«Glenn Gould said, "Isolation is the indispensable component of human happiness."» [Contraponto] «How close to the self can we get without losing everything?»
Don DeLillo, “Counterpoint”, Brick, 2004.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Manipulação
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
O camelo e a agulha: os números finais e o júbilo socialista
2009 | 2005 | Diferenças | Crescimento | |||||||
Votos | % | Dep. | Votos | % | Dep. | votos | dep. | % | p.p. | |
PS | 2.068.665 | 36,6% | 96 | 2.573.406 | 45,0% | 120 | -504.741 | -24 | -24,4% | -8,5 |
PSD | 1.646.097 | 29,1% | 78 | 1.639.240 | 28,7% | 72 | 6.857 | 6 | 0,4% | 0,4 |
CDS-PP | 592.064 | 10,5% | 21 | 414.922 | 7,3% | 12 | 177.142 | 9 | 29,9% | 3,2 |
BE | 557.109 | 9,8% | 16 | 364.407 | 6,4% | 8 | 192.702 | 8 | 34,6% | 3,5 |
PCP-PEV | 446.174 | 7,9% | 15 | 432.000 | 7,6% | 14 | 14.174 | 1 | 3,2% | 0,3 |
5.310.109 | 93,8% | 226 | 5.423.975 | 95,0% | 226 | -113.866 | ||||
Inscritos | 9.337.314 | - | 8.785.762 | - | 551.552 | |||||
Votantes | 5.658.808 | 60,6% | 5.712.427 | 65,0% | -53.619 | |||||
Abstenção | 3.678.506 | 39,4% | 3.073.335 | 35,0% | 605.171 |
domingo, 27 de setembro de 2009
E depois da reflexão…
«[…] o Estado nunca confronta intencionalmente o senso, intelectual ou moral, de um homem, mas apenas o seu corpo, os seus sentidos. Não é dotado de inteligência ou de honestidade superiores, mas apenas de superior força física. Eu não nasci para ser coagido. Quero respirar de acordo com a minha vontade. Veremos quem é mais forte. Que força tem uma multidão? Os únicos que me podem coagir são os que obedecem a uma lei superior à minha. Eles obrigam-me a ser como eles. Nunca ouvi falar de homens que tenham sido obrigados pelas massas a viver desta ou daquela forma. Que tipo de vida seria essa? Quando enfrento um governo que me diz “O dinheiro ou a vida!”, porque é que deveria apressar-me em lhe entregar o meu dinheiro? Ele talvez esteja a passar por um grande aperto, sem saber o que fazer. Não o posso ajudar. Ele deve cuidar de si mesmo; deve agir como eu ajo. Não vale a pena choramingar sobre o assunto. Não sou individualmente responsável pelo bom funcionamento da máquina da sociedade. Não sou o filho do maquinista. No meu modo de ver, quando uma bolota e uma castanha caem lado a lado, uma delas não se retrai para dar vez à outra; pelo contrário, cada uma obedece às suas próprias leis, e brotam, crescem e florescem da melhor maneira possível, até que uma, por acaso, acaba por vingar e destrói a outra. Se uma planta não pode viver de acordo com a sua natureza, então morre; o mesmo acontece com um homem.»
Henry David Thoreau, A Desobediência Civil
[Revisão da versão brasileira com apoio do texto original em inglês: AMC, 2009; obra original: Civil Disobedience, 1849]
sábado, 26 de setembro de 2009
Follas Novas
Independentemente da denominação impudica em castelhano – o nome da loja está em galego, em espanhol seria qualquer coisa como “Hojas Nuevas” –, e dos trocadilhos mais ou menos infelizes a que isso dava origem, havia sempre uma visita à bem apetrechada livraria de Montero Ríos, com os livreiros mais bem preparados e qualificados que encontrei de todas as livrarias que visitei até aos dias de hoje – naquela livraria existiam verdadeiras bases de dados antropomórficas.
Para quem irá ler o romance enciclopédico de Roberto Bolaño, 2666, recentemente publicado em Portugal – já o li na sua língua original e talvez leia a versão portuguesa – irá reparar, no segundo livro “La parte de Amalfitano”, na breve referência que é feita à livraria, quando Amalfitano abre a caixa que continha os seus livros e surge misteriosamente um livro de um tal Rafael Dieste, cujo título era Testamento geométrico – parte importante da narrativa:
«Buscó en la primera página y en la última y en la contraportada alguna señal y encontró, en la primera página, la etiqueta cortada de la Librería Follas Novas, S.L., Montero Ríos 37, teléfonos 981-59-44-06 y 981-59-44-18, Santiago. Evidentemente no Santiago de Chile, único lugar del mundo en donde Amalfitano era capaz de verse a sí mismo en un estado de catatonia total, capaz de entrar en una librería, coger un libro cualquiera sin siquiera mirar la portada, pagarlo y marcharse.
»Se trataba, era obvio, de Santiago de Compostela, en Galicia.»
Roberto Bolaño, 2666 (Barcelona: Anagrama, 2004, 1126 pp.)
Serviria de presente. O destinatário estava escolhido. E, naquela noite de 24 de Dezembro, houve um par de olhos que brilhou com maior intensidade pela sua veneração musical à “Iguana”. Esse par cuja fulgência se apagou, em definitivo, há quase 7 anos… Razão de ser tudo isto que para aqui despejo.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
A alegoria electiva
«O rei é sempre o rei.» – D’Angelo (epígrafe do episódio)
D’ANGELO BARKSDALE: O que é que foi isso? A torre não se move assim. A torre só se move para cima e para baixo, e também para os lados em linha recta.
