sexta-feira, 10 de julho de 2009

Bellow, a indiferença e o meu pathos




A propósito de um episódio que se sucedeu comigo hoje através de e-mail, que me magoou profundamente pela "Indiferença" (grafada propositadamente com maiúscula) de uma amizade que julgava existir apesar da distância física (encurtada por estas diabólicas redes sociais), recordei-me de um dos personagens mais marcantes de Saul Bellow, Asa Leventhal, e da salutar reprimenda que um dos seus melhores amigos, Dan Harkavy, lhe deu, como se o quisesse acordar para um mundo que não se condói com as nossas pequenas emoções… sou assim, é o meu pathos, que me desculpem aqueles que o conseguirem.



(Levou algum tempo a encontrá-la… já é por demais conhecida a minha mania ou fórmula enquanto leitor: "sublinhar=profanação")



«Se não te importas, Asa, há uma coisa que quero sublinhar e ainda não percebeste. Não somos crianças. Somos homens vividos. É quase pecado ser tão inocente como tu és. Pensa. Está bem? Queres que o mundo inteiro goste de ti. Mas existem fatalmente pessoas que não gostam. Como eu gosto, por exemplo. Não te chega que algumas pessoas gostem de ti? Não aceitas o facto de que algumas pessoas nunca hão-de gostar de ti? (…) É uma questão de vida ou de morte?»
Saul Bellow, A Vítima, p. 75 
[Lisboa: Texto, 1.ª edição., Março de 2006, p. 75; tradução de Sofia Gomes; obra original: The Victim, 1947]