comportamentos, que inexoravelmente nos agrupa por um indelével e subliminar sentido de identificação mútua – não, não é pela cor, ideologia política, religião ou clube de futebol, é pela integridade percebida.
Sinto que vou fazendo amigos e sinto que os tenho – ou estou iludido por essa certeza?
Será um jogo de espelhos repleto de processos de desmultiplicação da personalidade? Ou como vi escrito no excelente
Ultraperiférico: «pensar na blogosfera como um jogo de espelhos heteronímico»?
Não há cor, cheiro, degustação ou um evanescente deslumbramento visual, há apenas sensibilidade e sentimento de partilha; ou então reverberações de formas desejadas de pensar, de sentir e de agir – porventura narcísicas.

Abraços aos destinatários que, dispensando-me de os nomear, seguramente se sentirão visados pela lisonja – transmissão de pensamento? Em que ficamos?

Só mais um esforço...!

Maria Sharapova

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

As máculas de D. Pombinha

A fabulosa alegoria de Dias Gomes continua a dar frutos… tem fama de Santeiro:

«Luís Filipe Vieira apanhado nas escutas a escolher árbitro».

João Ferreira… Que novidade! Lembro-me, pelo menos, de um Guimarães - Benfica de há uns anos !

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

O Ténis prejudica seriamente a leitura

MARIA Sharapova
Nada como a experiência própria para o assentamento de postulados.
Meia-noite. O amante de Ténis liga-se ao canal 9 – Eurosport na TVTel – e prepara-se para ler. O passo seguinte: o som é retirado às colunas por um simples pulsar no botão de emudecimento no telecomando do televisor.
Missão descumprida: o som volta ao televisor. Gritos estrídulos e extáticos de culminância do esforço empregado num simples serviço invadem a minha sala de estar. Ali estava ela… de preto, com olhos de lince numa figura imaculada… Maria!
Fechei o livro. Tentei controlar-me pensando em Inês Pedrosa e no Plano Nacional de Leitura. Uma raiva incontida transformou-me num modernizado Girolamo Savonarola de feixes hertzianos. Vacilei e fechei o livro.
Maria, luz da minha vida, fogo da minha…

Debbie Harry acompanhar-me-á durante esta semana: She moves like she don't care / Smooth as silk cool as air

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Uma teoria de Deus e o suicídio

Para além de um bom começo e de uma ideia global sinceramente positiva que nos resta após a leitura de uma notável obra de ficção, há diálogos que jamais nos sairão deste intrincado processo de afixação de coisas que nos assombram na insondável memória.
O pecado do suicídio, sobre o qual não há remissão possível – cujos perpetradores habitam o Sétimo Círculo de O Inferno de Dante* –, explicado por Fiodor Mikhailovich (Dostoievski) à pequena Matriosha em O Mestre de Petersburgo por J.M. Coetzee (pp. 74-75):

«
– Achas que ele se matou?
– A mãe diz que ele se matou.
– Ninguém se mata, Matriosha. Uma pessoa pode pôr a vida em perigo, mas não se pode verdadeiramente matar. É mais provável que o Pavel se tenha colocado em risco, para ver se Deus o amava o suficiente para o salvar. Fez uma pergunta a Deus: Salvar-me-ás?; e Deus deu-lhe uma resposta. Deus disse: Não. Deus disse: Morre.
– Deus matou-o?
– Deus disse que não. Deus podia ter dito que sim: Sim, salvar-te-ei. Mas preferiu dizer que não.
– Porquê? – sussurra ela.
– Ele disse a Deus: Se me amas, salva-me. Se estás aí, salva-me. Mas só houve silêncio. Depois ele disse: Eu sei que estás aí, sei que me ouvirás. Aposto a minha vida em como me salvarás. E mesmo assim Deus não disse nada. Depois ele disse: Por muito que te mantenhas calado, sei que me ouves. Vou fazer a minha aposta… agora! E fez a sua aposta. E Deus não apareceu. Deus não interveio.
– Porquê? – sussurra ela de novo.
Ele fez um sorriso feio, enviesado, barbudo.
– Quem sabe? Talvez Deus não goste de ser tentado. Talvez o princípio de que não deve ser tentado seja mais importante para ele do que a vida de uma criança. Ou talvez a razão seja simplesmente que Deus não ouve lá muito bem. Deus nesta altura já deve ser muito velho, tão velho como o mundo ou até mais. Talvez seja duro de ouvido e também tenha a vista fraca, como qualquer velho.
»

