quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ah, o verdadeiro “Macho… Arábico”!

Aos marialvas, aos machões, aos taberneiros, ao homem português médio (afinfador polissémico), aos bigodados, aos raybanistas de aro dourado e lente esverdeada… aos palhaços.
Se vos acháveis orgulhosos pelo entupimento diário das urgências hospitalares provocado por casuais percalços físicos conjugais; se vos consideráveis como verdadeiros átilas domésticos sempre que ultrapassáveis a soleira da porta, onde jamais o bolor voltou a crescer, descarregando no ente amado a frustração e a ignomínia diárias dos mandos e desmandos dos vossos superiores, que, desgraçadas, numa ânsia feminil, vos espera com o quente manjar dos deuses servido, a alfazema da roupa lavada e a diligente geometria da cama feita, eis que surge algo que vos fará corar de inveja, pondo a nu a profundidade da vossa incompetência autoritária intramuros.
Quando lerdes as palavras que abaixo se reproduzem, agarrai-os com força, não os deixeis fugir, e pesai-os perante a tranquila preeminência e sensatez doutrinal que veio das arábias…
Ah, meu terno, alambicado e possessivo macho latino, quo vadis?

«Os homens batem mais vezes nas mulheres do que as mulheres batem nos homens. Alá criou as mulheres delicadas, frágeis, servis e macias porque elas usam mais as emoções do que usam os seus corpos. Embora o homem possa usar o açoitamento para disciplinar a mulher, ela por vezes usa as lágrimas para o disciplinar. Para os homens, as emoções das mulheres poderão ser mais violentas do que o golpe de uma espada.
Antes de bater numa mulher, repreenda-a primeiro – uma vez, duas, três, quatro ou dez vezes. Se isso não ajudar, deverá regressar ao ensinamento “recusar partilhar as suas camas.” Assim, um marido distancia-se ele próprio da mulher na cama e na conversação. Se um marido chega para comer uma refeição e a sua mulher lhe perguntar, “Como estás?” “Queres alguma coisa?” ele não deve responder. O marido não deve dormir com a sua mulher. Ele deverá dormir noutro quarto.
Se isso não ajudar, então a terceira opção do marido é a de açoitar suavemente a sua mulher de modo a não deixar uma marca. Ele não pode desfigurar a sua cara. Bater na cara é proibido. Mesmo que queira que o seu burro ou camelo caminhe mais depressa, não está autorizado a bater-lhe na cara. Se este é o comportamento correcto nos animais, ainda o é mais nos humanos. Se o marido estiver irritado com a sua mulher – se ele lhe disser, “Cuidado, a criança caiu perto do fogão,” e ela disser, “Estou atarefada” – então o marido deverá bater na sua mulher com um palito ou com algo do género*. Ele não deverá bater-lhe com uma garrafa de água, um prato ou uma faca. Repare quão delicado é um palito quando usado para bater – isto mostra-lhe que o objectivo não é o de infligir dor. Quando bate num animal, pretende que isso lhe provoque dor para que ele lhe obedeça, porque um camelo não entenderia se lhe dissesse, “Camelo, anda, mexe-te.” Um burro não entende nada mais para além dos açoitamentos, mas para uma mulher, um açoite leve transmite, “Mulher, foste longe de mais.”
Um marido não deverá bater na sua mulher como o faria a um filho, batendo-lhe a torto e a direito. Infelizmente, muitos maridos batem nas suas mulheres apenas quando ficam irritados, e quando começam a bater, eles usam ambas as mãos e algumas vezes os pés, como se estivessem a esmurrar uma parede. Lembra-te, irmão, isso é proibido; a tua mulher é um ser humano.
»
*ou talvez, com o avanço tecnológico, com fio dental [nota simplesmente desnecessária e jocoso-especulativa deste vosso tradutor].
in Harper’s, “Beat Her Like a Lady”, November, 2008, p. 29. [tradução: AMC]

Segundo a Harper’s, que atribuiu ao texto o subtítulo Etiqueta, estas palavras foram proferidas num programa televisivo transmitido no ano passado na Arábia Saudita e no Kuwait pelo clérigo Muhammad al’Arifi. Destinavam-se a aconselhar os jovens maridos na forma de tratamento das suas mulheres.

Depois de ter testemunhado a verdadeira epifania funcional do “palito”, ainda dizem que estes árabes não são civilizados...
Imaginem só se um destes homens entrasse num restaurante português e assistisse ao triste espectáculo daquelas mãos afanadas a cuspinhar a barbela, pontuada por aquele chilreio salivar interdental.

[disclaimer: este texto demonstra cabalmente o estado de espírito (se é que ele o tem) do autor deste blogue: sem paciência, rasteiro, hortero como suelen decir os meus queridos amigos espanhóis.]

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