A interrogação enunciada desta forma por Harry “Coelho” Angstrom é uma das inúmeras chaves que voluteiam pelo texto e, talvez, aquela que de uma forma cabal permite descodificar parte da aura de cruel ingenuidade do protagonista da obra literária Corre, Coelho (Rabbit, Run; 1960) do escritor norte-americano John Updike (n. 1932), este mês publicada pela Civilização Editora.
Corre, Coelho foi o segundo romance publicado por John Updike, tinha apenas 28 anos e já alguns contos e poemas publicados. A crítica foi quase unânime, este romance veio abalar os supostamente sólidos cânones da sociedade americana que lhe foi contemporânea, não só pelos recursos literários que empregou, mas sobretudo pela fidelidade do retrato de uma sociedade empenhada na prossecução do Sonho Americano, perdida no emaranhado de caminhos que conduzem à alienação do indivíduo em nome de valores sociais, morais e religiosos, cujo choque inter-relacional contribui, de forma quase inevitável, para a criação dos tais muros que o apartam da sociedade, promovendo o individualismo profundamente egocêntrico e a excruciante solidão.
Considerado pela revista Time como um dos 100 melhores romances publicados originalmente em língua inglesa entre 1923 e 2005, e eleito pelo The New York Times – em conjunto com os restantes livros da tetralogia do Coelho, reunidos num só volume – como uma das melhores obras de ficção americana do último quartel do século XX – a par de obras de Roth, DeLillo, McCarthy e Toni Morrison –, Corre, Coelho consegue ser simultaneamente arrebatador e perturbador, com passagens de texto dilacerantes, onde se ergue o tal anel de corda interior que nos sufoca pelas suas secura e aspereza.
Corre, Coelho foi o segundo romance publicado por John Updike, tinha apenas 28 anos e já alguns contos e poemas publicados. A crítica foi quase unânime, este romance veio abalar os supostamente sólidos cânones da sociedade americana que lhe foi contemporânea, não só pelos recursos literários que empregou, mas sobretudo pela fidelidade do retrato de uma sociedade empenhada na prossecução do Sonho Americano, perdida no emaranhado de caminhos que conduzem à alienação do indivíduo em nome de valores sociais, morais e religiosos, cujo choque inter-relacional contribui, de forma quase inevitável, para a criação dos tais muros que o apartam da sociedade, promovendo o individualismo profundamente egocêntrico e a excruciante solidão.
Considerado pela revista Time como um dos 100 melhores romances publicados originalmente em língua inglesa entre 1923 e 2005, e eleito pelo The New York Times – em conjunto com os restantes livros da tetralogia do Coelho, reunidos num só volume – como uma das melhores obras de ficção americana do último quartel do século XX – a par de obras de Roth, DeLillo, McCarthy e Toni Morrison –, Corre, Coelho consegue ser simultaneamente arrebatador e perturbador, com passagens de texto dilacerantes, onde se ergue o tal anel de corda interior que nos sufoca pelas suas secura e aspereza.
«Decide dar a volta ao quarteirão para aclarar as ideias e escolher o caminho que deve seguir. É curioso que aquele que nos faz ir seja tão simples e aquele por onde devemos ir esteja tão cheio de gente.» (pág. 300)
Harry Angstrom, o Coelho, é um jovem de 26 anos, casado com Janice Springer, de quem tem um filho de dois anos, Nelson. Vive em Mount Judge, no Estado da Pensilvânia. Ex-estrela de basquetebol do liceu local, trabalha como anódino vendedor de descascadores de legumes e tubérculos MagiPeel, fazendo demonstrações das façanhas do utensílio ao domicílio.
Um dia perante o reiterado cenário onde figura a mulher prostrada em frente do televisor, completamente ébria, grávida de 7 meses e com um filho para cuidar – nesse dia ao cuidado da mãe, Mrs. Angstrom –, Coelho sai para comprar cigarros e desaparece de carro, abandonando mulher e filho.