*Círculo Sétimo do Inferno, em A Divina Comédia de Dante Alighieri, traduzido e anotado por Vasco Graça Moura (Bertrand, 5.ª edição, Dezembro de 2000, Canto XIII: 103-105, pág. 133):
«
Iremos, como os mais, pela recolha
dos despojos, mas não para vesti-los;
que não é justo ter o que se tolha.
»
(Nota interpretativa por VGM: No dia do Juízo Final, iremos buscar os nossos corpos, como todos os outros, mas não para os recuperarmos e torturarmos a vesti-los, por não ser justo com o que a nós próprios tirámos.)

Jet Lag – Notas Soltas


(Foto: © 2006 AMC, lusco-fusco na praia, algures na Península do Yucatan, na Riviera Maya)

(In)felizmente, eis-me de volta ao país que me (nos) tortura. Nove dias de ausência. Seis horas de diferença horária que, deliciosamente, me afastaram das atribulações lusas. Muito calor, uma humidade relativa que nos conduz ao devaneio, assaz evolucionista, de possuir guelras como sistema respiratório de recurso e alternativo ao sistema pulmonar. Tequilas – de todas as formas e feitios –, Mojitos, Mai-Tais e uma gastronomia de tal forma portentosa que decerto contribuiu para o adensar das gotículas de vapor de água no ar, desventuradamente insuficientes para libertar em igual proporção a massa adiposa que insiste em crescer à volta da minha barriga.

Notas:
  1. Um abraço para todos aqueles que por esta via ou por outra me desejaram, com uma salutar inveja, uma boa e retemperadora estada no além-mar.
  2. Um abraço de parabéns ao Francisco José Viegas pelo primeiro aniversário do seu excelente blogue A Origem das Espécies, cujo crescimento tive o real privilégio de acompanhar, na qualidade de um quase anónimo na blogosfera, seguindo uma liturgia de leitura diária de rito (francamente) ortodoxo – a ausência por lazer por vezes tem destas coisas…
  3. Entre furacões e benditas excitações de amor e amizade dos meus mais próximos com o Ernesto e o John, recebi uma notícia de um 4-2… Adiante! Ainda vou ver os ferrenhos defensores de outrora a autopromoverem-se a torquemadas do tempo presente. O lume já corre brando…
  4. O país – esse amontoado de despojos da Justiça (fui benévolo, estou um mãos largas!) moldado pelos medíocres e pelos impunes fazedores de medíocres que os querem no poleiro – contenta-se com umas décimas dadas de borla pela OCDE na previsão para o crescimento económico do ano que corre. Tudo na mesma… Como se umas míseras décimas de ponto percentual nos colocassem na linha da frente junto dos denominados Tigres da Europa. O crescimento médio previsto para o PIB na UE é de 2,7%;
  5. Resta-me a Literatura, para referir que a lista de frases iniciais exemplares será completada com contributos idos que injustamente ficariam num dos arrumos do disco duro do meu computador e por outros que, entretanto, chegaram à minha caixa de correio electrónico.
  6. Quatro curtos e bons livros que li nestes dias de benfazeja modorra estival (por ordem de leitura):
  • O Segredo de Joe Gould – Joseph Mitchell – Dom Quixote;
  • O Navio-Farol de Blackwater – Colm Tóibín – Dom Quixote;
  • O Corpo Enquanto Arte – Don DeLillo – Relógio D’Água;
  • O Mestre de Petersburgo – J.M. Coetzee – Dom Quixote.

Prometo voltar em breve, já refeito deste Jet Lag.