sábado, 21 de maio de 2011

Novas Oportunidades

Pode-se maldizer o programa, porém é um facto, este país mudou. Pode ser leviano apontar-se-lhe a frivolidade na demanda pelo santo grau, mesmo que os cavaleiros oportunistas não alcancem o seu sentido prático, ou melhor, a sua exequibilidade na vida deteriorada de cada lar que recebe um papel em letra de forma para emoldurar junto à reprodução da ágape primordial do famoso fresco de Da Vinci. E o Menino da Lágrima não se lembrou… seria melhor não desprezar as suas qualidades de vedor de lençóis freáticos carregados de auto-elogio.
Prosseguindo. Como uma erupção magmática, ao Menino da Lágrima veio-lhe à ideia o fenomenal furo propagandístico, logo arrefecido pela recordação ressentida de velhas querelas em Verão quente: não há um único dia que o Público não esgote nos hipermercados Continente. Lemos mais, estamos mais cultos, já sabemos escrever Pisa sem dois “z’s”.
Perante pilhas de jornais Record, dois ou três exemplares de quatro ou cinco títulos, dei por mim a afagar o frio metal do escaparate, arrepiando-me pela confirmação da longa ausência do Público, hoje com Ípsilon. Esbocei um grito. Mas, de repente, fui assolado por um vórtice de emoções de sinais contrários difíceis de transcorrer para estas linhas em hipertexto – o profundo pesar pelo companheiro das sextas-feiras perdido e a indescritível exultação pela constatação de que nos tornámos num povo mais letrado, mesmo que seja para acender os fogareiros na Avenida da Liberdade da erudita Capital no megapiquenique com o Carreira (e o apelido até vem a propósito).
Eram duas as lágrimas: apenas ficou a invisível contrafeita activada pelo testemunho veemente e iracundo do torneiro mecânico pós-doutorado em quinze dias, ditando, sem vacilar, a narrativa do regime na barraca do Sr. Engenheiro, o nosso mestre das oportunidades.