domingo, 31 de outubro de 2010

Oito

Não me canso de repetir e fazer-me ouvir: “São apenas datas, um sinal no calendário igual aos demais que se repetem três centenas e meia num ano.” E assim tento enganar, ludibriar a dor inextinguível da saudade de outros, que também é minha, e que deste modo se multiplica e intensifica pela estúpida mentira que estipulei seria dita àqueles que mais amo no dia fatal. Todavia, fico com a dúvida que a mera percepção da estupidez cometida possa servir como indicador de algum resquício de lucidez que julgara definitivamente perdida.

«Pelo menos sabes que és a pessoa mais estúpida que jamais viveu neste mundo. Quantas pessoas terão a inteligência necessária para admitir uma coisa dessas?»
Paul Auster, Sunset Park, pág. 188 [Alfragide: Asa, 1.ª edição, Outubro de 2010, 231 pp; tradução de José Vieira de Lima; obra original: Sunset Park, 2010.]
Contudo, o dia passou, permanece a dor… 8, que se declina para o infinito.