«Como me sinto feliz por ter partido!»
J. W. Goethe, Werther
J. W. Goethe, Werther
Cento e vinte e três anos depois, Émile (para os amigos) dissertava sobre o suicídio e o surpreendente efeito de contágio da acção do seu perpetrador à sociedade – a terrível constatação da prevalência de um fenómeno que, mesmo visto de forma isolada ou individualizada já se declarava como obscuro, agora excede o limite do individual mediante a exposição da sua forte carga mimética, adquirindo, em definitivo um carácter sociológico, ou seja, assumindo-o como uma enfermidade social.
Resta-nos perceber, recorrendo a Durkheim, o que terá levado o jovem Johann Wolfgang, com apenas 25 anos (1774), a proferir, prologando num percebido tom irónico apenas consentido pela liberdade literária, o seguinte aviso:
Resta-nos perceber, recorrendo a Durkheim, o que terá levado o jovem Johann Wolfgang, com apenas 25 anos (1774), a proferir, prologando num percebido tom irónico apenas consentido pela liberdade literária, o seguinte aviso:
«E tu, ó alma sensível que sofres dos mesmos pesares: que o teu coração dolorido encontre alívio na descrição das mágoas que ele [Werther] sofreu e que este livro seja para ti um amigo, se, por impiedade da sorte, ou por tua própria culpa, te não for dado encontrar afeição mais real.»
Durkheim professava que o suicídio primitivo era, apenas, o detonador do acto do imitador, o catalisador da reacção, uma vez que a tendência de atentar contra a própria vida resultava de uma patologia preexistente, de uma predisposição, como o acordar de um gigante adormecido na nossa psique.
Antecipando em muito, e de forma mais rebuscada, o homicídio por meios audiovisuais invocado por António Oliveira em meados dos anos 90 do século XX, por ocasião da revelação do famoso “Caso Paula”, que envolveu a selecção nacional de futebol e uma empresa de serviços de aluguer de corpos femininos vivos, Goethe, ao publicar a obra referenciada, cometeu um acto quase-genocida, eventualmente doloso.
Tal é o poder da Literatura e dos seus celerados personagens, criados pela pena de um irresponsável, ou até, de um criminoso em larga escala.
Valha-nos o papel do crítico, profissional ou amador, para nos alertar para este flagelo oculto, dissimulado por essa coisa chamada arte.
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