sábado, 21 de janeiro de 2006

Há noite na aldeia!

Depois de ler o texto publicado por JPP no Abrupto intitulado “Ver a Noite”, uma doce e suave nostalgia das infindáveis noites de Setembro no Douro assombrou-me o espírito.
Noites amenas entrecortadas por pequenas brisas frescas que anunciavam de mansinho o deslumbramento de cores que ocorreria dentro de um mês – verde-vivo que se transmutaria num assombroso festival iridescente.
Na cardenha a roga descansava de mais uma dura jornada. Corpos fustigados pelos duros socalcos ornados a xisto, transportando às costas cestos que pesavam dezenas de quilos, carregados de Tourigas – Nacional e Francesa (agora Franca) –, Tinto Cão, Tinta Roriz ou de Malvasia Fina e Cerceal.
Era noite! Descíamos a pé o alcatrão ainda quente da Nacional 2, uma horda de irmãos, primos e amigos em busca dos lugares mais escuros, onde a iluminação pública não ousaria tão-pouco chegar, preparávamo-nos para as longas tertúlias que habitualmente corriam um largo espectro temático e por fim, quase como uma fatalidade, se centravam nos mistérios do Universo incompreendido pela sua magnitude. Era o tempo de Carl Sagan e o seu “Cosmos”, do “Mundo Misterioso” de Arthur C. Clarke e as chagas do Padre Pio.
Ah, que saudades! Um conjunto de rapazes e raparigas, entre os treze e os vinte e tais, onde os mais velhos preferiam a companhia dos mais novos que, sem idade, dinheiro ou carro que os transportasse, não poderiam ser jamais desprezados por uma inútil debandada rumo às agitadas noites de Vila Real ou de Lamego.
Em dia de reflexão, deixo-vos apenas uma imagem que recebi por e-mail, cuja autoria desconheço por completo:

Só espero que te tenhas enganado Huxley!

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