Após uma curta deambulação de carro – durou um dia – com o objectivo de se afastar tanto quanto possível de Mount Judge, Coelho inverte a marcha e detém-se em Brewer – terra vizinha de Mount Judge –, procura o seu antigo treinador, o decadente Tothero, e envolve-se com uma prostituta, Ruth, com a qual passará a viver durante dois meses. À medida que se vai envolvendo na sua segunda vida, Coelho conhece o jovem Reverendo Eccles – que o procura –, pastor da Igreja Episcopaliana, à qual pertencem os seus sogros. Eccles será o elo de ligação de Harry com Janice, os Springers e os Angstroms, aconselhando-o a voltar para refazer o lar que acabara de destruir.
Ao fim de dois meses recebe de Eccles a notícia que a sua mulher se encontra no hospital local em trabalho de parto… Harry corre. Corre, Coelho!
Esta é a história de um rapaz que não cresceu apesar de já haver dobrado a segunda metade da sua terceira década de existência.
A culpa, tão humana, a mácula do mundo que se materializa no pesado fardo da vivência quotidiana, volatiliza-se em Coelho, tendo por reagente a marca indelével e distintiva do seu profundo egoísmo, a carapaça protectora que lhe foram construindo e que o aparta dos outros, tornando impossível o estabelecimento de uma relação humana e afectiva duradoura, porque esse é Coelho, o eterno insatisfeito, irascível, pronto a conceder a indulgência do perdão – a culpa acaba sempre por ser dos outros – e a transforma mais tarde num ódio incontrolável, denegando a importância dos sentimentos dos que lhe são próximos por justaposição com o seu imensamente superior sofrimento.
Classificação: ***** (Muito Bom)
Referência bibliográfica:
John Updike, Corre, Coelho. Porto: Civilização, 1.ª edição, Abril de 2007, 301 pp. (tradução de Carmo Romão; obra original: Rabbit, Run, 1960).
Um dia perante o reiterado cenário onde figura a mulher prostrada em frente do televisor, completamente ébria, grávida de 7 meses e com um filho para cuidar – nesse dia ao cuidado da mãe, Mrs. Angstrom –, Coelho sai para comprar cigarros e desaparece de carro, abandonando mulher e filho.
Após uma curta deambulação de carro – durou um dia – com o objectivo de se afastar tanto quanto possível de Mount Judge, Coelho inverte a marcha e detém-se em Brewer – terra vizinha de Mount Judge –, procura o seu antigo treinador, o decadente Tothero, e envolve-se com uma prostituta, Ruth, com a qual passará a viver durante dois meses. À medida que se vai envolvendo na sua segunda vida, Coelho conhece o jovem Reverendo Eccles – que o procura –, pastor da Igreja Episcopaliana, à qual pertencem os seus sogros. Eccles será o elo de ligação de Harry com Janice, os Springers e os Angstroms, aconselhando-o a voltar para refazer o lar que acabara de destruir.
Ao fim de dois meses recebe de Eccles a notícia que a sua mulher se encontra no hospital local em trabalho de parto… Harry corre. Corre, Coelho!
Esta é a história de um rapaz que não cresceu apesar de já haver dobrado a segunda metade da sua terceira década de existência.
A culpa, tão humana, a mácula do mundo que se materializa no pesado fardo da vivência quotidiana, volatiliza-se em Coelho, tendo por reagente a marca indelével e distintiva do seu profundo egoísmo, a carapaça protectora que lhe foram construindo e que o aparta dos outros, tornando impossível o estabelecimento de uma relação humana e afectiva duradoura, porque esse é Coelho, o eterno insatisfeito, irascível, pronto a conceder a indulgência do perdão – a culpa acaba sempre por ser dos outros – e a transforma mais tarde num ódio incontrolável, denegando a importância dos sentimentos dos que lhe são próximos por justaposição com o seu imensamente superior sofrimento.
Classificação: ***** (Muito Bom)
Referência bibliográfica:
John Updike, Corre, Coelho. Porto: Civilização, 1.ª edição, Abril de 2007, 301 pp. (tradução de Carmo Romão; obra original: Rabbit, Run, 1960).
2 comentários:
NUNCA...ACREDITE.
NUNCA...
Enviar um comentário