PRESTON “BODIE” BROADUS: Não, nós não estamos a jogar a isso.
WALLACE: Olha para o tabuleiro, nós estamos a jogar damas.
D’ANGELO: Damas?
WALLACE: Sim, damas.
D’ANGELO: Porque é que estão a jogar damas com peças de xadrez?
BODIE: O que tens a ver com essa merda? Meu, nós não temos damas.
D’ANGELO: Ok, mas o xadrez é um jogo melhor.
BODIE: E…
D’ANGELO: Não, esperem aí. Vocês não sabem jogar xadrez, pois não?
BODIE: E depois?
D’ANGELO: E depois nada, meu. Eu ensino-vos se vocês quiserem aprender.
BODIE: Vá lá, meu, deixa-te disso. Nós estamos a meio de um jogo.
WALLACE: Tem calma, eu quero ver isto.
D’ANGELO: Vocês não podem jogar damas num tabuleiro de xadrez.
BODIE: Ok, meu, está bem.
D’ANGELO: Vejam, estejam atentos, é simples. Estão a ver este? Este é o rei do bando. Este é o homem. Se apanhares o rei do outro gajo, ganhaste. Mas ele também vai tentar apanhar o vosso rei, por isso têm de o proteger. Agora, o rei pode andar uma casa na porra da direcção que entender, porque ele é o rei. Tipo assim, ou assim… ok? Mas ele não tem pressa nenhuma. Mas os restantes cabrões da equipa protegem-lhe as costas; e eles estão tão bem organizados, que ele não tem de fazer nada.
BODIE: É como o teu tio.
D’ANGELO: Pois, é como o meu tio… Estão a ver esta? Esta é a dama. Ela é esperta e agressiva. Ela pode andar em todas as direcções, até onde quiser. É ela que trata das merdas todas.
WALLACE: Faz-me lembrar o Stringer.
D’ANGELO: E esta aqui é a torre. Como o buraco onde o material… as drogas e a massa estão escondidas. Move-se assim e assim.
WALLACE: Não pá, o material não se mexe.
D’ANGELO: Anda, pensa. Quantas vezes é que tivemos de mudar de buraco esta semana? E sempre que mudas o material, tens de, pelo menos, mexer uns pêlos para o proteger.
BODIE: É verdade, tens razão. Ok. Então e o que são essas putinhas carecas aí?
D’ANGELO: Estes aqui? Estes são os peões. São como os soldados. Eles movem-se para a frente uma casa de cada vez, excepto quando lutam. E então movem-se assim ou assim. E eles são a linha da frente. Estão cá fora, no terreno.
WALLACE: Então como é que tu podes ser o rei?
D’ANGELO: Isso, não é assim. O rei é sempre o rei, ok? Toda a gente continua a ser o que é, excepto os peões. Agora se um peão conseguir atravessar o tabuleiro e chegar ao lado do outro gajo, ele passa a ser dama. E como já disse, a dama não é nenhuma puta. Ela controla todos os movimentos.
BODIE: Ok, então, se eu chegar ao outro lado, eu ganho?
D’ANGELO: Se apanhares o rei do outro gajo e o conseguires encurralar, só aí é que ganhas.
BODIE: Ok, mas se eu chegar ao outro lado, passo a ser o grande chefe.
D’ANGELO: Não, não é assim, vê. No jogo, os peões são rapidamente comidos. Eles saem cedo do jogo.
BODIE: A não ser que sejam uns peões matreiros como o raio.
[diálogo extraído do 3.º episódio da 1.ª temporada, “As Compras”, da inigualável série televisiva norte-americana The Wire (HBO); tradução a partir do inglês, cautelosamente suavizada por AMC, 2009.]
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
"Morrer é divertido"
A ironia final de Nabokov em 138 fichas de indexação, apresentadas na sua forma original e transcritas por Dmitri.
O livro (ou a pasta de arquivo literária) será publicado pela Knopf a 17 de Novembro próximo. Até lá, repousa no 21.º andar do edifício da Random House em Nova Iorque para consulta livre, com assinatura prévia de um documento de garantia confidencialidade absoluta pelo consultante.
«Brod em lágrimas, numa noite chuvosa, na rua dos ourives e alquimistas por baixo do castelo de Praga. Cruza-se com um livreiro muito conhecido: “Por que [sic] choras, Max?” “Acabo de saber que Franz Kafka morreu.” “Oh, lamento muito. Sei da tua estima pelo moço.” “Não compreendes. Ele ordenou-me que queimasse os seus manuscritos.” “Nesse caso terás de o fazer, pela tua honra.” “Não compreendes. Franz foi um dos maiores escritores da língua alemã.” Um momento de silêncio: “Max, tenho a solução. Por que [sic] não queimas antes os teus próprios livros?”»
In George Steiner, As Lições dos Mestres.
[Lisboa: Gradiva, 2.ª edição, Outubro de 2005, pág. 69; tradução de Rui Pires Cabral; obra original: Lessons of the Masters, 2003]
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
O mocassim perdido
Anuncio ao mundo que:
- Ainda há vida neste blogue – está em estado de hibernação intermitente;
- Havendo lido os quatro romances do autor – e, digo-o sem vergonha, O Código Da Vinci divertiu-me –, a minha vontade de ler o novo livro de Dan Brown aumentou de forma considerável só pela frase de O Símbolo Perdido que Christopher Tayler, crítico do Guardian, destacou na sua recensão [via destaque no blogue da revista Ler]:
«Este tipo fugiu à polícia francesa... em mocassins?»
[trad. AMC; lost in translation? Saio, madraçamente, de pantufas.]